Depois da “farra dos
alugueis”, prefeitura de Clécio Luís se vê envolvida no escândalo do Bolsa
Família que levou secretárias para a cadeia
Um dos carros chefe
criado pelo Partido dos Trabalhadores para garantir a reeleição de nomes como
Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff foi alvo de investigação da Polícia
Federal do Amapá. Depois de uma semana da Operação Limos, que cumpriu mandados
de busca e apreensão em repartições da Prefeitura de Macapá e de prisão em
residências, a repercussão ainda é grande. O foco dos federais foi supostas
irregularidades no programa Bolsa Família, benefício pago a pessoas de baixa
renda.
Cerca de oitocentas a
mil famílias teriam sido colocadas no programa nos últimos meses do ano passado
de forma irregular. Os cadastros foram feitos pela Secretaria de Assistência
Social e do Trabalho (Semast). Ao todo, a operação expediu três mandados de
prisão temporária, seis de condução coercitiva e nove de afastamento de função
pública. Em termos de prejuízo, a polícia estimou que o programa teria nada
menos que R$ 1,7 milhão. O pagamento começaria a partir de fevereiro.
As investigações
levaram ao nome de duas secretárias do município e funcionários. Todos devem
responder por inserção de dados falsos em sistema de informação, falsificação
de documento público, peculato, corrupção passiva, ativa, prevaricação,
falsidade ideológica e organização criminosa. Se condenados, podem pegar até 66
anos de cadeia.
A operação da Polícia
Federal respingou diretamente para cima do PSOL do prefeito Clécio Luís. O
contra ataque foi imediato durante coletiva no Palácio Laurindo Banha. Nela, o
gestor municipal tratou de tentar amenizar o foco da opinião pública, tanto de
cima dele, quanto do próprio partido, que já vem abalado pela falta de ações
desde 2013, quando assumiu o município.
Na fala de Clécio, ele
afirmou não conhecer a secretária de sua própria gestão. O prefeito optou pela
estratégia do “eu não sabia de nada”. Disse também desconhecer que Eliane
Gonçalves, Secretária de Assistência Social e Trabalho seja filiada ao PSOL.
Clécio, no entanto, demonstrou insegurança ao responder se tinha conhecimento
do esquema desmontado pela Polícia Federal na Semast.
EM CAMPANHA
Na tarde da “Operação
Limos”, a Polícia Federal divulgou oficialmente uma informação que serviria
para instigar conclusões no mínimo coincidentes entre a inclusão de famílias no
programa federal e a época em que isso aconteceu. O período precede as eleições
para o governo do Amapá em 2014, onde Clécio Luís apoiava dedicadamente o
candidato do PSB Camilo Capiberibe, que buscava a reeleição. O número de
famílias inseridas divulgado pela PF seria o mesmo a aparecer em levantamento
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que contabilizou aumento de
beneficiários no mesmo período assinalado nas investigações. Segundo o IBGE, de
oitocentas a mil novas famílias apareceram nas listas do Bolsa Família em 2014,
apesar da proibição da Justiça Eleitoral.
A utilização do
programa como moeda de troca por votos para beneficiar o candidato apoiado pelo
prefeito é negada, no entanto, os números do Instituto são os mesmos revelados
pela PF. As investigações prosseguem até que o inquérito seja fechado e
transformado em processo. O segredo de Justiça é a ordem para impedir o
vazamento de informações.
DELAÇÃO PREMIADA
O principal nome da
Operação Limos foi o da secretária da Semast Eliane Gonçalves. Presa, ela teria
entrado em acordo com os federais para se livrar da cadeia por meio da delação
premiada, onde o acusado fala o que sabe em troca de amenizar a pena pelo
crime. Eliane chegou a ser levada para o Instituto de Administração
Penitenciária – Iapen -, de onde foi liberada nos dias que se seguiram à
operação. No entanto, o depoimento que deu a partir da delação teria sido
bombástico. A secretária, hoje afastada das funções, teria dado os nomes de
quem participou do suposto esquema e se beneficiou disso.
Tudo funcionava com o
direcionamento de bilhetes entregues a pessoas que seriam inseridas no
programa. Os papeis eram assinados e carimbados pelos membros da suposta
quadrilha. Os bilhetes seriam senhas de cadastramento. Com a entrega haveria a
inserção.
Outro detalhe, é de que
as famílias que recebiam as senhas entrariam no programa sem qualquer
fiscalização que é determinada por lei e pelas próprias normas do programa
federal. As pessoas também não preencheriam os formulários obrigatórios criados
pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que gerencia o
Bolsa Família.
COTA PESSOAL
Secretária presa pela PF seria cota pessoal de Randolfe Rodrigues na Prefeitura |
Uma outra revelação
surgida em meio ao escândalo que pegou a gestão de Clécio Luís pelo pé diz
respeito ao ingresso de Eliane Gonçalves em uma pasta do primeiro escalão na
administração municipal do PSOL. Ela seria da cota de indicações pessoais do
senador Randolfe Rodrigues, homem forte dentro da prefeitura. Enquanto o
prefeito Clécio declarava que sequer conhecia a secretária nomeada por ele,
Rodrigues optou tão somente pelo silêncio. O Amapá é hoje um dos Estados que
aumentou o percentual de beneficiados pelo Bolsa Família. Muito embora o
aumento nos últimos meses tenha origem duvidosa. Clécio e Randolfe, que tentam
passar a imagem de bons moços, mais uma vez estão no olho do furacão” com um
escândalo gigantesco envolvendo um programa social criado para reduzir os
índices de miséria no País. Ambos, recentemente deixaram dúvidas sobre o
envolvimento em outras situações. Uma delas intitulada a “farra dos alugueis”
levantou dúvidas sobre contratos de locação de veículos e prédios públicos
feitos pelo prefeito. Já o senador Randolfe Rodrigues foi o personagem
principal de um suposto esquema de recebimento de propina na época em que era
deputado estadual no Amapá. Na denúncia contra ele, foram anexados recibos
pagos pelo então governador João Capiberibe. Rodrigues conseguiu o arquivamento
do processo, mesmo com laudos do renomado perito Ricardo Molina comprovando a
autenticidade da assinatura dele nos recibos. Depois disso passou a processar
jornalistas que investigavam o assunto. Mesma prática adotada por Capiberibe,
que também enfrentava denúncias na época.
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