sábado, 25 de abril de 2015

PIONEIRISMO



Mestre Zacha foi proclamado, quando vivo, patrimônio da capital amapaense. Mais que isso: um amapaense símbolo das aspirações, da cidadania de um povo, trabalhador e generoso, que exige respeito e tem direito de ser feliz...


João Zacharias Teixeira Leite, o Mestre Zacha

Seu Zacharias - o mestre do tempo - é o nosso pioneiro da semana, se vivo fosse, estaria hoje com 112 anos. Presença marcante nas ruas piçarrentas da Macapá antiga, pela postura e inseparável guarda-chuva. Conservador sem perder a noção de que o progresso é a evolução da cidadania e do crescimento de uma sociedade. Militar e amoroso esposo e pai, João Zacharias Teixeira Leite, o Mestre Zacha, foi um dos primeiros moradores de Macapá, e se tornou Prefeito Honorário da Favela.



Paraense, nascido na cidade das mangueiras (Belém), Zacharias Teixeira Leite serviu no 26º BC, e após se formar, seu primeiro destino foi Fortaleza (CE), mas devido a Guerra Mundial e em Natal ficava uma das bases americanas, Dona Raimunda Monteiro Leite o convenceu a vir para o Amapá.

A editoria de pioneirismo escreveu a trajetória de um dos filhos do Tio Zacarias, (era assim que eu o chamava ao chegar a sua revistaria), o primogênito Francisco Assis Monteiro Leite, o ‘Chico Leite’, em fevereiro de 2014. Quando questionado sobre seu genitor Chico Leite foi enfático.

"A preocupação de meu pai era com os estudos dos filhos. O problema era que tinha estourado a 2ª Guerra Mundial e a marinha alemã estava com seus submarinos na costa brasileira afundando navios dos aliados e a minha mãe preocupada com a segurança o convenceu a vir para Macapá e aguardar o fim da guerra. Em 1942, aqui chegando meus pais se estabeleceram e não voltamos mais".

Patrimônio Amapaense
Em sua crônica em homenagem ao Seu Zacarias Leite, publicada na Rádio Antena-1, pelo jornalista João Silva, no dia 05 de novembro de 2003, data do centenário de vida de João Zacharias Teixeira Leite, que faleceu na madrugada do dia 07 de novembro do mesmo ano, dois dias depois de completar 100 anos de vida, reeditamos abaixo:


Mestre Zacha foi proclamado, quando vivo, patrimônio da capital amapaense. Mais que isso -, um amapaense símbolo das aspirações, da cidadania de um povo trabalhador e generoso -, que exige respeito, e tem direito de ser feliz...



Honestidade e decência
Zacharias foi um cidadão acima de qualquer suspeita! Por isso sempre gozou de respeito e consideração de todos, parentes, amigos e conhecidos, pelo excelente conceito de honestidade e decência, em sua vida e em sua história.

Lembro-me de um pequeno relato feito pelo amigo Milton Sapiranga Barbosa, "para  homenagear  as  pessoas  que completaram um  século de vida sem nunca terem feito mal  a  ninguém. Em  especial  ao  senhor Zacarias Teixeira Leite, que  sempre  foi um  exemplo para  seus  filhos e demais familiares, aos  seus amigos   e  também para os  garotos  do  bairro da Favela, que sempre seguiram seus  conselhos, ensinamentos,  e o  respeitavam  como um pai, tanto   que  todos trilharam o caminho  do bem e seu ZACA  teve grande parcela  em nossas vidas". (A Bala da Paz -Milton Sapiranga Barbosa)

Assim que casou, seu Zacharias foi morar com a mulher, D. Dica, na mesma casa simples em que residiu até sua morte, na Av. Mendonça Furtado, fundos do Cemitério Nossa Senhora da Conceição, no antigo Bairro da Favela, em Macapá. A companheira leal, a mãe dos seus filhos - Francisco, João Leite, Lelé, Percival, Maria Lina e Odete - faleceu em 1999 e levou com ela um pedaço do coração do Mestre Zacharias, que ficou triste, reclamando de solidão sem nunca estar só, já que não lhe faltou o calor humano dos familiares, dos amigos, dos muitos amigos!


Para falar a verdade, não foi fácil; como grande e frondosa árvore centenária, resistiu a ventos e tempestades sem nunca ter ido ao chão. Pelo tradicional endereço dos Teixeira Leite, pela sala de visita da velha casa da Favela, passaram figuras influentes nos últimos 50 anos oferecendo cargos, vantagens, fazendo propostas que poderiam macular a imagem de um homem da sua formação, mas a "samaumeira" não cedeu.



 Tranquilo, como sempre, na mesma cadeira de balanço em que viu o homem chegar à lua pela televisão, rejeitou uma a uma todas as tentativas feitas contra sua dignidade.

Ex-servidor público municipal, aposentado do Exército Brasileiro, pé de valsa e namorador, na mocidade tocava trombone na Banda do padre Júlio Maria Lombaerd, ao lado do poeta e amigo, José Serra e Silva (Zeca Serra). Ao responder ao amigo João Silva sobre o que fazer num país como o nosso, para viver cem anos?  Zacharias - o mestre do tempo - respondeu: "Temperança, honestidade, equilíbrio diante dos arroubos da juventude, nada de drogas, nada de bebida, família bem constituída, amigos leais, humildade, amor ao Amapá, ao Brasil e dormir ao lado de quem você ama".

Disse, sem pedir segredo, que o amor pela companheira de mais de 70 anos fora de fato o grande elixir da vida longa e da felicidade duradoura que os uniu e haverá de juntá-los, de novo, um dia, em algum lugar do universo.

Texto atualizado e adaptado da Crônica publicada na Rádio Antena-1, pelo jornalista João Silva, no dia 05 de novembro de 2003, data do centenário de vida de João Zacharias Teixeira Leite, que faleceu na madrugada do dia 07 de novembro do mesmo ano, dois dias depois de completar 100 anos de vida. Leia o Texto Original no  Blog do João Silva (Fonte)

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