O governo negociou.
Negociou?
Os
representantes do governo federal, frente aos microfones midiáticos, bradam que
os movimentos e sindicatos estão apressados demais, que é necessário entender o
momento e esperar a apresentação de propostas que respondam ao anseio das
categorias. Apesar dos brados, a greve nas universidades federais estende-se e
aproxima-se das 40 instituições paralisadas. A cada semana, novas universidades
em assembleias de docentes, técnicos e estudantes deflagram greve. Após quase
um mês da deflagração nacional e pressionado pela crescente paralisação nas
universidades, o governo aquiesceu com uma reunião no dia 23 de junho. A
promessa acalantada por todos, quer favoráveis ou contrários à greve, era a de
que o governo negociaria e as tão decantadas propostas seriam finalmente
apresentadas. O dia da reunião chegou. O governo negociou. Negociou?
Negociar
significa cotejar suas propostas com as reivindicações apresentadas pelos querelantes,
nesse caso, a sociedade universitária, na qual se inserem os docentes. O
Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES-SN)
segue levando ao governo as pautas de reivindicação nascidas no interior das
universidades federais. As principais reivindicações incluem a defesa do
caráter público da universidade, melhores condições de trabalho, garantia de
autonomia, reestruturação da carreira e valorização salarial de ativos e
aposentados (Veja detalhes das reivindicações na Carta 109/2015 do ANDES-SN
encaminhada ao SESu/MEC em http://bit.ly/1e4qnQr). Some-se a isso o corte de
quase 10 bilhões de reais da educação e a possibilidade de contratação de
docentes por meio de Organizações Sociais (OS), estratégia que objetivamente
reduzirá a qualidade das universidades federais, além de colocar o magistério
federal como carreira em extinção.
A
resposta do governo apresentada no Ofício 45/2015 GAB/SESu/MEC (Disponível em
http://bit.ly/1GrpsBd) e explicitada na reunião do dia 23 de junho deixa claro
que a negociação tão esperada não veio.
O ofício, assim como a reunião, apresenta uma seqüência de palavras
vazias que pretende assegurar que as solicitações estão sendo atendidas quando,
na verdade, nada, mas nada mesmo, é oferecido. O representante do governo
simplesmente aponta ações já existentes, muitas das quais os docentes
discordam. E conclui o documento, dado o contexto, de forma irônica, com a
seguinte afirmação: “Diante do exposto, reafirmamos nosso compromisso em
analisar e atender, dentro do possível, as demandas que vem sendo apresentadas
por Vossas Senhorias (...)”. Ou seja,
nada de novo, nada de negociação. Como já se esperava (embora alguns se
iludissem), o governo tergiversou e fingiu negociar, empurrando a paralisação
com a barriga. O governo chamou para enrolar, para fingir uma preocupação com a
educação que realmente não tem. Uma vez que não demonstra o interesse em
resolver as demandas, é possível reconfigurar a fala de algumas pessoas que se
colocam contra a paralisação, e dizer: “Com essa greve, o governo Dilma
prejudica os alunos!”
Lamentavelmente
todos que desejam o desfecho da greve, incluídos aqueles à frente das
atividades de paralisação como os docentes que compõem as diretorias das seções
sindicais, os comandos nacional e locais de greve e os participantes das
manifestações, terão que esperar um pouco mais. Pois, dado o contexto e a
postura intransigente do governo federal, é necessário intensificar as
atividades de paralisação, ou como diz Paulo Rizzo, presidente do ANDES-SN, é
fundamental a manutenção e o fortalecimento da greve. Devemos continuar
unificando docentes, servidores técnico-administrativos, alunos e sociedade
civil em defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade socialmente
referenciada.
Após
mais de um ano de negociações interrompidas unilateralmente pelo governo, essa
reunião do dia 23 de junho, mesmo com o MEC não tendo apresentado nada concreto
e sem o Ministro da Educação ter se feito presente nas reuniões, foi
tremendamente significativa. Ela mostra o acerto da greve, pois o governo que
ignorava a solicitação de audiências voltou à mesa e está sendo forçado a ter
que receber os representantes docentes. Esse é o primeiro passo para que as
negociações aconteçam. Então, o governo ainda não negociou, mas graças à greve
e à luta coletiva, em breve negociará!
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