O QUE RESTA DA ENGENHARIA
Rodolfo Juarez
Pela
nossa condição de engenheiro civil, com serviços prestados a diversas
prefeituras municipais e ao governo do Estado do Amapá, sempre somos instigados
a falar sobre o momento da engenharia civil por aqui.
Está
evidente que a provocação é devido às dificuldades que os profissionais da
Engenharia Civil estão encontrando para impor a ciência desse ramo do
conhecimento como instrumento que possa servir à população, que se acostumou a
ter no engenheiro um profissional ativo e um agente público criativo, que busca
a realidade na execução de cada projeto que, além de ser um guia é um desafio
aos testes de materiais que são descobertos ou simplesmente não vinha sendo
usualmente utilizados no desenvolvimento e execução dos projetos que dão
excelência ao atendimento do interesse público.
Os
tempos são outros, diriam aqueles que não estão compreendendo o que está
acontecendo com os profissionais de engenharia.
Em
regra, muito mal pagos, ou com recompensas muito diferentes de outros
profissionais com o mesmo tempo de escola e na mesma escala de importância e
necessidade social.
Por
aqui se deixou de respeitar o profissional engenheiro que foi largado em um
mercado que não permite a busca de excelência e muito menos a melhoria na
qualidade do conhecimento.
Um
desrespeito que é incentivado, mesmo que indesejadamente, por aqueles que se
arvoram a assumir responsabilidade por obras que executam e até pelos
dirigentes públicos que quando contratam um serviço de engenharia imaginam que
não precisa ser acompanhado ou orientado conforme a técnica e deixa o serviço
“rolar” sem se preocupar com o tempo, pois não paga as faturas ou quando paga,
faz com atrasos, ou com a qualidade dos serviços, pouco se importando com o
resultado do contrato.
Basta
ter a cor da pintura coincidindo com a cor do seu partido, que tudo está
perfeito e que tudo está de acordo com o imaginado.
Isso,
entretanto, não corresponde à verdade, nem à obviedade e muito menos à verdade
técnica.
Obras definidas
a partir de projetos básicos, serviços autorizados considerando apenas o menor
preço, com visível abandono da coerente durabilidade razoável ou beleza
adequada ao local onde se implanta a obra.
O zelo
pela boa técnica está completamente perdido. Os serviços são, em regra, de
qualidade duvidosa, proporcionando desastrosos resultados na construção das
vias públicas, na definição da infraestrutura da cidade ou na funcionalidade de
um prédio.
Aqui
mesmo, o “habite-se” é apenas uma obediência legal deixando de lado todos os
outros requisitos que possam dar acessibilidade conforme o uso, praticidade
conforme a destinação e satisfação conforme a ocupação.
São
construídas arapucas ao invés de prédios, onde as saídas de emergência
(garantia de segurança do morador ou usuário) são tidas como exigências
desnecessárias e diversas vezes não consideradas.
O
prefeito de Macapá, a maior cidade do Estado, exige que o seu secretário de
obras seja, antes de ser engenheiro, um “bom político”, ou seja, aquele que tem
uma boa forma de “enrolar” população, adiando o que inadiável e dando soluções
que não gostaria de dar como profissional, mas “tem que dar” como secretário.
No
Estado, a conclusão ainda é mais eliminadora: para ser secretário de
infraestrutura (obras de outros tempos) nem precisa se engenheiro. Precisa de
alguém que conheça as leis para dar o tom legal aos projetos pouco se
importando com a funcionalidade ou o preço.
Nota-se
uma espécie de sumário de como não se deve tratar os engenheiros, esperando
deles que o salário do final do mês, isso no setor público, seja o suficiente
para que mantenha em alta a sua alto-estima e o orgulho de ser um profissional
da engenharia.
Claro
que não basta. Mas é o que resta!
Os
resultados estão ai: uma cidade que quase não funciona, com as suas ruas e
avenidas completamente ultrapassadas e sem futuro; as rodovias intermináveis;
obras de edificações e infraestrutura inacabadas e tantas mazelas que são
criadas a partir do mau uso do conhecimento técnico de engenharia que demonstra
ter pouca força para reagir.
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