quinta-feira, 23 de outubro de 2014

EDITORIAL

O poder, o sábio e o tolo


“O poder é uma serpente de 20 quilômetros capaz de te quebrar os ossos ou dar a você tudo que quiseres, basta a olhar nos olhos sem medo”. Com esta frase o poeta americano Jim Morrison, letrista e crooner de uma das mais irreverentes e revolucionárias bandas do fim dos anos 60, o The Doors, referiu-se a este elemento tão cobiçado pelos homens. Há quem o chame de um dos deuses da vivência (claro que assim em “d” minúsculo). Existem também os que o comparam a uma mulher nova, linda, carinhosa e sedenta de desejos, capaz de inebriar e enlouquecer os pensamentos mais racionais e reduzi-los a pó. E ainda os que comparam o tal e tão temido poder a uma bebida agradavelmente doce onde não se consegue parar no primeiro copo, muito menos no segundo ou no terceiro, para se dar conta da embriaguez total quando já é tarde.
A verdade é que maioria dos homens não estão preparados para lhe dar com ele, o poder. Sua luz é tão forte que ofusca os fracos e aqueles que se arvoram em fita-lo deslumbrados com sua força. E é aí, exatamente aí, que está a diferença entre sábios e tolos. O sábio se utiliza desta mesma luz que cega, para iluminar seu caminho e mostra-lo a quem vem depois ou está ao lado. Já o tolo ficou cego e não consegue mais ir a lugar algum passando a tatear em busca de algo que lhe apoie sem encontrar absolutamente nada.
É exatamente desta forma que podemos contemplar o homem que recebeu a competência de administrar nosso Estado e tão cedo se mostrou incompetente para tal função. A falta de experiência misturou-se à arrogância logo no primeiro contato dele com o poder. Foi nesse momento que o brilho intenso desta gema rara e cobiçada o atingiu em cheio na retina. Deslumbrado com a sensação de segurar tão preciosa joia nas mãos, esqueceu de olhar ao redor e passou a somente ter olhos para a tal pedra luminosa. Quanto mais apaixonado por ela, se fazia maior sua cegueira. Completamente ofuscado e já na condição de tolo, começou a tatear por não ver mais nada. Mas nem assim buscou algo para se apoiar munido na presunção de que conseguiria caminhar sozinho com sua cegueira e obsessão.
Grande engano. Sem visão, não viu em nenhum momento que neste mundo a velha e certa lei da ação e reação é uma certeza. Esquecido do propósito do qual foi incumbido não importou-se mais com nada além de seu próprio mundo. Cercado de pajens bajuladores igualmente cegos e incapazes de alerta-lo sobre o precipício à frente o deixaram seguir em frente e ele caiu despencando de uma altura sem igual, do mais alto topo.

E seus conselheiros, não impediram a queda? Ora, eram mais tolos que ele próprio e já estavam cegos há muito mais tempo e também embebedados e seduzidos. E o povo que o colocou no trono? Ah, este observou tudo de olhos bem abertos e viu o dia a dia daquela transmutação onde o homem que um dia os convenceu do apoio, metamorfoseou-se em um criatura cega e surda, capaz de falar sim, mas somente sua própria opinião.     

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ARTIGO DO GATO - Amapá no protagonismo

 Amapá no protagonismo Por Roberto Gato  Desde sua criação em 1988, o Amapá nunca esteve tão bem colocado no cenário político nacional. Arri...