sexta-feira, 10 de outubro de 2014

artigo do tostes



Festival da cultura dos povos indígenas no Oiapoque
Autor: José Alberto Tostes

           Um tema bastante instigante em relação aos municípios do estado do Amapá está relacionado a vocação do lugar? Inventa-se de tudo para que ocorra alguma atração econômica em uma determinada região, entretanto, sempre se esbarra na vocação do lugar. Na administração do prefeito do município de Oiapoque, Agnaldo Rocha, tive a oportunidade de dialogar em 2012 com o gestor, naquele momento, trocamos ideias sobre este tema. O prefeito relatou que estava conversando com o governador na época sobre a possibilidade de realizar na cidade de Oiapoque uma EXPO-Feira nos moldes do evento realizado em Macapá, comentei com o prefeito que não era vocação do município de Oiapoque realizar este tipo de evento.
          Naquele dialogo, percebi o quanto os gestores estão distantes de entender a realidade do lugar onde estão inseridos. Os gestores tem a clareza dos problemas existentes, porém, não tem a visão do conjunto para compreender a questão sistêmica do lugar. A ideia da EXPO-Feira era uma situação completamente artificializada e sem fundamento. O segundo momento do diálogo com o prefeito, era de estabelecer um canal mais ampliado, então, afirmei: “ porque não realizar na cidade de Oiapoque durante o segundo semestre do ano, o “Festival e cultura dos povos indígenas”, este evento poderia perfeitamente ser materializado durante um período de 10 a 15 dias, iria contribuir de forma expressiva para o desenvolvimento da região, oportunizando a geração de emprego e renda no município.
           Em de dezembro de 2013, percebi na cidade de Oiapoque que várias pessoas buscavam adquirir produtos de artesanato indígena, entretanto, não havia demanda suficiente para atender a todos. Os motivos estavam relacionados a pouca produção. O setor de artesanato no Brasil tem sido um dos segmentos que mais cresceu nos últimos anos, principalmente no Nordeste brasileiro, o número de artesãos é bem expressivo. Nesta atividade, o processo de capacitação, é aliado ao processo da cultura, do lugar, se junta à técnica com o aperfeiçoamento, o resultado é a produção de produtos bem aceitos pela população local e pelos turistas.
          O Festival dos povos indígenas proporcionaria a valorização da cultura indígena, redimensionaria um determinado período na cidade de Oiapoque, todavia, a ideia não avançou talvez o que determinou fosse à letargia que toma conta de nossos municípios, de esperar sempre pelo governo estadual ou pela União, concepção que está entranhada na cultura dos municípios. Pensando sobre a realidade do lugar, fico cada vez mais convicto, muitas teorias, dão conta de explicar a necessidade de avaliar melhor as concepções sobre a espacialidade urbana, porém falta à concepção do sobre o empreendedorismo urbano, algo incipiente, pouco se aproveita a vocação do lugar.
          A sensação é que tudo está “perdido”, quando se trata de encaminhar ações decisivas para o desenvolvimento do lugar. Na prática, estamos diante de um sistema que unifica os problemas. As soluções dadas para as adversidades são únicas, inclui: habitação, saneamento básico em geral e os procedimentos em relação às normas básicas. No caso de Oiapoque, a universidade poderá ser uma agente de mudança na mudança de atitudes e na formação de capital social.
          O que fazer para reverter esta lógica? Nas reflexões dos últimos três anos têm sido evidenciado, não haverá efetivas transformações, se a própria sociedade não conseguir alcançar os níveis de mobilização necessária. O sistema político está “contaminado”, políticos com mandatos intermináveis afetam as organizações sociais, existem presidentes de associações “eternos”, compromete a participação de novos integrantes. A ideia sobre a vocação do lugar deve ser respeitada, pois, oportuniza a matéria prima existente, aliada com todas as técnicas e recursos tecnológicos disponiveis no contexto atual.
          É difícil aceitar o fato, as cidades no estado do Amapá estão ficando iguais, niveladas e uniformizadas. A paisagem ficou monótona e todos moradores aceitam passivamente, como se isso fosse objeto apenas do acaso, e da sorte, não é não! É um estágio letárgico e nocivo, altamente prejudicial, só contribui para o grau de desinformação.
             Sobre a ideia do Festival dos povos indígenas, lembrei-me de um autor importante na América Latina, Nestor Garcia Canclini, tive a felicidade de ler um livro importante deste autor durante a trajetória do curso de doutorado, chamava-se: “Culturas Hibridas”. Canclini destaca a participação dos indígenas mexicanos no processo de transformação da cultura indígena no México. O autor cita o exemplo, dois índios migraram para os Estados Unidos, ambos tiveram a oportunidade de estudar, aprender ideias renovadoras, após 05 anos regressaram para suas origens, lá encontraram um ambiente desolador e com baixa estima de vários membros.
             Em um intervalo de tempo razoável, ambos os índios realizaram uma ampla transformação, passaram a ensinar inglês para a maioria dos demais membros, organizaram o artesanato, a cultura, e tiveram autorização para sair pelo México divulgando a cultura dos povos indígenas. Canclini descreve, seria aculturação das culturas indígenas? O mesmo responde, na realidade era readaptação dos povos indígenas a uma nova realidade, mas foi preciso que dois membros se qualificassem, mudassem a postura para convencer os demais sobre a necessidade de mudar.
            A passagem descrita no livro “Culturas Hibridas”, é um exemplo clássico, estamos diante de um mundo multicultural, com diferentes interseções e abordagens. Tudo passa pelo processo de qualificação. Portanto, respeitar a vocação do lugar, deve estar agregado aos novos conhecimentos e estratégias, é hoje algo fundamental para alavancar o desenvolvimento. Quem sabe este ponto será pensado mais adiante. Viva a real possibilidade do Festival da cultura dos povos indígenas no Oiapoque.




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