quinta-feira, 23 de outubro de 2014

ARTIGO SOBRE O CANCER




A MORTE MATA, MAS OS MORTOS NÃO MORREM.
c-bernardo2012@bol.com.br

Fim de um governo inicio de outro, afloram as “sensibilidades”. Com os nervos à flor da pele as pessoas ouvem o que não foi dito, leem o que não foi escrito ou por outra, querem ouvir ou ler alguma coisa que em fim as satisfaça. Fim de um governo inicio de outro significa dizer período eleitoral, campanha eleitoral.
Na edição anterior desse Jornal Tribuna Amapaense escrevi uma resposta ao jornalista, e fui direto à “sensibilidade” de pessoas aflitas com o andar da campanha eleitoral: politizaram o que eu disse. Ao ensejo, é preciso dizer mais.
Ciência, tecnologia, ambientação, medicina, vida e morte são, filosoficamente, lados de uma mesma moeda: saúde publica. Politicamente também podem ser lados dessa moeda.
A vida, essa que começa se desenvolve e termina, dela não há espaço para falar – os poetas são seus melhores arautos. Mas é a face da morte repentina que suscita a discussão politica e, ao mesmo tempo, filosófica. Morre-se de morte repentina e de morte matada – aqui começa a discussão que de fato interessa ao Amapá, especialmente aos de câncer.
A ciência, a medicina e a tecnologia avançaram bastante no Amapá, e foi tanto que quase não se ouve mais falar em morte repentina por causas naturais em Macapá – os enfartos, aneurismas e quetais tem sido amenizados pela ciência, pela medicina e pela tecnologia que boa parte dos nossos médicos dominam e praticam. Só não é mais porque em nada melhorou o ambiente hospitalar publico aonde o ato médico se realize.
A morte repentina é, também, a que mais dói nos que ficam porque surpreende a vitima e plena atividade. Se o morto é luminoso fica, cresce no coração e nas recordações de quem o amava. Todavia o viés politico da morte repentina está também nas mãos da população, vez que parte dela parece se divertir desafiando a morte nas ruas, nas boates, ultimamente em qualquer lugar. Esse pedaço da população morre no transito, morre de overdose, morre a tiros e facadas. Sobre isso me dizia sempre o inesquecível jornalista Bonfim Salgado: “é uma gente incivilizada”.
Ora, não digo isso apenas para justificar uma das afirmações que fiz anteriormente, na edição passada desse jornal. O momento é politico por excelência, portanto, assim digo para suscitar nos políticos um pouco mais de compreensão para o que seja saúde publica. Com visão mais alargada sobre essa nossa maior necessidade se chagará, quem sabe, a um novo bom Secretário de Estado da Saúde. Não há melhor caminho para “correr atrás” um pouco mais rápido desse enorme tempo perdido.
Muito dinheiro em mãos erradas é apenas agravar o erro que tem sido a saúde publica no Amapá. A agravá-la ainda mais existe a porta larga da internet: fala-se de tudo, mostra-se tudo, sabe-se de tudo.
Há filas de milhares de pacientes para quase todas as especialidades. Há emergências apinhadas com doentes, muitos em estado grave – mau atendimento em todos os hospitais públicos do estado prova que é impossível alcançar eficiência com desculpas esfarrapadas e burocracia excessiva que tem caracterizado a funcionalidade do sistema SESA.
Um exemplo dos mais duros: a oncologia amapaense é agravada pela disfuncionalidade local e pela rigidez das decisões do governo federal, por sua vez lento demais.
A visão até agora predominante no Amapá que mostra autoridades do setor circunscrevendo a saúde publica a reforma e ampliação predial é distorcida de cima a baixo, admitindo-se que ciência, tecnologia, medicina e também a investigação cientifica, vida e morte não se dissociam.
Então fiquemos assim: fora da religião ninguém sabe da morte; não se compartilha a morte, morte repentina é razão direta do infortúnio e da tragédia, morte matada é crônica da própria vida.
Ousadia, muita ousadia será necessária a que venhamos a perceber algum toque de Midas na saúde publica amapaense, onde, hoje, a morte mata, mas os mortos não morrem.

César Bernardo de Souza é portador de câncer.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

ARTIGO DO GATO - Amapá no protagonismo

 Amapá no protagonismo Por Roberto Gato  Desde sua criação em 1988, o Amapá nunca esteve tão bem colocado no cenário político nacional. Arri...