A não tão comentada
‘Dívida Pública’ do Amapá
Tenho citado em artigos anteriores a atual ‘Dívida Pública’
do Brasil que absorve, por ano, mais de 40% de tudo que é pago pelo Governo
Federal. O Amapá também já tem sua Dívida Pública, e não é pequena para sua
capacidade econômica. Entretanto, não tem tido a repercussão devida para a
gravidade que o caso requer. Para um melhor entendimento sobre o tema, faz-se
necessário que sejam analisados vários cenários não só da economia local, como
também de outros Estados.
O PIB do Estado do Amapá em 2012 foi de R$ 10.4 bilhões de
reais. Isto representou um aumento de 16,19% em relação à 2011. Em 2012, o
valor adicionado do PIB do Amapá participou com 0,3% na economia do país. O PIB
per capita do Estado foi de R$ 14.914,84, apresentando um crescimento de 13,81%
em relação ao ano de 2011. Na participação das atividades econômicas por setor
destaca-se os serviços com 85,9%, dos quais 47,3% vem da participação da
Administração Pública. Esta atividade (serviços), muito embora tenha
apresentado uma insignificativa redução em 2012, vinha em crescimento desde
2009 (SEPLAN/ COPESEF/ NÚCLEO DE ESTATÍSTICA).
Como podemos constatar, este crescimento do PIB do Amapá
ainda é muito pouco representativo. Se por hipótese, ele crescesse três vezes
mais do que é hoje, ainda assim não alcançaríamos 1% do PIB nacional. Com isso
podemos comparar o tamanho da nossa economia com o resto do país.
Considerando o Orçamento do Estado do Amapá, em 2015, no
valor de 5,574 bilhões de reais, composto de 71% de repasse do governo federal
e 29% de arrecadação própria, podemos concluir que ainda somos excessivamente
dependentes das transferências dos recursos da União.
Entretanto, o
engessamento do Estado do Amapá não se limita apenas ao tamanho da sua
economia, nem tampouco o seu orçamento e sim a Dívida Pública que foi contraída
ao longo de dezessete anos (1996 à 2013). Para que esta dívida fosse
contratada, o Governo do Amapá deu como garantia o FPE, que é a sua principal
receita. Porém, a Dívida Pública foi se avolumando, principalmente de 2010 a
2013. 58,33% dos contratos foram feitos neste período. Ou seja, fez um grande
consignadão para o povo amapaense.
A Dívida Pública Consolidada do Amapá é de R$ 1,636 bilhão de
reais (Banco Central, jan/2015) e representa 29,35% do Orçamento Anual do
Estado do Amapá. Como esta Dívida é
pública, deverá ser paga pelos amapaenses. A população do Estado,
incluindo-se as crianças e os idosos, é de 750.912 habitantes (IBGE/2014).
Portanto, dividindo-se a dívida total contraída pelo total da população
obteremos o valor de R$ 2.179,79. Este valor encontrado é a dívida média atual
de cada habitante do Amapá.
Tomando por base comparativa o Estado do Pará, nosso vizinho,
faço o mesmo exercício: Dívida Consolidada do Pará: R$ 2,923 trilhões de reais
(Banco Central0-Jan/2015). Orçamento de 2015 do Estado do Pará: R$ 1,636
trilhão de reais. População estimada do Pará: 8.073.924 de habitantes
(IBGE/2014). Utilizando o mesmo raciocínio feito para o Amapá, chegaremos ao
valor de R$ 362,07 como o equivalente ao que cada habitante do Pará deverá
contribuir com o pagamento da Divida Pública. Com isso, concluímos que cada
amapaense terá que pagar seis vezes mais do que um habitante do Pará para
sanear a Dívida Pública do seu Estado.
O pagamento da dívida do Amapá termina em 2034, com o
empréstimo que foi contratado para o pagamento da dívida da CEA., de R$ 1,4
bilhão de reais. O que chama a atenção é que os empréstimos, em grande maioria
foram para custeio, ou seja, para pagamento de despesas, pura e simplesmente, e
não para investimento em infraestrutura para alavancar o desenvolvimento
econômico do Estado. Portanto, o pagamento das dívidas não tem retorno para o
Estado. Com o ajuste fiscal imposto pelo governo de Dilma (PT), os Estados e
municípios serão diretamente e duramente atingidos, e o Amapá não ficará de
fora, uma vez que, como já citado, a maior parte de sua receita são os repasses
do Governo Federal.
Vejam bem! Dívida Pública elevada e ajuste fiscal significam
uma combinação perigosa. Outro dado importante é o do Ranking de Gestão e
Competitividade dos Estados Brasileiros (2013/2014), elaborado pelo grupo
inglês Economist. Pelo terceiro ano seguido o Amapá foi apontado como o
pior Estado para investimentos estrangeiros no Brasil. O Amapá ficou na
"lanterna" da lista após avaliação de 26 indicadores, entre eles a
corrupção, com análise na difusão de prática ilícita entre funcionários
públicos, número de investigações e sistemas em vigor para prevenir atitudes
delituosas. Nesse item, o Amapá recebeu nota zero. Na pontuação final, o estado
levou 18,6 pontos em uma escala de zero a 100 (Diário do Amapá, 09/05/2015).
Como então buscar alternativas para o crescimento econômico?
De acordo com a Folha de S. Paulo, edição de 15 de junho
último, a crise econômica e a dificuldade de arrecadação levaram os governos
estaduais a cortar drasticamente os investimentos este ano. São obras paradas,
adiamento de projetos e atraso de pagamento de serviços, mesmo nos Estados mais
ricos do país. Há casos em que o corte foi quase total, como Minas Gerais, com
queda de 97%, e Distrito Federal, 91%. Isto nos primeiros quatro meses deste
ano. Neste período, o recuo dos investimentos no Brasil foi, em média, 46%.
Aqui no Amapá, a queda dos investimentos foi de 71,3%. Na Região Norte, o Amapá
só ganhou do Acre (71,4%), e por margem insignificante. Mas o que é desolador
pelo lado do Amapá em 2014 é que, enquanto na Região Norte os outros Estados
mantiveram investimentos em obras, o Estado do Amapá teve o pior desempenho,
investindo apenas 19,4 milhões de reais. Ficou em último lugar.
Agora sem caixa, como vimos, os governos têm o seu maior
desafio: manter as obras que já vinham sendo feitas, os serviços públicos
funcionando e o pagamento dos servidores atualizados. Sem obras novas, a
economia como um todo acaba sendo afetada. As vendas do comércio estão em queda
livre pelo terceiro mês seguido (fevereiro, março e abril/2015), segundo dados
apontados pelo IBGE. Em abril, o desempenho do comércio do Amapá ocupa a 4ª
pior posição do Brasil: -9,2% (PMC/IBGE).
Com essa desaceleração vem o desemprego. Dados divulgados
pelo IBGE (PNAD/Contínua) apontaram que o Amapá ficou com a 2ª maior taxa de
desocupação, 9,6% no 1º trimestre de 2015, perdendo apenas para o Rio Grande do
Norte, que foi de 11,5%. A população desocupada no Amapá foi estimada em 32 mil
pessoas.
A explicação sobre a
conjuntura atual do país e do Amapá é fundamental para entendermos e exigirmos
transparência dos dados relacionados a Divida Pública, que tem absorvido a
maior parte dos recursos orçamentários, sacrificando toda a população e
comprometendo o futuro do país e, consequentemente, dos Estados e municípios. A
transparência é um princípio consagrado na Constituição Federal e a Lei de
Responsabilidade Fiscal determina que todas as despesas e receitas da gestão
fiscal sejam publicadas de forma transparente e com amplo acesso público. Isto
é lei e é para ser cumprida.
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