sexta-feira, 28 de novembro de 2014

EDITORIAL



Entre grãos, cortes e futuro

O Amapá experimenta problemas com terras não é de hoje. Já foi noticiado como sendo o Estado com a área verde mais preservada do País e por conta disso, cobiçada. As áreas de preservação entram neste hall e são defendidas por ambientalistas no mesmo passo da cobiça das madeireiras.
O governo que sai tem aproveitado o apagar das luzes para fazer o que não fez em quatro anos de gestão. No começo da semana, assinou o edital de concessão para colocar parte de terras da floresta do Amapá nas mãos de grandes empresas. Por quarenta anos o Estado não terá qualquer gerência sobre tais áreas, muito embora tenha colocado entre as cláusulas, a recomposição da floresta derrubada.
Para os ambientalistas, desmatamento é desmatamento. E para os que moram há décadas nestas áreas cobiçadas, a preocupação é ainda maior. É que eles correm o risco de perder a terra na qual residem e trabalham. Inicialmente está sendo dito que os primeiros lotes não possuem moradia. A pergunta é, e os futuros? Qual será o comportamento da próxima gestão com relação ao assunto?
A Assembleia Legislativa criticou duramente as intenções do governo no decorrer do ano, assim como a Justiça Federal. No entanto, a assinatura do edital revela ao menos em tese que as arestas foram aparadas, caso contrário a atual gestão estaria ignorando determinações e dissonâncias, aliás, coisa que fez ao longo do mandato.
O problema é que tudo no Amapá é problema, quando deveria ser solução. Neste mesmo bojo, a soja aparece como segundo ato. A cultura destes grãos com destaque no Centro Oeste do Brasil encontrou o caminho do Norte tendo o atrativo da terra barata.
Os produtores se confessaram surpreendidos com o preço do hectare, principalmente no Amapá onde a medida é mais barata. O que faltam são incentivos a exemplo do Pará. Mesmo assim, os empreendedores apostam nas terras de cá e no escoamento pelo Porto de Santana, com sua estrutura caduca e pouco melhorada desde os tempos áureos da Icomi.
Projeções feitas pela Embrapa com relação ao aumento de safra e faturamento são as melhores possíveis em um espaço de tempo de duas décadas. O que fazer então? Melhorar a estrutura para que estes investimentos ganhem mais corpo e tornem o Amapá um destaque nacional na produção de soja? Alguns dizem que sim. Outros dizem que não.
Mas todos concordam que o Estado precisa sair do modelo econômico no qual vive há décadas, desde quando Janari Nunes desfilava seu terno branco montado a cavalo ou em exuberante carro preto pelas ruas de chão batido da Macapá e do Amapá de ontem. É preciso desviar os olhos da foto amarela que congelou o tempo na moldura. O tempo que passa nos esquadros da janela, revela o futuro veloz e dinâmico, onde o passado fica infinitamente mais distante em uma fração de milésimos.

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