Mestre Zacha foi proclamado, quando vivo, patrimônio da capital
amapaense. Mais que isso: um amapaense símbolo das aspirações, da cidadania de
um povo, trabalhador e generoso, que exige respeito e tem direito de ser
feliz...
João Zacharias Teixeira Leite, o Mestre Zacha
Seu Zacharias - o mestre do tempo - é o nosso pioneiro da
semana, se vivo fosse, estaria hoje com 112 anos. Presença marcante nas ruas
piçarrentas da Macapá antiga, pela postura e inseparável guarda-chuva.
Conservador sem perder a noção de que o progresso é a evolução da cidadania e
do crescimento de uma sociedade. Militar e amoroso esposo e pai, João Zacharias
Teixeira Leite, o Mestre Zacha, foi um dos primeiros moradores de Macapá, e se
tornou Prefeito Honorário da Favela.
Paraense, nascido na cidade das mangueiras (Belém), Zacharias
Teixeira Leite serviu no 26º BC, e após se formar, seu primeiro destino foi
Fortaleza (CE), mas devido a Guerra Mundial e em Natal ficava uma das bases
americanas, Dona Raimunda Monteiro Leite o convenceu a vir para o Amapá.
A editoria de pioneirismo escreveu a trajetória de um dos
filhos do Tio Zacarias, (era assim que eu o chamava ao chegar a sua
revistaria), o primogênito Francisco Assis Monteiro Leite, o ‘Chico Leite’, em
fevereiro de 2014. Quando questionado sobre seu genitor Chico Leite foi
enfático.
"A preocupação de meu pai era com os estudos dos
filhos. O problema era que tinha estourado a 2ª Guerra Mundial e a marinha
alemã estava com seus submarinos na costa brasileira afundando navios dos
aliados e a minha mãe preocupada com a segurança o convenceu a vir para Macapá
e aguardar o fim da guerra. Em 1942, aqui chegando meus pais se estabeleceram e
não voltamos mais".
Patrimônio Amapaense
Em sua crônica em homenagem ao Seu Zacarias Leite, publicada
na Rádio Antena-1, pelo jornalista João Silva, no dia 05 de novembro de 2003,
data do centenário de vida de João Zacharias Teixeira Leite, que faleceu na
madrugada do dia 07 de novembro do mesmo ano, dois dias depois de completar 100
anos de vida, reeditamos abaixo:
Mestre Zacha foi proclamado, quando vivo, patrimônio da
capital amapaense. Mais que isso -, um amapaense símbolo das aspirações, da
cidadania de um povo trabalhador e generoso -, que exige respeito, e tem
direito de ser feliz...
Honestidade e decência
Zacharias foi um cidadão acima de qualquer suspeita! Por isso
sempre gozou de respeito e consideração de todos, parentes, amigos e
conhecidos, pelo excelente conceito de honestidade e decência, em sua vida e em
sua história.
Lembro-me de um pequeno relato feito pelo amigo Milton
Sapiranga Barbosa, "para homenagear as
pessoas que completaram um século de vida sem nunca terem feito mal a
ninguém. Em especial ao
senhor Zacarias Teixeira Leite, que
sempre foi um exemplo para
seus filhos e demais familiares,
aos seus amigos e
também para os garotos do
bairro da Favela, que sempre seguiram seus conselhos, ensinamentos, e o
respeitavam como um pai,
tanto que todos trilharam o caminho do bem e seu ZACA teve grande parcela em nossas vidas". (A Bala da Paz
-Milton Sapiranga Barbosa)
Assim que casou, seu Zacharias foi morar com a mulher, D.
Dica, na mesma casa simples em que residiu até sua morte, na Av. Mendonça
Furtado, fundos do Cemitério Nossa Senhora da Conceição, no antigo Bairro da
Favela, em Macapá. A companheira leal, a mãe dos seus filhos - Francisco, João
Leite, Lelé, Percival, Maria Lina e Odete - faleceu em 1999 e levou com ela um
pedaço do coração do Mestre Zacharias, que ficou triste, reclamando de solidão
sem nunca estar só, já que não lhe faltou o calor humano dos familiares, dos
amigos, dos muitos amigos!
Para falar a verdade, não foi fácil; como grande e frondosa
árvore centenária, resistiu a ventos e tempestades sem nunca ter ido ao chão.
Pelo tradicional endereço dos Teixeira Leite, pela sala de visita da velha casa
da Favela, passaram figuras influentes nos últimos 50 anos oferecendo cargos,
vantagens, fazendo propostas que poderiam macular a imagem de um homem da sua
formação, mas a "samaumeira" não cedeu.
Tranquilo, como sempre, na mesma cadeira de balanço em que
viu o homem chegar à lua pela televisão, rejeitou uma a uma todas as tentativas
feitas contra sua dignidade.
Ex-servidor público municipal, aposentado do Exército
Brasileiro, pé de valsa e namorador, na mocidade tocava trombone na Banda do
padre Júlio Maria Lombaerd, ao lado do poeta e amigo, José Serra e Silva (Zeca
Serra). Ao responder ao amigo João Silva sobre o que fazer num país como o
nosso, para viver cem anos? Zacharias -
o mestre do tempo - respondeu: "Temperança, honestidade, equilíbrio
diante dos arroubos da juventude, nada de drogas, nada de bebida, família bem
constituída, amigos leais, humildade, amor ao Amapá, ao Brasil e dormir ao lado
de quem você ama".
Disse, sem pedir segredo, que o amor pela companheira de mais
de 70 anos fora de fato o grande elixir da vida longa e da felicidade duradoura
que os uniu e haverá de juntá-los, de novo, um dia, em algum lugar do universo.
Texto atualizado e adaptado da Crônica publicada na Rádio
Antena-1, pelo jornalista João Silva, no dia 05 de novembro de 2003, data do
centenário de vida de João Zacharias Teixeira Leite, que faleceu na madrugada
do dia 07 de novembro do mesmo ano, dois dias depois de completar 100 anos de
vida. Leia o Texto Original no Blog
do João Silva (Fonte)
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