terça-feira, 31 de março de 2015

ANÁLISE - ADRIMAURO GEMAQUE



Sonhar um sonho acordado


            A população tem acompanhada estarrecida os noticiários. A cada dia uma nova revelação sobre os escândalos de corrupção na Petrobras e seus desdobramentos. Correndo paralelamente a estes fatos, também assistimos notícias sobre a crise econômica pela qual passamos. Já não é mais uma possibilidade, mas sim um fato consumado. Os dados demonstram uma situação irrefutável. Não se trata mais de indagar se há crise econômica. Trata-se agora de saber por quanto tempo ela perdurará, qual a sua dimensão e de que forma ela impactará os diversos setores da economia, assim como as finanças das pessoas.
           
            Um dos principais fatores desta crise econômica que tem influenciado a vida das pessoas é a retomada da inflação em um ritmo acelerado, principalmente após a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). A inflação já está aí há muito tempo e vem sendo tratada com leniência pela equipe econômica do governo. Todos os esforços para controlá-la foram aplicadas de forma repetitiva, como a desoneração das folhas de pagamento das empresas para evitar o desemprego e a contenção das tarifas de energia e do preço dos combustíveis, apenas com o intuito de ludibriar a população durante a campanha eleitoral.

            Publicado no domingo (22), o editorial do jornal britânico Financial Times destaca a atual crise econômica do Brasil. O texto afirma que a situação piorará e ainda rebate o argumento da presidente Dilma Rousseff (PT), que responsabiliza a crise econômica internacional por dificuldades econômicas do País. “O governo que está no poder há 12 anos, tem culpado os fatores externos. Mas a bagunça foi, em grande parte, feita pelo próprio Brasil”, diz o artigo. “A crise no Brasil é ruim e provavelmente piorará antes de melhorar”, acrescenta a publicação. Recentemente, o jornal americano The New York Times também publicou um editorial sobre a situação política e econômica brasileira. No texto, a publicação americana diz que “sob Dilma, a voz do Brasil virou um sussurro”.

            A realidade destacada nos jornais estrangeiros pode agora ser constatada aqui no nosso País através da pesquisa de Intensão de Consumo das Famílias – ICF, que em março de 2015 apresentou uma queda de 6,1% em relação a fevereiro. Quando comparamos com março de 2014, a diferença aumenta negativamente para 11,9%.

            O ICF, é um indicador inédito com capacidade de medir, com a maior precisão possível, a avaliação que os consumidores fazem sobre aspectos importantes da condição de vida de sua família, tais como a sua capacidade de consumo (atual e de curto prazo), nível de renda doméstico, segurança no emprego e qualidade de consumo, presente e futuro. Em outras palavras, é um indicador antecedente do consumo, a partir do ponto de vista dos consumidores, tornando-o uma ferramenta poderosa para o planejamento do comércio e de outras atividades produtivas.

            Os brasileiros com receio de perder o emprego e com o orçamento corroído pela inflação, nunca estiveram tão indispostos em ir às compras. O atual cenário econômico deixou os cidadãos menos seguro em relação ao emprego e com baixa perspectiva sobre o mercado de trabalho. “A desaceleração no consumo das famílias apontada pelo ICF, representa cerca de 60% do PIB e deve provocar queda no crescimento do país de 1% a 2%”, analisou o chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas.

            A redução no consumo da população provoca ociosidade no setor industrial, que em fevereiro atingiu o maior nível desde 2011. Com o freio do consumo das famílias, o varejo tem encomendado menos. O resultado disso são pátios de fábricas lotados de mercadorias, máquinas sendo desligadas, férias coletivas e redução da produção. No mês passado, as indústrias operaram com apenas 66% da capacidade, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria.

            Aqui pelas terras tucujus também não foi diferente, o setor da construção civil no Amapá, segundo o Sindicato das Indústrias de Construção, Sinduscom-AP, fechou 2014 com queda de 40% nas contratações em relação ao exercício de 2013. Quando a construção civil desacelera, isso se reflete de imediato na economia, uma vez que ele gera muitos empregos diretos e indiretos de diferentes profissões.

            Como vemos, a deterioração do ambiente político que passa o governo de Dilma Rousseff (PT) aliada a esta combinação de vários fatores desfavoráveis ao consumo, como a insegurança no mercado de trabalho e o aumento da inflação, faz com que a população viva momentos de angústia e incertezas. Há tempos os brasileiros não passavam por tanta dificuldade. Consumo agora é para poucos, para os demais devem se contentar com um sonho acordado.




            Adrimauro Gemaque (adrimaurosg@gmail.com)

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