Festival da cultura dos povos indígenas no Oiapoque
Autor:
José Alberto Tostes
Um
tema bastante instigante em relação aos municípios do estado do Amapá está
relacionado a vocação do lugar? Inventa-se de tudo para que ocorra alguma atração
econômica em uma determinada região, entretanto, sempre se esbarra na vocação
do lugar. Na administração do prefeito do município de Oiapoque, Agnaldo Rocha,
tive a oportunidade de dialogar em 2012 com o gestor, naquele momento, trocamos
ideias sobre este tema. O prefeito relatou que estava conversando com o
governador na época sobre a possibilidade de realizar na cidade de Oiapoque uma
EXPO-Feira nos moldes do evento realizado em Macapá, comentei com o prefeito
que não era vocação do município de Oiapoque realizar este tipo de evento.
Naquele
dialogo, percebi o quanto os gestores estão distantes de entender a realidade
do lugar onde estão inseridos. Os gestores tem a clareza dos problemas
existentes, porém, não tem a visão do conjunto para compreender a questão sistêmica
do lugar. A ideia da EXPO-Feira era uma situação completamente artificializada
e sem fundamento. O segundo momento do diálogo com o prefeito, era de
estabelecer um canal mais ampliado, então, afirmei: “ porque não realizar na
cidade de Oiapoque durante o segundo semestre do ano, o “Festival e cultura dos
povos indígenas”, este evento poderia perfeitamente ser materializado durante
um período de 10 a 15 dias, iria contribuir de forma expressiva para o desenvolvimento
da região, oportunizando a geração de emprego e renda no município.
Em de
dezembro de 2013, percebi na cidade de Oiapoque que várias pessoas buscavam
adquirir produtos de artesanato indígena, entretanto, não havia demanda
suficiente para atender a todos. Os motivos estavam relacionados a pouca
produção. O setor de artesanato no Brasil tem sido um dos segmentos que mais
cresceu nos últimos anos, principalmente no Nordeste brasileiro, o número de
artesãos é bem expressivo. Nesta atividade, o processo de capacitação, é aliado
ao processo da cultura, do lugar, se junta à técnica com o aperfeiçoamento, o
resultado é a produção de produtos bem aceitos pela população local e pelos
turistas.
O Festival
dos povos indígenas proporcionaria a valorização da cultura indígena, redimensionaria
um determinado período na cidade de Oiapoque, todavia, a ideia não avançou
talvez o que determinou fosse à letargia que toma conta de nossos municípios,
de esperar sempre pelo governo estadual ou pela União, concepção que está
entranhada na cultura dos municípios. Pensando sobre a realidade do lugar, fico
cada vez mais convicto, muitas teorias, dão conta de explicar a necessidade de
avaliar melhor as concepções sobre a espacialidade urbana, porém falta à
concepção do sobre o empreendedorismo urbano, algo incipiente, pouco se
aproveita a vocação do lugar.
A
sensação é que tudo está “perdido”, quando se trata de encaminhar ações decisivas
para o desenvolvimento do lugar. Na prática, estamos diante de um sistema que
unifica os problemas. As soluções dadas para as adversidades são únicas, inclui:
habitação, saneamento básico em geral e os procedimentos em relação às normas
básicas. No caso de Oiapoque, a universidade poderá ser uma agente de mudança
na mudança de atitudes e na formação de capital social.
O que
fazer para reverter esta lógica? Nas reflexões dos últimos três anos têm sido
evidenciado, não haverá efetivas transformações, se a própria sociedade não
conseguir alcançar os níveis de mobilização necessária. O sistema político está
“contaminado”, políticos com mandatos intermináveis afetam as organizações
sociais, existem presidentes de associações “eternos”, compromete a
participação de novos integrantes. A ideia sobre a vocação do lugar deve ser
respeitada, pois, oportuniza a matéria prima existente, aliada com todas as
técnicas e recursos tecnológicos disponiveis no contexto atual.
É
difícil aceitar o fato, as cidades no estado do Amapá estão ficando iguais,
niveladas e uniformizadas. A paisagem ficou monótona e todos moradores aceitam
passivamente, como se isso fosse objeto apenas do acaso, e da sorte, não é não!
É um estágio letárgico e nocivo, altamente prejudicial, só contribui para o
grau de desinformação.
Sobre a ideia do Festival dos povos indígenas, lembrei-me de um autor
importante na América Latina, Nestor Garcia Canclini, tive a felicidade de ler
um livro importante deste autor durante a trajetória do curso de doutorado,
chamava-se: “Culturas Hibridas”. Canclini destaca a participação dos indígenas
mexicanos no processo de transformação da cultura indígena no México. O autor
cita o exemplo, dois índios migraram para os Estados Unidos, ambos tiveram a
oportunidade de estudar, aprender ideias renovadoras, após 05 anos regressaram
para suas origens, lá encontraram um ambiente desolador e com baixa estima de
vários membros.
Em
um intervalo de tempo razoável, ambos os índios realizaram uma ampla
transformação, passaram a ensinar inglês para a maioria dos demais membros,
organizaram o artesanato, a cultura, e tiveram autorização para sair pelo
México divulgando a cultura dos povos indígenas. Canclini descreve, seria
aculturação das culturas indígenas? O mesmo responde, na realidade era
readaptação dos povos indígenas a uma nova realidade, mas foi preciso que dois
membros se qualificassem, mudassem a postura para convencer os demais sobre a
necessidade de mudar.
A passagem
descrita no livro “Culturas Hibridas”, é um exemplo clássico, estamos diante de
um mundo multicultural, com diferentes interseções e abordagens. Tudo passa
pelo processo de qualificação. Portanto, respeitar a vocação do lugar, deve
estar agregado aos novos conhecimentos e estratégias, é hoje algo fundamental
para alavancar o desenvolvimento. Quem sabe este ponto será pensado mais
adiante. Viva a real possibilidade do Festival da cultura dos povos indígenas
no Oiapoque.
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