terça-feira, 31 de março de 2015

SAÚDE EM FOCO

        


  CF/2015:  JESUS DIANTE DE A UMA SOCIEDADE DE DOENTES E  EXCLUÍDOS




         O Deus do cristianismo é um Deus que acompanha a história de seu povo.  Quer dizer, age no cotidiano dos fatos e dos acontecimentos. Falou-nos pelos profetas e nos testemunhou suas escolhas através de Jesus. O mistério da Páscoa de Jesus e do infinito amor à humanidade se iniciou com a Encarnação e dignificou o homem com a Ressurreição. Mas como elevar esse homem pecador a condição de divino, quando sua realidade é marcada de contradições, de  miséria, de fome, de violência  e doenças ?
Essa é justamente a intenção profética da Campanha da Fraternidade (CF/2015), de colocar-se a serviço dos excluídos e necessitados e denunciar concretamente os desmandos, injustiças e corrupções. Quando Jesus chamou os fariseus de “hipócritas e sepulcros caiados” (???) e “expulsou os vendilhões do templo”(???), Ele expressa concretamente do lado de quem está – do lado do povo oprimido— e direciona a crítica ao sistema político de sua época, aos sacerdotes do templo, à dominação romana, e conclama o povo a tomar uma atitude concreta. Ele ensinava nas ruas e na Sinagoga com palavras, mas dava testemunho com atos concretos. O anuncio do Ano de Graça do Senhor é um desses testemunhos:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar a boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar aos aprisionados a libertação, aos cegos a recuperação da vista, para por em liberdade os oprimidos, e para anunciar um ano de graça do Senhor” (Lc 4, 16-21).
         Jesus, antes de se tornar mestre, foi criança, adolescente, jovem e adulto Antes de ensinar, aprendeu com a família, com Maria e José, com o povo da sinagoga, com os vizinhos, amigos. Viveu em comunidade. Estava atento aos acontecimentos históricos. Somos discípulos/as de Jesus Cristo, um jovem camponês, da periferia, que foi condenado à pena de morte pelos podres poderes da política, da economia e da religião.
         Com o anuncio da passagem do profeta Isaias (Cf. Is 43,1-5), Jesus Cristo quer resgatar o Jubileu Bíblico, que cultiva a experiência de fraternidade das origens camponesas; quer incentivar o recomeço a partir dos oprimidos; refazer a História a partir dos injustiçados; relembrar os valores humanos; em vez da pena, busca justiça; valoriza o valor social das terras; perdoar as dívidas; redistribuir riquezas e restituir os direitos roubados, voltar a uma convivência fraterna já aqui na Terra. Esse é o sentido profético, histórico, humano, da ação salvadora de Cristo.
        Esse resgate da busca da solidariedade e de uma convivência humana mais harmoniosa, também é função da Igreja, que continua a missão de Cristo na história da humanidade. A igreja do Brasil se insere nessa busca e nessa esperança da utopia do Ano de Graça do Senhor, olhando para a realidade humana com espírito critico, mas também com disposição de serviço. Daí a CF/2015 estar discutindo os graves problemas da sociedade, como a saúde pública, que passa por um período crítico de perdas de garantias constitucionais e de agravamento de demandas crônicas no setor, considerado essencial para um ambiente de paz e bem-estar social.
   Se hoje o Brasil passa por uma crise moral, aonde as ações e os investimentos em saúde pública não chegam às classes populares, isso se deve, em muitos casos, à falta de iniciativa, vontade política, postura e pro - atividade dos cristãos católicos, que ocupam os altos escalões da estrutura político-administrativa do estado. Mas precisamos mudar esse cenário desolador que se abate sobre as populações mais empobrecidas, com quem a Igreja mostra-se solidária. A grande massa abandonada, espoliada e explorada, como o eram os judeus na época de Jesus, precisa reagir e buscar alternativas para conquista do direito a uma saúde digna e de qualidade. 
  O SUS esta aí. Só precisa ser resgatado e cumprido na sua essência. Mas nada acontecerá se os cristãos (católicos, protestantes, espíritas, ateus, agnósticos) valorizarem mais seus dogmas do que prescultar a vontade de Deus e os gemidos das ruas. Os radicalismos, fanatismos e homofobias alimentam as desigualdades. Precisamos de homens e mulheres de boa vontade para começarmos a experimentar o diálogo intereligioso e intercultural e de coerência na política. Não basta chorar, jejuar, dar esmola e condenar a crucificação de Jesus (dos oprimidos). Temos a nossa própria via sacra para trilhar e buscar amenizar o nosso sofrimento.
Os graves gargalos da saúde e da assistência passam por três fatores conjunturais e institucionais: 1) subfinanciamento na alocação dos recursos, 2)  má gestão e falta de racionalidade na aplicação dos existentes e, 3) pelos  desvios oriundos da cultura da corrupção publica e privada.Esses três fatores se interpenetram e impedem os avanços, melhorias e a aplicação das políticas públicas de saúde. A esses fatores se soma a falta de controle social da sociedade e punição aos que se apropriam indevidamente dos recursos. O Ministério público e o Legislativo são omissos ou lentos na denúncia e o Judiciário benevolente e tardio nas penalidades.
A Igreja nos apresenta Jesus como Aquele que conhece o sofrimento de seu povo e com seu ensinamento e prática dialética (observação, reflexão e ação) condena o imperialismo romano, questiona a posse da terra pelos saduceus e o poder religioso na mão dos sacerdotes do Sinédrio. Isso quer dizer que ele questionava a estrutura política de seu tempo e as teoria do determinismo religioso e da Teologia da Prosperidade (o templo como instrumento de exclusão e exploração), que pregava que quem tem bens,  posse e saúde é abençoado e teria direito à assistência; quem é pobre e doente é porque é pecador e deveria ser excluído.
Jesus se rebela contra isso, cura os enfermos, liberta os lunáticos, faz andar os paralíticos, dá a visão aos cegos. A cura e a saúde fazem parte do seu ministério de salvação, que passa pelo bem estar físico, mental, espiritual e sócio-político.  Quem não conhece a Teologia de Jesus e não responde ao seu chamado não pode se dizer cristão. (JARBAS ATAÍDE, Macapá- 17.03.2015).


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