quinta-feira, 21 de maio de 2015

ARTIGO



Juridiquês faz sentido?

Uma breve história sobre o que você faz pra melhorar sua vida.

Lembrei-me recentemente de uma história de quando eu ainda estava na universidade (UNEB). É uma história de uma certa matéria ministrada por um dado professor. Mas a história não começa de forma tão vaga para não citar nomes, mas porque realmente não lembro qual foi a matéria e nem o professor. Apenas que a matéria tinha algo a ver com direito e este professor era auditor fiscal. Agora vou explicar o motivo dessa minha amnésia.

Esta matéria era opcional e o professor vinha de um outro colegiado, o de ciências humanas. Mas Shankar, o Direito não é um curso de ciências humanas? O que eu não disse ainda é que me formei em Sistema de Informação (um curso de ciências exatas), e sei/gosto tanto de "juridiquês", quanto meus amigos advogados sabem/gostam de "informatiquês".

Só que o problema não era esse, afinal, eu sabia falar muito bem o português. Mas mesmo assim, não entendia 20% do que o professor falava na aula. E já incomodado com isso, perguntei:

- Professor, por que você fala de forma tão rebuscada? Você não acha que isso dificulta o principal objetivo da comunicação, que é se fazer ser entendido por todos?

Eu esperava qualquer resposta, menos essa e com um sorriso irônico no rosto:

- Shankar, as vezes, numa comunicação, o objetivo é justamente não ser entendido por todos.

Bem, o que dizer depois disso? Meu professor tinha acabado de dizer que o objetivo dele era justamente não ser entendido por todos. Eu não tinha mais o que fazer naquela matéria, a não ser nunca mais voltar e lamentar. Lamentar por aquela pessoa pensar dessa forma, ser profissional do direito, ser professor e ainda falar um absurdo desse numa sala de aula.

Mas por que eu lembrei dessa história? Porque, de um modo ou de outro, sempre vivi (de fora) o dia a dia do advogado. Primeiro estagiei num escritório de advocacia (eu era "o menino da informática"), depois, 6 anos atrás, comecei a estagiar no Jusbrasil. E lá se vão anos e anos vendo como a vida de advogado é sadomasoquista, ops, quero dizer, sofrida!

O sofrimento do meio jurídico é causado pelo próprio meio. A falta de objetividade traz um sofrimento em cadeia.

Pra começar, o Direito é realmente subjetivo, cada caso é um caso e não tem como criar uma máquina que defina de forma automática e precisa a sentença de um caso. Mas a subjetividade pode ser objetiva ou prolixa, você escolhe.

O advogado pode ir direto ao ponto. O advogado pode ser claro e objetivo. O advogado deve se fazer ser entendido. Quanto mais rápido ele for entendido, menos tempo ele precisa perder explicando. No design (esqueci de falar, também sou designer), existe o princípio do minimalismo (o qual concordo e sigo fielmente). Este princípio quer dizer o seguinte: "o menos é mais"! Ou seja, só dê ao usuário o que ele realmente precisa para usar seu produto. Sim, advogados são designers, projetam e desenham peças (produto) que serão lidas (usadas) por outras pessoas (usuários). Mas nem todo designer, quero dizer, advogado segue o minimalismo.

Uma vez, quando ainda estagiava no escritório de advocacia, perguntei por que numa peça alguns trechos estavam em negrito, outros em LETRAS MAIÚSCULAS, outros em itálico, outros _sublinhados_ e outros _TINHAM TUDO JUNTO_. Me responderam:

- Essas partes em destaque são as partes que o juiz lê.
Entendi... Então por que escreve aquilo tudo que o juiz (usuário) não lê e o cliente (outro usuário) não entende? Seu produto deixa de ser útil.

Já ouvi também absurdos como "isso [o juridiquês] é proposital para que as pessoas precisem de advogado para tirar as dúvidas simples", mas não faz sentido, porque o advogado não ganha pra fazer essas pequenas consultorias diárias. E ele acaba perdendo muito tempo esclarecendo dúvidas simples ou não conseguindo atender seus clientes, passando uma imagem de "enrolado". Mas não é enrolado, é ocupado!O advogado perde preciosas horas do dia escrevendo textos enormes para explicar coisas simples. Por outro lado, alguém vai precisar ler esses textos enormes para entender coisas simples. Faz sentido?

A última (e acho que única) vez que precisei me comunicar com um advogado desconhecido para tratar de assuntos jurídicos, a minha primeira resposta foi:

"Por favor, eu acho um saco isso de juridiquês, não me passa a menor confiança, pessoalidade e ainda toma um tempo meu e seu. Por favor, nós somos jovens, vamos mudar esse paradigma e conversar como pessoas normais. Obrigado!"

A partir disso nossa comunicação mudou e se tornou muito mais efetiva. Mas nem todo mundo tem "coragem" de falar isso para um advogado ou para um professor. Por isso continuo falando sempre que posso... Facilitem o Direito, que estarão facilitando suas próprias vidas.

Por favor, parem de usar o juridiquês. Quando a população passar a entender melhor o Direito, os advogados terão mais tempo para fazer as atividades prazerosas. Como fazer um esporte, academia, meditação, estudar, assistir um filme e curtir a família sem ficar pensando em prazo.

Faz sentido? Comente o que você acha e não esqueça de recomendar a leitura clicando na setinha pra cima! Ajude o Direito a ser mais objetivo e até mesmo divertido, por que não? 

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