O
Pico do Solo e a degradação da biocapacidade
“É
preciso meio milênio para construir dois centímetros de solo vivo
e apenas segundos para destruí-lo”. (Stephen Leahy, 2013)
e apenas segundos para destruí-lo”. (Stephen Leahy, 2013)
A Organização das Nações Unidas (ONU) definiu 2015 como Ano
Internacional dos Solos. É uma tentativa de chamar atenção para a riqueza e a
fragilidade deste patrimônio natural que tem sido usado como um recurso próprio
dos interesses egoísticos da humanidade. Os solos do mundo têm sido degradados
pelo crescimento urbano, da agricultura e da pecuária. O dia 5 de dezembro foi
instituído Dia Mundial do Solo.
Segundo a Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), os índices de degradação e
contaminação do solo são preocupantes: 33% das terras do planeta estão degradadas,
por razões físicas, químicas ou biológicas. Sem o solo fértil, a humanidade
ficaria privada de fontes de alimentação e haveria dramática perda de
biodiversidade, comprometendo o bem-estar econômico, social e ambiental,
especialmente das populações mais pobres. Como mostrou Stephen Leahy (2013): “É preciso meio milênio para construir dois
centímetros de solo vivo e apenas segundos para destruí-lo”.
Enquanto um terço das terras
aráveis do mundo tornaram-se improdutivas, há a necessidade de aumentar a
produção de comida para alimentar mais de nove bilhões de pessoas previstas até
2050. Haverá a necessidade de 60 por cento mais calorias. Porém, não há vida
sem solo. Um punhado de solo pode conter meio milhão de espécies diferentes,
incluindo formigas, minhocas, fungos, bactérias e outros microrganismos. Sem
solo não podemos sustentar a vida humana e das demais espécies.
Segundo o relatório Planeta Vivo,
da WWF, em 1961, a pegada ecológica global per capita era de 2,4 hectares
globais (gha) e a população mundial era de 3,1 bilhões de habitantes, sendo a
biocapacidade per capita de 3,7 gha. Desta forma, a humanidade ainda estava
utilizando 63% da capacidade regenerativa da Terra, havendo certa
sustentabilidade ambiental. Em 1975, a pegada ecológica e a biocapacidade per
capita passaram, respectivamente, para 2,8 gha e 2,9 gha. A partir desta data
as atividades antrópicas ultrapassaram os limites biológicos da Terra. Em 2010,
a pegada ecológica per capita mundial ficou em 2,7 gha e a biocapacidade em 1,8
gha, sendo que a população global chegou a quase sete bilhões de habitantes.
Portanto a humanidade estava usando um planeta e meio em 2010. Já existe
déficit de biocapacidade. A sobrecarga humana também é retrata na metodologia
das fronteiras planetárias.
Uma das bases da biocapacidade do
Planeta é o solo que fornece quase todos os alimentos da população mundial,
pois apenas um por cento das calorias vêm dos oceanos. O solo também pode
absorver grandes quantidades de carbono, perdendo apenas para os oceanos. Ao
contrário, a erosão libera carbono no ar. Mas com boas práticas e decrescimento
das atividades antrópicas, o solo pode ser um lugar seguro. O reflorestamento
com espécies nativas e o crescimento das plantas podem recuperar os terrenos,
sequestrar carbono e liberar oxigênio. A recuperação dos solos passa também
pela permacultura, a agricultura orgânica e um redimensionamento das atividades
antrópicas.
A agricultura primitiva surgiu no
Crescente Fértil (região do atual Oriente Médio) e avançou para as várzeas dos
rios, onde o ciclo de cheias garantia a fertilização da terra. Com o
crescimento populacional as plantações avançaram sobre as florestas, utilizando
a riqueza orgânica produzida em milhares de anos. Mas no começo do século XX, a
indústria de fertilizantes químicos passou a fornecer os adubos químicos e os
agrotóxicos necessários para a expansão agrícola. Novos solos foram
incorporados e a produção mundial aumentou. Mas este modelo tem dois ‘Calcanhares
de Aquiles’. Um é a dependência aos recursos fósseis (não renováveis). O outro
é a poluição provocada pelos elementos químicos utilizados: nitrogênio, fósforo
e potássio.
A agricultura altamente
tecnificada e petrificada não se sustenta no longo prazo, pois não terá solo
para se reproduzir. Segundo o próprio diretor-geral da Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), José Graziano: “A agricultura atual não é sustentável”.
Desta forma, é preciso evitar o “pico do solo”, combater a erosão, a poluição
química e recuperar a biocapacidade da Terra, questões essenciais.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista
do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e
doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional
de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter
pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Publicado no Portal EcoDebate, em 17/06/2015.
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