sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

ENTRELINHAS



Arley J. S. da Costa
Professor de Psicologia
UFF - Universidade Federal Fluminense
PUVR - Pólo Universitário de Volta Redonda
(21) 980256523
arleyunifap@gmail.com
http://arleycosta.wordpress.com

http://facebook.com.br/arleycosta1



The Big Bang Theory e o Behaviorismo Parte 1



A série The Big Bang Theory, no episódio The Gothowitz Deviation (3º episódio da 3ª temporada – ver compacto em http://bit.ly/1GhIqtL), inseriu em sua temática elementos da ciência denominada Análise do Comportamento (AC), mais conhecida por sua filosofia da ciência, o Behaviorismo (Comportamentalismo). A AC busca compreender por que nos comportamos da forma como o fazemos e para isso estuda “qualquer condição ou evento que tenha algum efeito demonstrável sobre o comportamento” (Skinner, 2007, p. 24).
O corpo teórico da AC inclui conceitos como comportamento respondente e operante, reforço, punição, extinção, discriminação, generalização, modelagem, encadeamento, controle de estímulos e comportamento verbal. A partir desses e outros conceitos, o Behaviorismo estuda o indivíduo e questões como autocontrole, pensamento e o eu, comportamento social, importância do grupo e agências controladoras como governo, religião, psicoterapia, economia e educação, bem como aspectos de ordem cultural.
A comédia The Big Bang Theory nos brinda com a oportunidade de vislumbrar alguns desses conceitos em ação. No episódio, vemos Sheldon reforçando os comportamentos aceitáveis de Penny com chocolate (reforço positivo) para que ela volte a exibi-los posteriormente. Ele reforça os comportamentos de remover a louça suja da sala (0:02 min), a sair de seu assento predileto (0:15 min), não gargalhar (0:27 min) ou tagarelar (0:35 min), entre outros. Quando Leonard o contesta, Sheldon utiliza spray de água sobre o rosto do amigo como punição positiva (2:33 min). Óbvio que essa é uma ilustração caricata, embora instrutiva, dos conceitos defendidos pela AC que não servem apenas para fazer alguém pular na piscina como uma bola de praia no nariz, como propõe Sheldon (1:53 min), mas para estabelecer uma infinidade de comportamentos.
Contudo, podemos aprender sobre esses mecanismos de forma não caricata observando o mesmo episódio. Quando Leonard contesta Sheldon (1:30 min), reclamando de seu comportamento e usando expressões de desagrado, ele está apresentando estimulações aversivas sociais em resposta ao comportamento de Sheldon. As ações de Leonard podem ser entendidas como punição positiva se reduzem a probabilidade de ocorrência do comportamento de Sheldon pela apresentação de estimulação aversiva (discordância, confronto, caretas e agitação). Outro exemplo, agora de reforço positivo, pode ser visto quando Penny convence Leonard a ir para sua casa montar a cama que havia chegado (4:20 min) usando como reforçador a possibilidade de estarem na casa dela e fazer sexo sem a necessidade de ficarem quietos. A mera possibilidade é, em si mesma, reforçadora na medida em que está vinculada aos eventos na história do indivíduo em que promessas de reforço no futuro, apresentadas como possibilidades, foram efetivamente seguidas de liberação de reforço (funciona, portanto, como reforçador condicionado). Se atentarmos para todos os diálogos do episódio, veremos que há ainda muitos outros exemplos de punição positiva como a careta que Sheldon faz quando Penny atende ao telefone (0:48 min) e de reforço positivo quando ele fala “Obrigado! Que gentileza!” em retribuição à remoção da louça suja (0:03 min).
É bom ressaltar que o controle não ocorre apenas em uma direção e que, portanto, somos todos permanentemente controladores e controlados. Toda vez que Penny agradece ao chocolate ofertado com um “Obrigado!”, ela está reforçando e, assim, controlando, o comportamento de Sheldon. Notamos que os “pretensos controlados” também controlam o “pretenso controlador” quando comparamos o comportamento de Penny com o de Leonard, que rejeita a mesma oferta de chocolate com um “Não, eu não quero!” (1:25 min). A diferença das respostas de Penny e Leonard promovem diferentes comportamentos em Sheldon. Embora permaneça oferecendo chocolate à loira, ele para de ofertar o chocolate e passa a tentar modificar o comportamento do companheiro por meio de argumentações verbais. Ou seja, embora Sheldon tenha colocado a si como controlador, seu comportamento está, também, sob o controle de seus amigos. Reforçado por Penny, continua a ofertar o chocolate, punido por Leonard, muda de comportamento. Por isso Skinner sempre deixou claro que a melhor forma de contracontrole é fazer com que todos sejam capazes de perceber as estratégias de controle que estão vigentes. A solução não passa por mascarar ou negar a existência de controle, mas de reconhecê-lo e buscar mecanismos de contracontrole.

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