Arley J. S. da Costa
Professor de Psicologia
UFF - Universidade Federal Fluminense
PUVR - Pólo Universitário de Volta Redonda
(21) 980256523
arleyunifap@gmail.com
http://arleycosta.wordpress.com
http://facebook.com.br/arleycosta1
The Big Bang Theory e o Behaviorismo Parte 1
A série The Big Bang Theory, no episódio The Gothowitz
Deviation (3º episódio da 3ª temporada – ver compacto em
http://bit.ly/1GhIqtL), inseriu em sua temática elementos da ciência denominada
Análise do Comportamento (AC), mais conhecida por sua filosofia da ciência, o
Behaviorismo (Comportamentalismo). A AC busca compreender por que nos
comportamos da forma como o fazemos e para isso estuda “qualquer condição ou
evento que tenha algum efeito demonstrável sobre o comportamento” (Skinner,
2007, p. 24).
O corpo teórico da AC inclui conceitos como comportamento
respondente e operante, reforço, punição, extinção, discriminação,
generalização, modelagem, encadeamento, controle de estímulos e comportamento
verbal. A partir desses e outros conceitos, o Behaviorismo estuda o indivíduo e
questões como autocontrole, pensamento e o eu, comportamento social,
importância do grupo e agências controladoras como governo, religião,
psicoterapia, economia e educação, bem como aspectos de ordem cultural.
A comédia The Big Bang Theory nos brinda com a oportunidade
de vislumbrar alguns desses conceitos em ação. No episódio, vemos Sheldon
reforçando os comportamentos aceitáveis de Penny com chocolate (reforço
positivo) para que ela volte a exibi-los posteriormente. Ele reforça os
comportamentos de remover a louça suja da sala (0:02 min), a sair de seu
assento predileto (0:15 min), não gargalhar (0:27 min) ou tagarelar (0:35 min),
entre outros. Quando Leonard o contesta, Sheldon utiliza spray de água sobre o
rosto do amigo como punição positiva (2:33 min). Óbvio que essa é uma
ilustração caricata, embora instrutiva, dos conceitos defendidos pela AC que
não servem apenas para fazer alguém pular na piscina como uma bola de praia no nariz,
como propõe Sheldon (1:53 min), mas para estabelecer uma infinidade de
comportamentos.
Contudo, podemos aprender sobre esses mecanismos de forma não
caricata observando o mesmo episódio. Quando Leonard contesta Sheldon (1:30
min), reclamando de seu comportamento e usando expressões de desagrado, ele
está apresentando estimulações aversivas sociais em resposta ao comportamento
de Sheldon. As ações de Leonard podem ser entendidas como punição positiva se
reduzem a probabilidade de ocorrência do comportamento de Sheldon pela
apresentação de estimulação aversiva (discordância, confronto, caretas e
agitação). Outro exemplo, agora de reforço positivo, pode ser visto quando
Penny convence Leonard a ir para sua casa montar a cama que havia chegado (4:20
min) usando como reforçador a possibilidade de estarem na casa dela e fazer
sexo sem a necessidade de ficarem quietos. A mera possibilidade é, em si mesma,
reforçadora na medida em que está vinculada aos eventos na história do
indivíduo em que promessas de reforço no futuro, apresentadas como
possibilidades, foram efetivamente seguidas de liberação de reforço (funciona,
portanto, como reforçador condicionado). Se atentarmos para todos os diálogos
do episódio, veremos que há ainda muitos outros exemplos de punição positiva
como a careta que Sheldon faz quando Penny atende ao telefone (0:48 min) e de
reforço positivo quando ele fala “Obrigado! Que gentileza!” em retribuição à
remoção da louça suja (0:03 min).
É bom ressaltar que o controle não ocorre apenas em uma direção
e que, portanto, somos todos permanentemente controladores e controlados. Toda
vez que Penny agradece ao chocolate ofertado com um “Obrigado!”, ela está
reforçando e, assim, controlando, o comportamento de Sheldon. Notamos que os
“pretensos controlados” também controlam o “pretenso controlador” quando
comparamos o comportamento de Penny com o de Leonard, que rejeita a mesma
oferta de chocolate com um “Não, eu não quero!” (1:25 min). A diferença das
respostas de Penny e Leonard promovem diferentes comportamentos em Sheldon.
Embora permaneça oferecendo chocolate à loira, ele para de ofertar o chocolate
e passa a tentar modificar o comportamento do companheiro por meio de
argumentações verbais. Ou seja, embora Sheldon tenha colocado a si como
controlador, seu comportamento está, também, sob o controle de seus amigos.
Reforçado por Penny, continua a ofertar o chocolate, punido por Leonard, muda
de comportamento. Por isso Skinner sempre deixou claro que a melhor forma de
contracontrole é fazer com que todos sejam capazes de perceber as estratégias
de controle que estão vigentes. A solução não passa por mascarar ou negar a
existência de controle, mas de reconhecê-lo e buscar mecanismos de
contracontrole.
Nenhum comentário:
Postar um comentário