quinta-feira, 23 de abril de 2015

ARTIGO DO GATO



Do que estamos falando?

O Amapá, transformado em Estado em 1988, com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil, ainda não encontrou seu rumo. Esses 26 anos serviram para comprovar que ainda estamos tateando no escuro em busca de um "DNA econômico". Mas essa duas décadas e meia, se não foram suficientes para que definíssemos nossa matriz econômica, serviram para derrubar a tese de que esse problema é culpa dos governos do ex-território.


Essa teoria vem perdendo força desde 1991 quando o amapaense escolheu o seu primeiro governador. Annibal Barcellos. Na realidade uma demonstração inequívoca de que naquele momento estávamos necessitando do amadurecimento político e mais, que precisávamos nos desvencilhar da síndrome de "vira lata", aproveitando a expressão que o jornalista e traumaturgo Nelson Rodrigues imortalizou ao conceituar o espírito de colonizado arraigado no brasileiro.

Veio a eleição de 1994 e um sentimento surgido em 1986 com a eleição de Raimundo Azevedo Costa, para prefeito de Macapá, ganhou força e densidade. Azevedo era um líder político que encarnava essa figura. Negro e uma liderança de oposição que se notabilizou pelo consistente discurso contra o regime ditatorial. Naquele contexto o cidadão dizia que o Amapá precisava ir em busca de sua independência. Nisso tudo tinha uma dose cavalar de "xenofobia". "O Amapá para os amapaenses". Era um basta nos forasteiros.

Mas quem surfou nessa onda foi João Capiberibe. Ele agregou a esse discurso o mote de varrer a corrupção que alegava sangrar os cofres públicos, tirando do poder a oligarquia barcelista. Assim, no entender dele, o Amapá teria novos ares, onde o povo fosse parte de uma nova proposta de governar. Participação popular. Elegeu-se Prefeito em 1989 e governador em 1994. Ascensão meteórica. Uma figura política controversa de uma biografia contestada por alguns e ratificada por outros. Mas o que é fato é que ele trouxe um discurso recheado de frases socialistas, utópicas e até falaciosas, mas era o que o povo queria ouvir depois de ouvir por anos a fio o tropel dos cavalos e o pisar firme dos coturnos.

Essa retórica estava bem alinhada com o sentimento popular e não contaminou só as camadas menos aquinhoadas intelectualmente, mas também as forças políticas que foram dispersas pelo regime de exceção. Os grupos queriam um líder capaz de agregar a heterogenia das diversas matizes partidárias e que evidentemente se opunham ao modus de governar do grupo barcellista. O sentimento era verdadeiro e a vontade de mudança também, nas a escolha do líder foi um grande equívoco. Resultado: veio um governo decepcionante que não preparou o Amapá para o futuro.

João Capiberibe se fechou com o Partido dos Trabalhadores e logo ficou evidenciado que não era o agregador. Era uma fraude. Autocrático e sem experiência gerencial. Iniciou o governo tentando encontrar um discurso que destoasse da retórica política partidária e em 1992 com advento da ECO-92 realizada na cidade do Rio de Janeiro, adotou o forte discurso da sustentabilidade econômica, surgido em 1988 em Estocolmo da Suécia. Esse encontro entre grandes líderes de Nações do mundo inteiro redundou numa agenda global que ficou conhecida como Agenda 21.

Capiberibe transformou os compromissos mundiais em um Plano de governo e o apelidou de PDSA-Programa de Desenvolvido Sustentável do Amapá. Quimera, utopia. Lógico que o Amapá saiu no nada para lugar nenhum, mas serviu como discurso e como catapulta para transportá-lo, para projetá-lo para o resto do Brasil e do mundo. Aos olhos dos ambientalistas de ocasião parecia ser revolucionário um pequeno Estado da Amazônia ousar ir na contra mão da ordem mundial. E poderia ser, não fosse uma farsa. Fomos, mas pra bancarrota.
Paralelo ao desenrolar do governo capiberiano, Waldez Góes, que levou, juntamente com Bala Rocha o PDT para o arco de aliança das esquerdas, comprometido com a mudança política no Amapá, quando percebe a autocracia de Capiberibe, sai do grupo, se fortalece como liderança e derrota Dalva Figueiredo em 2003, assumindo o governo do Amapá.

Naquele contexto era evidente que o maior desafio do novo governo era apagar as impressões digitais de um programa de governo que promoveu um retrocesso econômico no Estado e, por fim ao jogo político de conchavos e traições, marcado pelo personalismo e o terrorismo político, inerente aos ditadores. Waldez conseguiu êxito com relação ao PDSA até por consenso que o modelo não deu certo, porém, com relação ao modo de fazer política e a capilaridade que o PSB alcançou no Amapá, não! Waldez acabou preso, vítima de uma operação policial até hoje não foi compreendida e que aconteceu num momento em que seria a consolidação de um modelo de gestão que estava dando os primeiros passos no incremento do setor primário a partir da agricultura de grãos. Em 2010 Pedro Paulo foi derrotado e assumiu o governo Camilo Capiberibe.

Bem! Os últimos quatro anos me parece bem fresco na cabeça de todos e os resultados alcançados são desastrosos e o que é pior. Endividamento do Estado junto ao BNDES e o Fundo de Participação do Estado sendo dado como garantia para pagamento desses dinheiro gasto com pagamento de dívida. Voltamos no Amapá a sonhar com o plantio de grãos inserção no mercado nacional e internacional através do escoamento de grãos pelo Porto de Santana e a pergunta que não quer calar é: Será esse o caminho do desenvolvimento que o Amapá tanto almeja?


A expectativa com relação a retomada das tratativas iniciadas na primeira gestão de Waldez Góes, mas o fato é que passos nesse sentido foram dados, precisamos apressá-los, pois o tempo urge e o amapaense não tem saída, a água está alcançando as narinas de uma sociedade que agoniza em meio ao desemprego, a violência, a saúde sucateada e uma educação com índices baixíssimos. Arriba Amapá!

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