sábado, 25 de abril de 2015

Zamin foi um mau negócio

Zamin foi um mau negócio

Mineradora é acusada de ser a responsável por demissões em massa, abandonar a estrada de ferro que liga Santana a Serra do Navio e não aplicar recursos deixados para recuperar o porto destruído em 2013. A Zamin ainda responde a ações na Justiça por danos ambientais e falta de pagamento a empresas terceirizadas, além de gerar uma crise econômica em municípios amapaenses.

 
A Zamim ao assumir a mineração no Amapá teve como recepção o trágico acidente no Porto de Santana


Da Redação

A saída da Zamin Ferrous da exploração de ferro no Amapá deixou uma certeza, foi um mal negócio para o Estado. A empresa chegou ao Amapá depois que a Anglo American não conseguiu administrar a crise gerada em 2013 com o acidente ocorrido no porto de embarque da mineradora localizado no município de Santana.

Além de perder equipamentos, seis funcionários morreram. A estrutura foi interditada e o fato repercutiu negativamente para a Anglo, que ao contabilizar o prejuízo anunciou que não havia prazo para o retorno ao trabalho. O que veio em seguida foi a ameaça e demissão em massa de trabalhadores dos polos de Santana e Pedra Branca.

No mesmo ano a Anglo American anunciou a transferência de controle do Sistema Amapá para a Zamin Ferrous. Pouco tempo depois o negócio se concretizou com a modificação do contrato incluindo a venda em 100%. A Anglo estava no Amapá desde 2008. O acidente no porto teria sido o motivo da venda. Depois do fato, a empresa assinou acordo com seu sócio, a Cliffs Natural Resources para comprar sua parte de 30% da mina e assim assumir 100% do controle. O grupo pôde então modificar o acordo assinado com a Zamin pelo qual devia vender 70% da mina para entregar a ela sua totalidade, de acordo com declarações feitas pela própria empresa que repercutiram na mídia nacional.

Sites especializados em mineração divulgaram que a Anglo American recebeu como primeiro passo da negociação nada menos que 136 milhões de dólares. A Zamin, que fechou o negócio, projetou entregar até 130 milhões em cinco anos em função do preço do mineral de ferro. Para a Anglo, a empresa adquiriu 70% do Amapá em 2008, dentro de uma transação que girou em torno de 5,5 bilhões de dólares e que também permitiu assumir o controle de 100%, e 49% da operadora portuária LLX Minas-Rio, do empresário Eike Batista. O grupo Zamin é especializado em ferro e explora o minério não só no Brasil mas também no Uruguai.

No Amapá, a Zamin teve anuência dos deputados estaduais para transferir para si o controle societário da Anglo American. O governador do Amapá, na época Camilo Capiberibe foi a favor depois de receber a visita do presidente do grupo Zamin, Pramod Agarwal que pediu total apoio na regularização da concessão da Estrada de Ferro do Amapá (EFA).

A empresa se instalou como uma gigante no mercado brasileiro desde 2005, quando chegou ao País. Ela opera as minas Susa, no Rio Grande do Norte (RN) e Greystone, na Bahia. Aqui, opera a Zamapá Mineração desde 2011 e se fortaleceu ao adquirir o Sistema Amapá, da Anglo American.

Mas a gigante do minério demonstrou não saber lidar com problemas. Depois de “engolir” a Anglo, a indigestão veio logo no ano seguinte. A Zamin parou em 2014 alegando que não tinha como estocar minério. A empresa não teria conhecimento da real situação em que ficou o porto após o acidente de 2013. Sem ter como escoar, para que produzir? Os problemas prosseguiram e o segundo passo foi a demissão em massa de centenas de trabalhadores que ainda ficaram sem receber o décimo terceiro salário e as férias. Sob pressão, a Zamin anunciou um acordo para resolver os pagamentos em atraso.

INTERVENÇÃO DO GEA
Fato registrado por trabalhadores para
denunciar o sucateamento da ferrovia

Um outro problema deixado é a estrada de ferro. A situação é tão grave que o Governo do Amapá anunciou que deve intervir e a empresa poderá responder a processo administrativo no prazo de um mês. A manutenção da estrutura construída na década de 50 pela Icomi para os mesmos fins de hoje, transporte de minério, não recebia os reparos prometidos pela Zamin, que se comprometeu em administrar a ferrovia. Se for processada, a mineradora terá seis meses para apresentar defesa sobre os motivos de ter falhado na manutenção da estrada de ferro.

Os prazos já foram homologados pela Procuraria-Geral do Estado (Prog). Para o subprocurador-geral Julhiano César, a inspeção no local serviu para detectar danos graves como falhas nos trilhos e pessoas morando de forma inadequada  às margens da ferrovia. Em uma de suas declarações, Julhiano disse que "o parecer da Prog defende o direito que o Governo do Amapá tem de se responsabilizar pela ferrovia". O processo já está com a Secretaria de Estado dos Transportes. O próximo passo é definir com o GEA o que deve ser feito para que a estrada de ferro volte a funcionar. ", explicou Julhiano.

Funcionários da Zamin Amapá em greve.

Com a paralisação, produtores rurais foram prejudicados e estão sem ter como comercializar na capital o que colhem no interior. Eles esperam que com a intervenção do Estado, tudo volte ao normal. As análises começaram a ser feitas no início do mês depois de uma reunião no Palácio do Setentrião. Nela, se observou o parecer jurídico da paralisação que foi submetido à apreciação e deferimento da Procuradoria. A reconstrução do porto também foi tratada.
 
Em reunião com representantes dos funcionários da Zamin, o governador
afirmou que a administração tomará todas as medidas


CALOTES E CRIMES AMBIENTAIS
Deixando um rastro de prejuízos para o Amapá, a Zamin deve responder ainda por muitas outras questões na Justiça. Entidades sociais e o Ministério Público por exemplo, querem saber sobre danos ambientais causados à região onde era explorado o minério de ferro. No último dia 20, o promotor de Justiça do município de Serra do Navio, Wueber Penafort esteve à frente de uma reunião que colocou a Zamin na berlinda. A promotoria já move uma ação contra a mineradora. Já as empresas que prestaram serviços para a empresa e levaram calote foram obrigados a demitir nada menos que 800 funcionários.

Diante da situação conclui-se que a Zamin causou não só danos ambientais como também econômicos e sociais. É a segunda ação movida contra a empresa. A primeira, ano passado, trata somente de questões ligadas ao meio ambiente. Uma delas envolve um erro no projeto das barragens de rejeitos.

A falha acabou por contaminar a bacia hidrográfica da região. O resultado foi o prejuízo a 23 famílias de ribeirinhos que ficaram impedidos de voltar a tirar o sustento do local.

Esta ação do MP quer o bloqueio de bens e contas bancárias da Zamin até R$ 200 milhões. Em fevereiro passado, o Ministério Público do Amapá entrou com Ação Cautelar pedindo a despersonalização da pessoa jurídica da mineradora.
 O objetivo é entrar no patrimônio particular de Pramod Agarwal, principal acionista da Zamin. O MP anda quer a retenção do passaporte do indiano e o bloqueio de bens pessoais e contas bancárias. Para os promotores que movem as ações, esta é a única maneira de garantir o ressarcimento dos danos causados no Estado pela empresa estrangeira. 

ABANDONO TOTAL


A preocupação com o caos provocado pela Zamin no interior do Amapá também parte da Assembleia Legislativa. Os deputados que fazem parte da Comissão de Transportes e Obras organizaram uma visita à mineradora e disseram ter constatado o abandono das estruturas localizadas no município de Santana. Augusto Aguiar (PMDB) e Fabricio Furlan (PSOL), presidente e vice-presidente da comissão passaram cerca de duas horas no local. "A área está deserta", disseram os parlamentares.

A situação é resultado da demissão de 1.390 funcionários, do total de 2.500 contratados pela Zamin. De acordo com Aguiar, foi observado tanto o porto quando a ferrovia. A partir do que foi visto, providências poderão ser tomadas. Uma outra situação foi o minério estocado e coberto com lonas plásticas. A poeira acaba sendo levada pelo vento ou escorrendo para o rio, o que significa contaminação. Enquanto se observa os danos provocados pela mineradora, a situação de Pedra Branca e Serra do Navio vai de mal a pior. A mineradora garantia o aquecimento da economia nos dois municípios, resultado da extração e escoamento do minério de ferro pelos 193 quilômetros de ferrovia até Santana. A comissão falou ainda dos R$ 80 milhões para a reconstrução do porto, deixados pela Anglo, mas nada foi feito pela Zamin. Os parlamentares agora farão um relatório que será entregue ao Governador Waldez Góes e  Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).

MUNICÍPIOS FALIDOS

Poucas vias são asfaltadas em pedra Branca do Amaparí

Economicamente, Pedra Branca e Serra do Navio estão falidos com a saída da Zamin Ferrous. Já são dois meses de paralisação das atividades da estrada de ferro. Para ter uma ideia do estrago, 100 servidores de cargos comissionados foram exonerados da prefeitura de Pedra Branca, que também foi obrigada a reduzir despesas e cortar em 30% os salários do prefeito, secretários e servidores. A Zamin era um ducto por onde chegava o oxigênio aos “pulmões” do município. De acordo com a Secretaria de Estado do Planejamento, a exploração mineral representava 34,88% do Produto Interno Bruto da cidade.


Segundo o prefeito Genival Gemaque, o esforço tem sido muito grande para manter os salários dos servidores em dia, mas quem recebe por contrato está com os vencimentos atrasados. A prefeitura não recebe a tributação da Zamin há dois meses e a crise se agravou ainda mais.O montante chega a R$ 8 milhões. Só o recolhimento de Imposto Sobre Serviços (ISS), gerava uma receita de R$ 500 mil ao mês. Era quase 100% do ISS que abrange outras 93 empresas do Cadastro Municipal, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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