CF/2015: JESUS DIANTE DE A UMA SOCIEDADE DE DOENTES
E EXCLUÍDOS
O Deus do cristianismo é um Deus que
acompanha a história de seu povo. Quer
dizer, age no cotidiano dos fatos e dos acontecimentos. Falou-nos pelos
profetas e nos testemunhou suas escolhas através de Jesus. O mistério da Páscoa
de Jesus e do infinito amor à humanidade se iniciou com a Encarnação e
dignificou o homem com a Ressurreição. Mas como elevar esse homem pecador a
condição de divino, quando sua realidade é marcada de contradições, de miséria, de fome, de violência e doenças ?
Essa é justamente a intenção
profética da Campanha da Fraternidade (CF/2015), de colocar-se a serviço dos
excluídos e necessitados e denunciar concretamente os desmandos, injustiças e
corrupções. Quando Jesus chamou os fariseus de “hipócritas e sepulcros caiados”
(???) e “expulsou os vendilhões do
templo”(???), Ele expressa
concretamente do lado de quem está – do lado do povo oprimido— e direciona a
crítica ao sistema político de sua época, aos sacerdotes do templo, à dominação
romana, e conclama o povo a tomar uma atitude concreta. Ele ensinava nas ruas e
na Sinagoga com palavras, mas dava testemunho com atos concretos. O anuncio do Ano de Graça do Senhor é um desses
testemunhos:
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para
anunciar a boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar aos aprisionados a
libertação, aos cegos a recuperação da vista, para por em liberdade os
oprimidos, e para anunciar um ano de graça do Senhor” (Lc 4, 16-21).
Jesus, antes de se tornar mestre, foi criança,
adolescente, jovem e adulto Antes de ensinar, aprendeu com a família, com Maria
e José, com o povo da sinagoga, com os vizinhos, amigos. Viveu em comunidade.
Estava atento aos acontecimentos históricos. Somos discípulos/as de Jesus
Cristo, um jovem camponês, da periferia, que foi condenado à pena de morte
pelos podres poderes da política, da economia e da religião.
Com o
anuncio da passagem do profeta Isaias (Cf. Is 43,1-5), Jesus Cristo quer
resgatar o Jubileu Bíblico, que cultiva a experiência de fraternidade das
origens camponesas; quer incentivar o recomeço a partir dos oprimidos; refazer
a História a partir dos injustiçados; relembrar os valores humanos; em vez da pena,
busca justiça; valoriza o valor social das terras; perdoar as dívidas;
redistribuir riquezas e restituir os direitos roubados, voltar a uma convivência
fraterna já aqui na Terra. Esse é o sentido profético, histórico, humano, da
ação salvadora de Cristo.
Esse
resgate da busca da solidariedade e de uma convivência humana mais harmoniosa,
também é função da Igreja, que continua a missão de Cristo na história da
humanidade. A igreja do Brasil se insere nessa busca e nessa esperança da
utopia do Ano de Graça do Senhor, olhando para a realidade humana com espírito
critico, mas também com disposição de serviço. Daí a CF/2015 estar discutindo
os graves problemas da sociedade, como a saúde pública, que passa por um
período crítico de perdas de garantias constitucionais e de agravamento de
demandas crônicas no setor, considerado essencial para um ambiente de paz e
bem-estar social.
Se hoje o Brasil passa por uma crise moral, aonde as ações e os investimentos
em saúde pública não chegam às classes populares, isso se deve, em muitos
casos, à falta de iniciativa, vontade política, postura e pro - atividade dos
cristãos católicos, que ocupam os altos escalões da estrutura político-administrativa
do estado. Mas precisamos mudar esse cenário desolador que se abate sobre as
populações mais empobrecidas, com quem a Igreja mostra-se solidária. A grande
massa abandonada, espoliada e explorada, como o eram os judeus na época de
Jesus, precisa reagir e buscar alternativas para conquista do direito a uma
saúde digna e de qualidade.
O SUS esta aí. Só precisa ser resgatado e cumprido na sua essência. Mas nada
acontecerá se os cristãos (católicos, protestantes, espíritas, ateus,
agnósticos) valorizarem mais seus dogmas do que prescultar a vontade de Deus e
os gemidos das ruas. Os radicalismos, fanatismos e homofobias alimentam as
desigualdades. Precisamos de homens e mulheres de boa vontade para começarmos a
experimentar o diálogo intereligioso e intercultural e de coerência na
política. Não basta chorar, jejuar, dar esmola e condenar a crucificação de
Jesus (dos oprimidos). Temos a nossa própria via sacra para trilhar e buscar
amenizar o nosso sofrimento.
Os graves gargalos da saúde e da
assistência passam por três fatores conjunturais e institucionais: 1)
subfinanciamento na alocação dos recursos, 2) má gestão e falta de racionalidade na
aplicação dos existentes e, 3) pelos
desvios oriundos da cultura da corrupção publica e privada.Esses três
fatores se interpenetram e impedem os avanços, melhorias e a aplicação das
políticas públicas de saúde. A esses fatores se soma a falta de controle social
da sociedade e punição aos que se apropriam indevidamente dos recursos. O
Ministério público e o Legislativo são omissos ou lentos na denúncia e o
Judiciário benevolente e tardio nas penalidades.
A Igreja nos apresenta Jesus como Aquele
que conhece o sofrimento de seu povo e com seu ensinamento e prática dialética
(observação, reflexão e ação) condena o imperialismo romano, questiona a posse
da terra pelos saduceus e o poder religioso na mão dos sacerdotes do Sinédrio.
Isso quer dizer que ele questionava a estrutura política de seu tempo e as
teoria do determinismo religioso e da Teologia da Prosperidade (o templo como
instrumento de exclusão e exploração), que pregava que quem tem bens, posse e saúde é abençoado e teria direito à assistência;
quem é pobre e doente é porque é pecador e deveria ser excluído.
Jesus se rebela contra isso, cura os
enfermos, liberta os lunáticos, faz andar os paralíticos, dá a visão aos cegos.
A cura e a saúde fazem parte do seu ministério de salvação, que passa pelo bem
estar físico, mental, espiritual e sócio-político. Quem não conhece a Teologia de Jesus e não
responde ao seu chamado não pode se dizer cristão. (JARBAS ATAÍDE, Macapá- 17.03.2015).
Nenhum comentário:
Postar um comentário