Igarapé
das Mulheres
Sem
infraestrutura está ficando favelada
Reinaldo
Coelho
Na Amazônia brasileira,
as cidades são fundadas e permanecem dependentes da hidrografia para inúmeras
atividades, como o transporte de pessoas e mercadorias, caracterizam por outra
temporalidade, o tempo lento das embarcações maiores, que só conseguem atracar
ou sair dos portos no momento da maré cheia.
Essa característica é
vista com profundidade, na orla de Macapá. Um deles é o Igarapé das Mulheres,
que há anos deu suporte como atracadouro para as pequenas embarcações de
produtores ribeirinhos do Amapá e das ilhas paraenses.
Outro é o canal do
Jandiá que tem a mesma função como uma característica peculiar que é o embarque
e desembarque madeireiro. O outro é do Canal das Pedrinhas.
Esses pequenos ancoradouros,
nunca receberam suportes do poder público na sua infraestrutura. Ali não
existem cais de madeira nem de concreto, os ribeirinhos fazem a maior ginástica
para descarregarem suas mercadorias. Ao redor desses locais começaram a existir
residências e feiras populares e proliferam bares e drogas. Viraram verdadeiras
favelas.
No Igarapé das Mulheres
que recebeu uma estrutura de concreto com escadas no seu lado direito, motivada
pela construção do Mercado de Peixe, quando no lado esquerdo uma significativa quantidade de pequenos
barcos, ancorados em um sistema de organização feito pelos próprios moradores,
sob a vigilância da comunidade ou dos proprietários.
Há três anos exatos,
pois o Mercado de Peixe foi inaugurado em Março de 2013, período da Semana
Santa, o ex-governador socialista Camilo Capiberibe prometeu a construção de
obras no entorno do mercado que revitalizaria o local. Durante a cerimônia, o
governador assinou um termo de compromisso para a construção de um Restaurante
Popular e uma Casa das Frutas-prédios que serão edificados no entorno do
Mercado. Segundo ele, a equipe de governo já trabalhava no processo de
desapropriação e indenização dos pequenos empreendedores que trabalham e moram
na área de marinha localizada em frente ao Mercado do Pescado e como sempre não
cumpriu o que proclamou. E por incrível era gestora da secretária de
Desenvolvimento Rural e responsável pelo serviço a deputada Cristina Almeida
(PSB) e da Infraestrutura o aliado Joel Banhas (PT).
O dono de embarcação Jucelino
Tavares, de 60 anos, morador de Afuá município paraense, e que pela aproximação
de Macapá realiza viagens constantes entre os dois municípios e utiliza o cais
do Igarapé das Mulheres, localizado no bairro Perpétuo Socorro para vender seu
pescado. “Infelizmente, temos grandes problemas aqui neste cais, o
assoreamento, ajudado pelos cascos dos barcos que incendiaram e não foram
retirados e a insegurança”.
Barcos
incendiados
Este mês, completa um
ano que aconteceu uma tragédia no Igarapé das Mulheres, a explosão de um
carregamento ilegal de combustível por uma das embarcações ancoradas no local,
causando incêndios em sete barcos. Após
o sinistro que atingiu os barcos, apenas quatro embarcações foram retiradas, as
demais continuam no lugar e impedem o trânsito na via fluvial, já prejudicado
pelo assoreamento natural do canal.
Cerca de mil pescadores
estão prejudicados com o assoreamento do canal do Igarapé das Mulheres, e serão
sérias as consequências na economia para os ribeirinhos que dependem do Igarapé
das Mulheres para sobreviver. “Segundo a Marinha, a responsabilidade em retirar
o que sobrou dos barcos é dos próprios proprietários. Os quatro barcos dos
proprietários que são cadastrados na Colônia Z-1 obedeceram a ordem da Capitania.
Porém, as demais embarcações são de empresários que utilizavam para o
transporte de animais. Não tivemos mais contato com eles”, explicou o
presidente Colônia de Pescadores Z-1 de Macapá, Francisco
Viana.
Antes do acidente, uma
draga foi colocada próximo ao Igarapé das Mulheres, na orla do rio Amazonas,
para conter o assoreamento da área. Mas de acordo com Viana, a medida não foi
suficiente para solucionar o problema. “A máquina não deu conta. Por fim, o
serviço foi encerrado e o problema não foi resolvido”, denunciou.
Os pontos para atracar
os barcos de pequeno porte em Macapá e Santana estão cada vez mais limitados,
afirmam os pescadores. “O Porto de Santana, por exemplo, já é dedicado somente
aos navios, está difícil para os ribeirinhos. Há cerca de 10 anos era possível
entrar no Igarapé das Mulheres até na maré seca. Cerca de 1,8 mil barcos
transitavam semanalmente trazendo produtos com preço mais barato de outras
localidades. Sem contar que se o barco quebrar, por ser forçado a passar,
ninguém vai nos dar apoio para arcar com o prejuízo”, desabafou.
Prejuízo
econômico
O porto do Igarapé das
Mulheres é um dos mais importantes de Macapá e movimenta a economia com a
comercialização de pescado, camarão e frutas. Em dezembro de 2013, uma obra de
desobstrução do canal que liga o Igarapé ao Trapiche Eliezer Levy danificou o
muro de arrimo, prejudicando a saída e chegada de embarcações. Plataformas de
concreto foram colocadas as margens do cais para organizar o atracamento, mas
grande parte delas estão com a estrutura desgastada.
"Nosso pescado
está saindo mais caro por causa desses problemas no cais. Por conta disso, os
pescadores estão vendendo a mercadoria para as cidades do Pará. Se não for
feito uma reforma geral e o desassoreamento do igarapé, nenhum barco vai poder
atracar aqui", alertou o presidente da colônia dos pescadores, Francisco
Viana.
A dragagem é necessária
porque a correnteza do Rio Amazonas empurra a sedimentação e o lixo para dentro
do canal de navegação, elevando o fundo do rio. Com o canal mais raso, barcos
encalham ou arrastam o fundo causando rachaduras.
Favelização
A população, que na
década de 40 era de menos de 200 moradores, hoje chega a mais de cinco mil
famílias somente na parte da orla. O comércio, na década de 40, que não tinha
mais do que 50 pequenos estabelecimentos comerciais, hoje já dispõe de vários
tipos de comércio, cerca de 2 mil casas comerciais entre lojas, frigoríficos,
escritórios de representação, supermercados, bares, restaurantes e até mesmo
hotéis.
O local de entorno do
Canal do Igarapé das Mulheres está tomado por residências que jogam os resíduos
sanitários e domésticos diretamente dentro do canal, ajudando o assoreamento e
a poluição das águas que são negros e exalam um mau odor insuportável. Além de
que nas ruas laterais são jogados lixos, com a localização de uma lixeira
viciada, que mesmo com a constante limpeza pelo município os moradores
continuam a abastecê-la com lixos que vai do sofá a entulhos domésticos.
Sem se preocupar com o
risco de doenças, crianças e idosos brincam e cuidam dos alimentos em meio à
sujeira. A quantidade de lixo impressiona mesmo quem já está acostumado com o
cenário. O funcionário público, José de Freitas, 59, que há mais de 30 anos
mora no bairro, se diz constrangido com a situação.
“Essa é a nossa
realidade, os anos passam e a população não se conscientiza”.
Canal
do Jandiá
Assoreamento
de canal provoca queda no comércio madeireiro
O Canal do Jandiá tem
uma extensão de cerca de 4,2 km, drena parte dos bairros Santa Rita e Laguinho
e passa pelos bairros Cidade Nova, Pacoval, Jesus de Nazaré e São Lázaro.
As
embarcações que navegam por ali são de pequeno porte - só é possível na maré
alta - e fazem a distribuição e escoamento de madeiras para as madeireiras
encontradas no entorno.
Era navegável da
desembocadura no Rio Amazonas até a Ponte Sérgio Arruda. Hoje o trecho
navegável nas proximidades desta diminuiu devido o assoreamento e presença de
vegetação aquática. As margens do lado direito são ocupadas por casas sem
infra-estrutura de drenagem, acumulando resíduos nas margens e com tubulações
clandestinas de esgoto.
Comerciantes do ramo
madeireiro que negociam no canal do Jandiá, zona leste da capital, Macapá,
dizem estar contabilizando prejuízos com a impossibilidade de embarcações
maiores atracarem na área para descarregar o produto de origem florestal que é
trazido, principalmente, da região das ilhas do Pará.
Um dos empresários do
ramo madeireiro, que atua há anos no local diz que o seu produto está
“encarecendo” devido o problema do assoreamento. “O canal está intrafegável
para embarcações de médio porte. Com isso, somos obrigados a pagar embarcações
menores para fazer o transbordo”, reclama.
Com essa problemática o
preço final da madeira acaba se elevando em até 150% em alguns casos. “Pedir
pra desembarcar essa madeira no Igarapé das Pedrinhas e transportar de carro
pra cá às vezes sai até mais barato. Mas se temos um porto próprio, porque
passar por tudo isso? Precisamos que as autoridades façam algo rapidamente para
resolver essa situação”, reivindica os empresários.
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