O
poder, o sábio e o tolo
“O
poder é uma serpente de 20 quilômetros capaz de te quebrar os ossos ou dar a
você tudo que quiseres, basta a olhar nos olhos sem medo”. Com esta frase o
poeta americano Jim Morrison, letrista e crooner de uma das mais irreverentes e
revolucionárias bandas do fim dos anos 60, o The Doors, referiu-se a este
elemento tão cobiçado pelos homens. Há quem o chame de um dos deuses da
vivência (claro que assim em “d” minúsculo). Existem também os que o comparam a
uma mulher nova, linda, carinhosa e sedenta de desejos, capaz de inebriar e
enlouquecer os pensamentos mais racionais e reduzi-los a pó. E ainda os que
comparam o tal e tão temido poder a uma bebida agradavelmente doce onde não se
consegue parar no primeiro copo, muito menos no segundo ou no terceiro, para se
dar conta da embriaguez total quando já é tarde.
A
verdade é que maioria dos homens não estão preparados para lhe dar com ele, o
poder. Sua luz é tão forte que ofusca os fracos e aqueles que se arvoram em
fita-lo deslumbrados com sua força. E é aí, exatamente aí, que está a diferença
entre sábios e tolos. O sábio se utiliza desta mesma luz que cega, para
iluminar seu caminho e mostra-lo a quem vem depois ou está ao lado. Já o tolo
ficou cego e não consegue mais ir a lugar algum passando a tatear em busca de
algo que lhe apoie sem encontrar absolutamente nada.
É
exatamente desta forma que podemos contemplar o homem que recebeu a competência
de administrar nosso Estado e tão cedo se mostrou incompetente para tal função.
A falta de experiência misturou-se à arrogância logo no primeiro contato dele
com o poder. Foi nesse momento que o brilho intenso desta gema rara e cobiçada
o atingiu em cheio na retina. Deslumbrado com a sensação de segurar tão
preciosa joia nas mãos, esqueceu de olhar ao redor e passou a somente ter olhos
para a tal pedra luminosa. Quanto mais apaixonado por ela, se fazia maior sua
cegueira. Completamente ofuscado e já na condição de tolo, começou a tatear por
não ver mais nada. Mas nem assim buscou algo para se apoiar munido na presunção
de que conseguiria caminhar sozinho com sua cegueira e obsessão.
Grande
engano. Sem visão, não viu em nenhum momento que neste mundo a velha e certa
lei da ação e reação é uma certeza. Esquecido do propósito do qual foi
incumbido não importou-se mais com nada além de seu próprio mundo. Cercado de
pajens bajuladores igualmente cegos e incapazes de alerta-lo sobre o precipício
à frente o deixaram seguir em frente e ele caiu despencando de uma altura sem igual,
do mais alto topo.
E
seus conselheiros, não impediram a queda? Ora, eram mais tolos que ele próprio
e já estavam cegos há muito mais tempo e também embebedados e seduzidos. E o
povo que o colocou no trono? Ah, este observou tudo de olhos bem abertos e viu
o dia a dia daquela transmutação onde o homem que um dia os convenceu do apoio,
metamorfoseou-se em um criatura cega e surda, capaz de falar sim, mas somente
sua própria opinião.
Nenhum comentário:
Postar um comentário