Feiras Livres de Macapá
Uma tradição desprezada pelo município
Peixes vendidos sem refrigeração, frutas e verduras expostas
no chão de bancadas, sem a menor higiene, são alguns
dos problemas apontados na matéria sobre as Feiras Livres de Macapá, que também
menciona os canais de água poluídos pela limpeza de peixes que cortam as feiras
e a presença de cães e urubus, que praticamente disputam os alimentos com os
consumidores. Devido a essa situação vergonhosa, não é de se estranhar que os
feirantes reclamem de prejuízos e da perda de clientes para os supermercados.
Cadê a Prefeitura de Macapá?
Reinaldo
Coelho
Da Editoria
Nas
feiras livres, misturam-se cheiros e odores diversos de muitas especiarias, e
uma vitrine de carnes, como língua de boi, rabada, buchada, fígado, frango
retalhado; ou ainda, o odor de peixes variados, que se misturam com cebolas e
alhos de outra banca, onde à frente estão às peras, maçãs, laranjas, abacaxis,
melancias, mamões, maracujás, bananas, encostadas com barracas de tomates e que
teimam estar próximas com as barracas de pastéis que transmitem ao longe essas
frituras, e estão sempre lotadas de fregueses, ficando ao lado do caldo de cana
de açúcar, garapa extraída através da moenda da cana.
Tudo
muito "bem pesado" em balanças bem niveladas sobre o tabuleiro, as
tradicionais mecânicas, ou as atuais eletrônicas, ou ainda produtos que eram
vendidos por dúzias agora são vendidos a quilo. Enfim, uma gama de produtos sem
fim, que dão o ar rarefeito de local para encontros dominicais, de uma bagunça
feliz, que vista de fora por um estranho, por falta de costume, mal entenderia
tanto "zum-zum-zum" e gritaria.
Fiquei
pensando: por que gostam de ir à feira? Poderia deixar para comprar em hora
mais conveniente, numa passada. Ora, adquirir esses produtos em supermercado
estabelece um ritual completamente diferente. Nessas lojas as mercadorias
parecem que estão lá abandonadas. São tomates, alfaces e cebolas completamente
anônimas, genéricas.
Na
feira há a mediação humana do feirante. É possível perguntar:
n
Essa mandioca abre?
o
Abre! Pode levar que eu garanto.
Se
não abrir, na semana seguinte a prosa continua.
O
supermercado é seco, sem circunstância. Um não-lugar. A feira é, por sua vez,
uma extensão da horta caseira. A horta do Luiz que mora em nossa memória
ancestral e, a memória é umas de nossas estruturas básicas. Supermercado é a
pura solidão do consumo.
Bom
isso é uma crônica saudosista? Não é o cotidiano que até hoje se mantem em
muitas cidades brasileiras. As Feiras Livres de São Paulo são centenárias e o
poder público municipal as revitalizam, para manter a cultura tão brasileira.
Uma
das características das Feiras Livres, que tem sua origem antes de Cristo, os
egípcios já a tinham é a da pechincha, muito comum nos mercados do oriente
médio.
Hoje no mundo dos
oligopólios, as feiras livres ficam no segundo plano do convívio comercial,
tendo em vista que, o que predomina hoje em dia é a formação de supermercados.
Os supermercados substituem as feiras livres e até mesmo, o comércio natural da
cidade, ao se considerar que tudo que se busque para o dia-a-dia do ser humano,
encontra-se nos supermercados. Dentro deste complexo de comércio existem as subdivisões
que funcionam como empresas individualizadas, com todas as funções próprias e
independentes, trabalhando a sua própria realidade. Portanto, nesta estrutura
de mercado já não existe a pichincha (pedir para baixar os preços) e nem
a competição acirrada na busca de conseguir consumidores, como no mercado
livre.
A realidade macapaense
Nos
bairros do Central, Trem, Pacoval e Buritizal as feiras livres são o retrato do
desleixo, do descaso e da falta de cuidado com a saúde pública.
As feiras livres de
Macapá passam uma das piores crises de todos os tempos. Essa é a opinião dos
que trabalham nas feiras da Avenida Primeiro de Maio, do Pacoval e da Rua São
José, no Centro.
Feira
Livre do Bairro do Trem
A
feira livre da Avenida Primeiro de Maio é uma das mais antigas da cidade e foi
responsável, por mais de 20 anos, pelo abastecimento do Bairro do Trem, do
Buritizal e adjacências.
Hoje
o que se vê ali é o abandono, desestruturada tem nos feirantes ímpetos que ali
se mantêm desafiando os percalços, caso da feirante Dona Raimunda, uma das mais
antigas do local. "Eu tenho 20 anos de feirante aqui na 1º de maio,
tínhamos um bom movimento que com a decadência da estrutura da feira foi
afastando os clientes, hoje temos somente os que moram no entorno da
feira".
A feirante dona Raimunda trabalha há mais de 20 anos na Feira da 1º de Maio, Bairro do Trem. |
O
abandono por parte dos órgãos municipais é grande, pois até as reformas dos
boxes é realizado pelos feirantes que afirmam que o prefeito Clécio Luiz esteve
em campanha e prometeu reforma. "A chuva alaga todo o local, as goteiras
prejudicam o nosso trabalho. Não temos como guardar o nossos produtos, pois a
noite é abrigo dos marginais. Muitos das bancas já foram retirados".
É um cenário triste e
antiga feira e a prefeitura em janeiro de 2014 prometeu que até o dia 31 de
janeiro daquele ano seria feito um mutirão de limpeza e pequenas reformas na
feira da Avenida 1º de Maio. E nada foi feito hoje.
Feira do Jardim Felicidade
I
Com
a expansão da Zona Norte, o endereço para os clientes das feiras era a Feira do
Pacoval. Foi então instalado a Feira do Jardim Felicidade, para atender os
moradores do Bairro do Jardim, Jardim I, Jardim II, o Infraero e também o Novo
Horizonte, por causa da distância que os consumidores iam comprar os produtos
lá na feira do Pacoval, a outra opção era a feira do Buritizal que estava
bastante longe para que eles fossem comprar.
Hoje,
a referida feira está também abandonada a sujeira e a desorganização, quando
muitas bancas de pescados ficam no meio da rua, e o trânsito de carros,
motocicletas e ciclistas trafegam no meio dos usuários.
O roubo, assaltos e
assassinatos predominam no local, trazendo a insegurança para os feirantes e
seus clientes.
Feira Livre do Bairro
Central
O
Bairro Central, o berço da Macapá antiga, tinha o tradicional Mercado Central
construído há 60 anos. O patrimônio histórico do Amapá recebeu um adendo no
governo do Annibal Barcellos que se tornou o Mercado do Pescado e ao lado
fervilhava uma feirinha popular de temperos, verduras e legumes, além do
camarão e do caranguejo, que foi transferido para a Rua São José, com uma
infraestrutura própria.
Esse
empreendimento localizado nas confluências das avenidas Henrique Galúcio e
Ataíde Teive, que hoje com a promessa da Construção do Shooping Popular foi
demolido e seus feirantes estão em um local inóspito, porém, mantém a tradição
de ser a Feira do Camarão. Além do grande movimento para a venda de caranguejo
e porco e o local está tomado pelo mato e serve de abrigo para viciados em
álcool e drogas.
Convivendo diariamente
com a falta de higiene e segurança para armazenar os produtos, os vendedores
dizem que foram "esquecidos" pela atual gestão pública.
Feira do Perpétuo
Socorro
O
Igarapé das Mulheres era considerado como um "segundo Ver-o-Peso".
Das ilhas do entorno da cidade de Macapá vem o peixe e o açaí que são entregues
ao atravessador que realiza a sua comercialização diretamente nas barracas da
antiga feira; da Ilha do Marajó e de Belém vêm principalmente à farinha, mas
também verduras e frutas, que abastecem as redes de supermercados, os mini-box
e feiras do interior da cidade de Macapá. Hoje existe um monumental Mercado de
Peixes com toda a infraestrutura necessário para a atividade de feirante. Mas,
quem perdeu foi o morador que ali amanhecia procurando nas embarcações os
peixes "do mato" para saborear com o açaí.
A única reclamação era a sujeira e as barracas de cachaça, que além do mau cheiro,
contribuíam para a falta de segurança no local com a presença de pessoas
alcoolizadas e muitas vezes armadas com objetos cortantes. Hoje, ainda persiste
o mesmo problema na feira livre - frutíferas que recebeu a promessa de receber
um local apropriado para as negociações de suas mercadorias, isso há três anos.
Feira Livre do Congós e
da Ana Nery
São feiras que
receberam estrutura modelo com o mesmo projeto arquitetônico, ambas estão
totalmente descaracterizadas, a do Congós recebeu obras de adaptação com
"puxadinhas" de diversos tipos de material. Já a da Ana Nery, além
ser parte do sinistro do Perpétuo Socorro, e ter seus boxes utilizados como
"residências" Perdeu a clientela, para o novo Mercado do Pescado.
![]() |
Feira do Congós |
Feiras improvisadas
A distância e a falta
de transporte coletivo dificultam o acesso as Feiras Livres e muitos improvisam
"feirinhas" nos bairros periféricos de Macapá. Prolifera nas ruas de
Macapá, a venda de peixes em carrinhos de mão, desrespeitando as normas de
higiene. Além do que, as venda nos carrinhos de mão são feitas nas calçadas da
cidade, os ambulantes que tentam garantir alguma renda com o comércio
inadequado do pescado também levam a mercadoria para as imediações das feiras
livres da cidade. No centro da cidade de Macapá, há vários vendedores
ambulantes vendendo camarão em pequenas carroças. Você pode encontrar na Rua
São José, no Centro Comercial de Macapá, carrinhos com camarão, sob o
inclemente sol. A prática condenada, inclusive pela Vigilância Sanitária
Municipal, não deveria estar acontecendo.
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Centro da cidade |
Brasil Novo |
Conjunto residencial Macapaba |
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