Câncer: o monstro do horror e a
escolha de não ser cúmplice
Pª Paulo
Roberto Matias
Sacerdote
e presidente do IJOMA
Para quem já sofre todas as angústias que acompanham o diagnóstico de câncer, não ter acesso ao tratamento que pode significar a cura ou vê-lo ser postergado dia após dia por falta de medicamento é um sofrimento a mais.
Está mais
que comprovado que o estado emocional do paciente influencia diretamente no
resultado do tratamento da doença. Obrigados a voltar para casa repetidas vezes
quando teriam que receber a quimioterapia, portadores de câncer não somente
deixam de controlar a doença com a aplicação do procedimento como também se
ressentem do efeito do estado psicológico que essa situação provoca.
Todos os descasos e negligências do Estado têm repercussões negativas na sociedade, mas, nesse caso, o tempo atua contra os portadores de câncer. Se o paciente não faz a sessão de quimioterapia a cada 21 dias, como é preconizado, o processo de cura da doença pode regredir. Obviamente que esse intervalo entre as sessões não é aleatório. Submeter-se a uma quimioterapia, por si só, é doloroso. Deixar se perderem os efeitos do procedimento por qualquer motivo é covardia com os pacientes.
Todos os descasos e negligências do Estado têm repercussões negativas na sociedade, mas, nesse caso, o tempo atua contra os portadores de câncer. Se o paciente não faz a sessão de quimioterapia a cada 21 dias, como é preconizado, o processo de cura da doença pode regredir. Obviamente que esse intervalo entre as sessões não é aleatório. Submeter-se a uma quimioterapia, por si só, é doloroso. Deixar se perderem os efeitos do procedimento por qualquer motivo é covardia com os pacientes.
Muitas pessoas que vivem essa realidade temem denunciar com medo de sofrer retaliação e serem impedidos de tratar a doença. Na maioria dos casos, são pessoas simples, que mal conhecem seus direitos e não sabem a quem recorrer quando eles são desrespeitados. Calam-se e se tornam vítimas do câncer e do descaso de quem cuida de portadores de câncer e outras doenças cujos tratamentos custam caro. Descaso que muitas vezes dói mais que o próprio câncer.
Ao longo do nosso trabalho vimos escassez de tudo, doenças crônicas proliferam, médicos não cumprem jornada, acúmulo de cargos e postos vazios, desvios de função, corrupção, desvios de verbas, superfaturamentos, fraudes, infraestrutura precária, medicamentos vencidos e mal armazenados.
Aqui no
Amapá os dezesseis municípios vivem uma crise sem precedente. Municípios que
foram criados sem as mínimas exigências legais. Para agravar o estado de caos,
todos os dias, ribeirinhos do vizinho Estado do Pará chegam a Macapá em busca
de tratamento. O Amapá cresceu e a estrutura que ampara os doentes continua a
mesma de vinte anos atrás.
Neste contexto, entendemos como fundamental a potencialização de estratégias entre as Secretárias de todos os municípios do Estado. Que aja também estratégias conjuntas entre saúde, assistência social, direitos humanos e demais políticas sociais, visando a garantia do acesso do cidadão que precisa usar o serviço público de saúde.
Assim se expressou a equipe do hospital de Barretos quando da visita a Macapá:
“As manchetes dos jornais, relatando que a saúde não tem estrutura para cumprir a lei do câncer no Amapá, as decisões na Justiça, dando conta de que nem mesmo a unidade de oncologia no Hospital Geral da Capital amapaense pode continuar de portas abertas, e o drama vivido por dezenas e dezenas de pacientes que nem mesmo tem um leito hospitalar para ficar, sendo obrigados a esperar a morte chegar em casa, são o pano de fundo para um cenário que não tem a menor graça.
É drama da vida real mesmo. E é evidente que o Brasil ainda não viu isso. Que o Governo Federal não sabe de tamanha desgraça. Que os responsáveis pelo SUS não identificaram ainda a profundidade que o problema alcançou. Pois se eles já sabem e nada fizeram, estamos vivendo no pior dos mundos.
Basta entrar nos hospitais e unidades públicas de saúde, tirar algumas fotos, ouvir algumas pessoas, para sentir a dor e chorar junto. A não ser que o interlocutor não tenha coração. Como parece ser o caso de muitos que deixaram o tempo correr sem nada fazer.
O IJOMA
nasceu no dia 21 de abril de 2010 e ao longo desses quatro anos e meio foi
suporte aos doentes de câncer quando o estado foi incapaz de cumprir com o seu
papel constitucional. O IJOMA foi um clamor popular e não resta dúvida de que
esse clamor popular reivindica, antes de qualquer coisa, um canal político que,
no entanto, não se encontrou ao longo da sua história.
Acumula-se a indignação, a raiva e o desespero. Muita energia à procura de um procedimento para se converter em alguma realidade capaz de mudar esse panorama de pesadelo que é o tratamento de câncer no Amapá. A sociedade tem tentado. Não sabemos o que ocorrerá com estas iniciativas ou com outras semelhantes. O IJOMA continuará ao lado do povo que sofre.
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