sexta-feira, 13 de março de 2015

Igarapé das Mulheres

Igarapé das Mulheres
Sem infraestrutura está ficando favelada






Reinaldo Coelho


Na Amazônia brasileira, as cidades são fundadas e permanecem dependentes da hidrografia para inúmeras atividades, como o transporte de pessoas e mercadorias, caracterizam por outra temporalidade, o tempo lento das embarcações maiores, que só conseguem atracar ou sair dos portos no momento da maré cheia.
Essa característica é vista com profundidade, na orla de Macapá. Um deles é o Igarapé das Mulheres, que há anos deu suporte como atracadouro para as pequenas embarcações de produtores ribeirinhos do Amapá e das ilhas paraenses.

Outro é o canal do Jandiá que tem a mesma função como uma característica peculiar que é o embarque e desembarque madeireiro. O outro é do Canal das Pedrinhas.
Esses pequenos ancoradouros, nunca receberam suportes do poder público na sua infraestrutura. Ali não existem cais de madeira nem de concreto, os ribeirinhos fazem a maior ginástica para descarregarem suas mercadorias. Ao redor desses locais começaram a existir residências e feiras populares e proliferam bares e drogas. Viraram verdadeiras favelas.

No Igarapé das Mulheres que recebeu uma estrutura de concreto com escadas no seu lado direito, motivada pela construção do Mercado de Peixe, quando no lado esquerdo   uma significativa quantidade de pequenos barcos, ancorados em um sistema de organização feito pelos próprios moradores, sob a vigilância da comunidade ou dos proprietários.

Há três anos exatos, pois o Mercado de Peixe foi inaugurado em Março de 2013, período da Semana Santa, o ex-governador socialista Camilo Capiberibe prometeu a construção de obras no entorno do mercado que revitalizaria o local. Durante a cerimônia, o governador assinou um termo de compromisso para a construção de um Restaurante Popular e uma Casa das Frutas-prédios que serão edificados no entorno do Mercado. Segundo ele, a equipe de governo já trabalhava no processo de desapropriação e indenização dos pequenos empreendedores que trabalham e moram na área de marinha localizada em frente ao Mercado do Pescado e como sempre não cumpriu o que proclamou. E por incrível era gestora da secretária de Desenvolvimento Rural e responsável pelo serviço a deputada Cristina Almeida (PSB) e da Infraestrutura o aliado Joel Banhas (PT).

O dono de embarcação Jucelino Tavares, de 60 anos, morador de Afuá município paraense, e que pela aproximação de Macapá realiza viagens constantes entre os dois municípios e utiliza o cais do Igarapé das Mulheres, localizado no bairro Perpétuo Socorro para vender seu pescado. “Infelizmente, temos grandes problemas aqui neste cais, o assoreamento, ajudado pelos cascos dos barcos que incendiaram e não foram retirados e a insegurança”.

Barcos incendiados


Este mês, completa um ano que aconteceu uma tragédia no Igarapé das Mulheres, a explosão de um carregamento ilegal de combustível por uma das embarcações ancoradas no local, causando incêndios em sete barcos.  Após o sinistro que atingiu os barcos, apenas quatro embarcações foram retiradas, as demais continuam no lugar e impedem o trânsito na via fluvial, já prejudicado pelo assoreamento natural do canal.


Cerca de mil pescadores estão prejudicados com o assoreamento do canal do Igarapé das Mulheres, e serão sérias as consequências na economia para os ribeirinhos que dependem do Igarapé das Mulheres para sobreviver. “Segundo a Marinha, a responsabilidade em retirar o que sobrou dos barcos é dos próprios proprietários. Os quatro barcos dos proprietários que são cadastrados na Colônia Z-1 obedeceram a ordem da Capitania. Porém, as demais embarcações são de empresários que utilizavam para o transporte de animais. Não tivemos mais contato com eles”, explicou o presidente Colônia de Pescadores Z-1 de Macapá, Francisco Viana.


Antes do acidente, uma draga foi colocada próximo ao Igarapé das Mulheres, na orla do rio Amazonas, para conter o assoreamento da área. Mas de acordo com Viana, a medida não foi suficiente para solucionar o problema. “A máquina não deu conta. Por fim, o serviço foi encerrado e o problema não foi resolvido”, denunciou.
Os pontos para atracar os barcos de pequeno porte em Macapá e Santana estão cada vez mais limitados, afirmam os pescadores. “O Porto de Santana, por exemplo, já é dedicado somente aos navios, está difícil para os ribeirinhos. Há cerca de 10 anos era possível entrar no Igarapé das Mulheres até na maré seca. Cerca de 1,8 mil barcos transitavam semanalmente trazendo produtos com preço mais barato de outras localidades. Sem contar que se o barco quebrar, por ser forçado a passar, ninguém vai nos dar apoio para arcar com o prejuízo”, desabafou.

Prejuízo econômico



O porto do Igarapé das Mulheres é um dos mais importantes de Macapá e movimenta a economia com a comercialização de pescado, camarão e frutas. Em dezembro de 2013, uma obra de desobstrução do canal que liga o Igarapé ao Trapiche Eliezer Levy danificou o muro de arrimo, prejudicando a saída e chegada de embarcações. Plataformas de concreto foram colocadas as margens do cais para organizar o atracamento, mas grande parte delas estão com a estrutura desgastada.

"Nosso pescado está saindo mais caro por causa desses problemas no cais. Por conta disso, os pescadores estão vendendo a mercadoria para as cidades do Pará. Se não for feito uma reforma geral e o desassoreamento do igarapé, nenhum barco vai poder atracar aqui", alertou o presidente da colônia dos pescadores, Francisco Viana.
A dragagem é necessária porque a correnteza do Rio Amazonas empurra a sedimentação e o lixo para dentro do canal de navegação, elevando o fundo do rio. Com o canal mais raso, barcos encalham ou arrastam o fundo causando rachaduras.


Favelização






A população, que na década de 40 era de menos de 200 moradores, hoje chega a mais de cinco mil famílias somente na parte da orla. O comércio, na década de 40, que não tinha mais do que 50 pequenos estabelecimentos comerciais, hoje já dispõe de vários tipos de comércio, cerca de 2 mil casas comerciais entre lojas, frigoríficos, escritórios de representação, supermercados, bares, restaurantes e até mesmo hotéis.

O local de entorno do Canal do Igarapé das Mulheres está tomado por residências que jogam os resíduos sanitários e domésticos diretamente dentro do canal, ajudando o assoreamento e a poluição das águas que são negros e exalam um mau odor insuportável. Além de que nas ruas laterais são jogados lixos, com a localização de uma lixeira viciada, que mesmo com a constante limpeza pelo município os moradores continuam a abastecê-la com lixos que vai do sofá a entulhos domésticos.
Sem se preocupar com o risco de doenças, crianças e idosos brincam e cuidam dos alimentos em meio à sujeira. A quantidade de lixo impressiona mesmo quem já está acostumado com o cenário. O funcionário público, José de Freitas, 59, que há mais de 30 anos mora no bairro, se diz constrangido com a situação.
“Essa é a nossa realidade, os anos passam e a população não se conscientiza”.






Canal do Jandiá
Assoreamento de canal provoca queda no comércio madeireiro

O Canal do Jandiá tem uma extensão de cerca de 4,2 km, drena parte dos bairros Santa Rita e Laguinho e passa pelos bairros Cidade Nova, Pacoval, Jesus de Nazaré e São Lázaro. As embarcações que navegam por ali são de pequeno porte - só é possível na maré alta - e fazem a distribuição e escoamento de madeiras para as madeireiras encontradas no entorno.
Era navegável da desembocadura no Rio Amazonas até a Ponte Sérgio Arruda. Hoje o trecho navegável nas proximidades desta diminuiu devido o assoreamento e presença de vegetação aquática. As margens do lado direito são ocupadas por casas sem infra-estrutura de drenagem, acumulando resíduos nas margens e com tubulações clandestinas de esgoto.
Comerciantes do ramo madeireiro que negociam no canal do Jandiá, zona leste da capital, Macapá, dizem estar contabilizando prejuízos com a impossibilidade de embarcações maiores atracarem na área para descarregar o produto de origem florestal que é trazido, principalmente, da região das ilhas do Pará.
Um dos empresários do ramo madeireiro, que atua há anos no local diz que o seu produto está “encarecendo” devido o problema do assoreamento. “O canal está intrafegável para embarcações de médio porte. Com isso, somos obrigados a pagar embarcações menores para fazer o transbordo”, reclama.

Com essa problemática o preço final da madeira acaba se elevando em até 150% em alguns casos. “Pedir pra desembarcar essa madeira no Igarapé das Pedrinhas e transportar de carro pra cá às vezes sai até mais barato. Mas se temos um porto próprio, porque passar por tudo isso? Precisamos que as autoridades façam algo rapidamente para resolver essa situação”, reivindica os empresários. 

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