sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

ANTENADOS

BARBARA AZEVEDO COSTA

Tudo agora é alegria

Saiu recentemente a lista de aprovados no vestibular da Unifap. Quando recebi a notícia de que uma amiga querida (tipo assim, quase irmã mais nova) havia passado em primeiro lugar no curso de Jornalismo, experimentei a pura alegria, o nervoso, a euforia, e também aquele inevitável sentimento de nostalgia. Lembrei da minha época. Não faz muito tempo... 
Quer dizer, quatro anos. Bem, isso é uma faculdade inteira. Mas eu ainda guardo cada detalhe daquele começo de história com muita vivacidade. São coisas que a gente não perde: o afeto de todos que vieram conosco ao longo do ensino médio, os esforços recompensados. 
E a gente se admira depois ao constatar como os planos originais vão mudando, se adequando às circunstâncias, às novas disposições dentro da gente. O meu plano original, por exemplo. Jornalismo. De repente, onde eu estava? Em Letras na UFC, lá no Ceará, distante! E assim se cumpriram os quatro anos... Eu me descobri no curso e me fiz feliz, rodeada de Literatura, de Poesia. 
Às vezes é preciso mesmo que as coisas fujam um pouco do que pensávamos ser o plano original ou ideal. Para que assim, entrem certinhas nas definições futuras. E qual seria a nossa maior definição futura a não ser a felicidade?! Enquanto o futuro em si é pura indefinição, a única certeza é querer esse contentamento!
Momento incrível este do vestibular. O rito de passagem. Parece que agora sim, está permitido ser encarado como adulto. Para o bem ou para o mal. Há trigo, ovo, tinta, outras melecas. A mistura é metáfora do que a gente experimenta: mil emoções juntas. 
O momento da aprovação se destaca no tempo, se paralisa, parece querer durar para sempre... E todas as congratulações posteriores, os abraços, os maravilhamentos, os elogios. É viver uma vida inteira de sucesso num segundo. 
Depois desse momento, chegam os 18 anos. Está-se pronto. E, depois dos 18, o tempo corre a galope, e nada mais paralisa... O contraste é bonito. A vida se reparte.
Há ainda aquela dorzinha ao pensar em todos os outros jovens que não passaram, que nem ao menos tiveram chance de competir, que já começaram em desvantagem. Parece que sobre nós recai este peso. Recai mesmo. E amigos que vão para longe. E amigos não contentes com as opções em que foram aprovados. Uma infinidade de outros descompassos... 
Mas mesmo em horizontes turvos eu enxergo com um otimismo avassalador o mesmo espírito de mudança de planos que operou em mim quando o timão da minha vida virou, deixou o mar daquele projeto jornalístico e rumou para um oceano misterioso de Letras... 

Que nos reserva o futuro? Eu não sei. Mas, em todo caso, aos que passaram e aos que não passaram, este é, sim, um ciclo que se encerra, se conclui. Um novo mistério virá. As águas se turbam com vida em êxtase. "Adolescente, olha! A vida é nova... A vida é nova e anda nua - vestida apenas com o teu desejo!". Palavras de Mario Quintana. O que vale, acima de tudo, é aprovar-se a si mesmo. Lançar-se ao escuro da novidade de vida. 

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