Sonhar um sonho acordado
A população tem acompanhada estarrecida os noticiários. A
cada dia uma nova revelação sobre os escândalos de corrupção na Petrobras e
seus desdobramentos. Correndo paralelamente a estes fatos, também assistimos notícias sobre a crise econômica pela qual
passamos. Já não é mais uma possibilidade, mas sim um fato consumado. Os dados
demonstram uma situação irrefutável. Não se trata mais de indagar se há crise
econômica. Trata-se agora de saber por quanto tempo ela perdurará, qual a sua
dimensão e de que forma ela impactará os diversos setores da economia, assim
como as finanças das pessoas.
Um dos principais
fatores desta crise econômica que tem influenciado a vida das pessoas é a
retomada da inflação em um ritmo acelerado, principalmente após a reeleição da
presidente Dilma Rousseff (PT). A inflação já está aí há muito tempo e vem
sendo tratada com leniência pela equipe econômica do governo. Todos os esforços
para controlá-la foram aplicadas de forma repetitiva, como a desoneração das
folhas de pagamento das empresas para evitar o desemprego e a contenção das
tarifas de energia e do preço dos combustíveis, apenas com o intuito de
ludibriar a população durante a campanha eleitoral.
Publicado no
domingo (22), o editorial do jornal britânico Financial Times destaca
a atual crise econômica do Brasil. O texto afirma que a situação piorará e
ainda rebate o argumento da presidente Dilma Rousseff (PT), que responsabiliza
a crise econômica internacional por dificuldades econômicas do País. “O governo
que está no poder há 12 anos, tem culpado os fatores externos. Mas a bagunça
foi, em grande parte, feita pelo próprio Brasil”, diz o artigo. “A crise no
Brasil é ruim e provavelmente piorará antes de melhorar”, acrescenta a
publicação. Recentemente, o jornal americano The New York Times também
publicou um editorial sobre a situação política e econômica brasileira. No
texto, a publicação americana diz que “sob Dilma, a voz do Brasil virou um
sussurro”.
A realidade
destacada nos jornais estrangeiros pode agora ser constatada aqui no nosso País
através da pesquisa de Intensão de Consumo das Famílias – ICF, que em março de
2015 apresentou uma queda de 6,1% em relação a fevereiro. Quando comparamos com
março de 2014, a diferença aumenta negativamente para 11,9%.
O ICF, é um indicador inédito com capacidade
de medir, com a maior precisão possível, a avaliação que os consumidores fazem
sobre aspectos importantes da condição de vida de sua família, tais como a sua
capacidade de consumo (atual e de curto prazo), nível de renda doméstico,
segurança no emprego e qualidade de consumo, presente e futuro. Em outras
palavras, é um indicador antecedente do consumo, a partir do ponto de vista dos
consumidores, tornando-o uma ferramenta poderosa para o planejamento do
comércio e de outras atividades produtivas.
Os brasileiros
com receio de perder o emprego e com o orçamento corroído pela inflação, nunca
estiveram tão indispostos em ir às compras. O atual cenário econômico deixou os
cidadãos menos seguro em relação ao emprego e com baixa perspectiva sobre o
mercado de trabalho. “A desaceleração no consumo das famílias apontada pelo
ICF, representa cerca de 60% do PIB e deve provocar queda no crescimento do
país de 1% a 2%”, analisou o chefe da Divisão Econômica da Confederação
Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas.
A redução no consumo da população
provoca ociosidade no setor industrial, que em fevereiro atingiu o maior nível
desde 2011. Com o freio do consumo das famílias, o varejo tem encomendado menos.
O resultado disso são pátios de fábricas lotados de mercadorias, máquinas sendo
desligadas, férias coletivas e redução da produção. No mês passado, as
indústrias operaram com apenas 66% da capacidade, segundo dados da Confederação
Nacional da Indústria.
Aqui pelas terras tucujus também não
foi diferente, o setor da construção civil no Amapá, segundo o Sindicato das
Indústrias de Construção, Sinduscom-AP, fechou 2014 com queda de 40% nas
contratações em relação ao exercício de 2013. Quando a construção civil
desacelera, isso se reflete de imediato na economia, uma vez que ele gera
muitos empregos diretos e indiretos de diferentes profissões.
Como vemos, a
deterioração do ambiente político que passa o governo de Dilma Rousseff (PT)
aliada a esta combinação de vários fatores desfavoráveis ao consumo, como a
insegurança no mercado de trabalho e o aumento da inflação, faz com que a
população viva momentos de angústia e incertezas. Há tempos os brasileiros não
passavam por tanta dificuldade. Consumo agora é para poucos, para os demais
devem se contentar com um sonho acordado.
Adrimauro
Gemaque (adrimaurosg@gmail.com)
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