Desgastado, Clécio apressa o passo para tentar a
reeleição.
Da Redação
O prefeito de Macapá, Clécio Luís vai ter muito trabalho
se quiser sentar na cadeira de gestor do município por mais quatro anos. A
pouco mais de um ano das eleições, o psolista ainda não mostrou a que veio e a
cada dia demonstra estar mais perdido. Atos emergenciais ou de desespero
político dão conta de que tudo foi deixado para a última hora e o que resta
agora é correr. Tal pensamento é próprio de políticos que costumam dizer que o
povo tem memória curta e só lembra do que é feito às vésperas de uma eleição.
A verdade é que nos primeiros anos de mandato,
Clécio preferiu uma ação que pode ser classificada de morna para fria. O marketing
resumiu-se no tão propalado “governo dos cem dias”, onde tudo que era
emergencial seria resolvido dentro deste prazo. Não deu certo e a ação não
passou de um mutirão para limpar canais tomados pelo mato e a formação de
equipes tapa buracos. A grande enxurrada de trabalho prometida na campanha
começava a dar provas de que não passou somente de promessas.
“Para um político dito de esquerda e que construiu
o nome apoiando movimentos de minorias, Clécio Luís ao chegar à Prefeitura de
Macapá tornou-se apático e passou a fazer tudo que criticava na época em que
era vereador”. Isso dito por lideranças sindicais, entre elas os guardas municipais
que mostraram de imediato o descontentamento diante de um termo criado pelo
prefeito, a “despromoção”. O neologismo permitiu ao gestor do Partido
Socialismo e Liberdade rebaixar quem já havia conseguido galgar uma posição
melhor dentro da guarda, benefício concedido pelo antecessor de Clécio, o
pedetista Roberto Góes. Para o atual prefeito, as promoções não poderiam ter
ocorrido. O contrassenso tornou-se claro uma vez que Clécio Luís defendia a
promoção desta mesma categoria quando era vereador e encorajava os protestos
que esbravejavam pedindo o benefício.
O resultado das “despromoções” pode vir em 2016 nas
urnas. Mas o coro de insatisfação não está somente na guarda municipal. Ele
chega à grande parte da população, principalmente a que mora na periferia e
acreditou nas promessas de campanha que falavam em priorizar a estruturação
destes bairros. Nada foi feito, com exceção das operações tapa buracos que têm
se mostrado praticamente inúteis por conta da má qualidade do asfalto
utilizado. A verdade é que a chamada malha viária da cidade está comprometida
sem que uma ação eficaz seja colocada em prática.
Os tapa buracos
Ruim para motoristas, bom para os donos de oficinas
mecânicas. O faturamento chega a dobrar durante a época de chuvas com a
reposição de peças de suspensão. A gestão de Clécio asfaltou muito pouco a
cidade. A rua Hildemar Maia e outras poucas que receberam reparos não somam nem
de longe as promessas feitas no horário político veiculado em 2012, quando uma
das peças afirmava que o asfaltamento não ocorria por preguiça ou corrupção.
Nas ruas o povo pergunta qual será a opção agora.
A gestão vem mergulhada em crise desde o começo sem
ações efetivas. De acordo com analistas políticos, tudo de fato está sendo
guardado para ser feito nas vésperas do pleito do ano que vem, quando Clécio
Luís vai tentar a reeleição. O fantasma do fracasso desta tentativa tem sido a
sombra do psolista que hoje tem um nível alto de rejeição junto aos eleitores.
Clécio teve um exemplo recente do que tal rejeição pode causar quando viu o
candidato que apoiava ao governo e também à reeleição, ter uma derrota humilhante.
Camilo Capiberibe, assim como o prefeito, teve o poder da “máquina” nas mãos e
R$ 28 milhões para gastar com propaganda. Foi derrotado por Waldez Góes, do PDT
que estava sem mandato desde 2010. Capiberibe obteve 39,4% dos
votos contra 60,58% de Góes. Em números, 220.256 a 143.311, diferença de 76.945
votos.
O contexto
de 2014 assemelha-se muito ao de hoje. Clécio com alta rejeição e visto pela
população como um político desinteressado vivendo em um mundo paralelo onde
tudo parece estar bem. Já o dia a dia do povo é bem diferente, seja nos postos
de saúde ou nas escolas municipais. De um lado a falta de medicações básicas
fazem com que o Hospital de Emergências receba uma demanda além da média. Já
nas escolas, programas que garantiam aos alunos alimentação, material escolar e
até uniforme foram cortados por Clécio Luís. Mais um ponto negativo na escala
decrescente do atual prefeito que dizem, está cada dia mais parecido com o
ex-governador derrotado na maneira de governar. A semelhança também estaria
presente no relacionamento com a população. Clécio é considerado um gestor sem
carisma que não consegue se aproximar do povo. A imagem do primeiro prefeito
eleito pelo PSOL está cheia de “arranhões” e ele parece sofrer da mesma miopia
política que dificultou a visão de Capiberibe. O raio de alcance chega somente até
o umbigo.
Corrida contra o tempo
Clécio tenta
correr de todas as formas para recuperar o tempo que perdeu e faz isso de forma
atropelada. A estratégia, pelo que já se pode ver vai ser a mesma usada por
Camilo, encher a cidade de placas para dar a impressão de trabalho e procurar
executar em meses o que não se fez em quatro anos. O primeiro exemplo foi o
anúncio da construção de uma creche no bairro Usina de Asfalto. Lá, uma grande
placa colocada no canteiro da Avenida 13 de Setembro chama a atenção de quem
passa. O marketing chegou ao ponto de fazer uma cerimônia para inaugurar o
aterramento do terreno. Logo em frente está um projeto residencial popular
pensado e capitalizado pelo ex-prefeito Roberto Góes com verbas federais. Não
precisa falar que a obra vai ser usada como trampolim eleitoral. Resta saber se
a estratégia vai funcionar ou gerar efeito contrário como ocorreu com Camilo
Capiberibe e o Macapaba, que teve sua primeira etapa feita a toque de caixa por
conta das eleições.
Na
conjuntura atual não se descarta tal possibilidade considerando o descrédito do
prefeito tido dentro e fora do Estado como um gestor fraco eleito à custa de
uma coalisão com partidos de direita abominada pelas lideranças nacionais do
PSOL e orquestrada aqui por nomes como do senador Randolfe Rodrigues, um
“camaleão político” eleito graças a uma operação da Polícia Federal, que até
hoje não provou nada contra ninguém, mas mudou os rumos da política em 2010.
CIDADE
PEDE SOCORRO
Há
uma semana, vários bairros da cidade e centenas de famílias experimentaram o
rigor do período chuvoso anunciado pela meteorologia desde o começo do ano.
Tradicionalmente, março é o mês que mais chove na região. Em locais como Nova
Esperança na periferia da zona Sul de Macapá, o aumento do volume de água nas
ressacas fez com que muita gente perdesse moveis e eletrodomésticos.
A
chuva torrencial invadiu as residências de forma rápida surpreendendo os
moradores que tentaram salvar o pouco que puderam às pressas. Muitas famílias
foram atendidas em centros comunitários, mas reclamaram que o apoio dado pela
prefeitura foi praticamente nenhum. Nos pontos de inundação, mais uma vez foram
detectadas obstruções em bueiros, mesmo motivo que traz o problema há anos. A
demora na chegada das equipes do município fez com que moradores tomassem
iniciativa própria de abrir frentes de capina para retirada do matagal que,
segundo eles, também impede o escoamento da água. “Eles demoram a chegar e
quando chegam não fazem nada além da limpeza. Essa tubulação é estreita e precisa
ser trocada”, reclamaram. Os alagamentos foram sentidos em maioria das ressacas
da cidade. “Onde está o prefeito quando a população precisa. Queremos ser
ajudados”, disseram os moradores.
Distante de Macapá, o
Arquipélago do Bailique também sofreu a ação da natureza. Lá, a erosão derrubou
casas e a unidade de saúde de Vila Progresso. A ação da prefeitura foi decretar
situação de emergência para as oito ilhas que formam a comunidade. 38 casas foram detectadas como estando em
risco de desabar, de acordo com a Defesa Civil. Sem planejamento antecipado
coube ao prefeito Clécio Luís considerar o óbvio, as obras são caras, demoradas
e a prefeitura não tem recursos para executar nada. Ele também declarou que a
PMM hoje tem extrema dificuldade para a captação de verbas federais. No
Bailique a população não conta com apoio permanente para casos como este. A
viagem até a localidade fica em torno de 12 horas, mas a solução para as
famílias que tiveram as casas atingidas vai demorar muito mais tempo. A
população sofre as consequências da falta de antecipação e vontade política
para lidar com problemas de conhecimento da gestão municipal. Tanto no Bailique
quanto em Macapá, que também teve seu centro da cidade alagado, o que se vê é o
engessamento de quem venceu a eleição à custa de promessas e belas
histórias.
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