The Big Bang Theory e o Behaviorismo
- parte 2
Controlamos
e somos controlados por nossos amigos (como Leonard e Sheldon), por nossos
parceiros (Leonard e Penny) ou por qualquer pessoa com quem entramos em
contato, além obviamente do ambiente físico e das agências de controle. Nossos
filhos, por exemplo, aprendem a falar por meio de reforço positivo e modelagem,
embora não o percebamos. E isso nos deixa com uma questão importante: Se
utilizamos, mesmo sem conhecer ou dominar as técnicas, e conseguimos estabelecer
comportamentos complexos como a fala, quanto não poderíamos fazer em prol de
nós e de nossa sociedade se utilizássemos de forma programada e com o devido
conhecimento as estratégias da AC? Ou nas palavras de Sheldon: “Não diga que
você não está intrigado com a possibilidade de construir uma namorada melhor?”
(3:00 min).
Claro
que falar em controle e em modificar o comportamento de outros sempre levanta
dúvidas e sobressaltos, mas mesmo isso não ficou fora do episódio de The Big
Bang Theory. Questões sobre controle e contracontrole são relevantes para o
Behaviorismo e são apresentadas quando Leonard diz: “Sheldon, você não
pode treinar minha namorada como um rato de laboratório!” (1:32 min). Skinner
(2007), ao escrever Ciência e Comportamento Humano em 1953 já apresenta suas
preocupações com as agências de controle, com quem controlará o controlador e
com o mau uso que possa derivar da aplicação da ciência do comportamento. Ele
afirma que essa “Não é apenas uma questão intrigante, é assustadora; pois há
uma boa razão para temer aqueles que, com maior probabilidade usurparão o
controle” (Skinner, 2007, p. 476). Mas deixa claro que recusar-se a aceitar o
controle não resolve o problema, pois isso significa “meramente deixar o
controle em outras mãos”. Ou alguém duvida que estamos sendo controlados a cada
momento? Se há dúvidas, basta lembrar a existência de agências de controle e do
permanente controle que exercemos em nossa vida social como vimos no
comportamento de Leonard ao discordar de Sheldon ou no de Penny ao conseguir
que Leonard monte sua cama!
No
final do episódio, ao observar o controle que Penny exerce sobre Leonard,
Sheldon diz: “Interessante. Sexo funciona melhor que chocolate para modificar o
comportamento. Será que alguém já percebeu isso?” (4:38 min). A resposta seria:
Sim, Sheldon, já perceberam a importância do sexo como estímulo reforçador!
Sexo, assim como outros estímulos que atuam como reforçadores, estão sob estudo
dos analistas do comportamento. Sendo uma ciência, a AC está constantemente
questionando seus próprios conceitos e responde, cada vez mais, a um número
maior de problemas. Essa postura de indagação contínua sobre a AC é
importantíssima, pois nas palavras de Baum (2006, p. 303): “Quanto mais
experimentarmos e coletarmos dados, quanto mais consultarmos especialistas bem
treinados, quanto mais cidadãos bem informados clamarem por práticas culturais
mais adequadas, mais provável é que tenhamos sucesso”. Aparentemente o pessoal
do The Big Bang Theory gostou de trabalhar com a Análise do
Comportamento, pois no episódio intitulado The focus attenuation (8ª sessão, 5º
episódio) voltaram a abordar a ciência do comportamento.
Por
fim, vale discutir uma curiosidade. Há no episódio uma indecisão conceitual,
que alguns podem entender como equívoco, quando Sheldon denomina de reforço
negativo o uso de choques elétricos amenos para alterar certo comportamento de
Penny (2:43 min). O compacto não deixa claro qual efeito ele busca
produzir sobre o comportamento utilizando esse estímulo. Se a ideia for usar
o choque para reduzir a frequência de um comportamento, então a técnica
seria corretamente classificada como punição positiva, pois diz respeito à
apresentação de estimulação aversiva que reduz o comportamento. Por outro
lado, se Sheldon pretende usar o choque de maneira não contingente e
aumentar a frequência do comportamento desejado vinculando-o à
remoção do choque, então teríamos reforço negativo. Entretanto, é bem provável
que tenha sido um equívoco conceitual, uma vez que muitos vislumbram a palavra
negativo (em reforço negativo) como algo obrigatoriamente ruim, quando na
realidade está apenas informando que o aumento na frequência do comportamento
ocorre, nesse caso, pela remoção do estímulo aversivo.
Baum,
W.M. (2006). Compreender o Behaviorismo: comportamento, cultura e evolução.
Porto Alegre: Artmed.
Skinner,
B.F. (2007). Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes.
Arley J. S. da Costa
Professor de Psicologia
UFF - Universidade Federal Fluminense
PUVR - Pólo Universitário de Volta Redonda
(21) 980256523
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