sexta-feira, 19 de junho de 2015

Início de uma trajetória religiosa no Candomblé

Início de uma trajetória religiosa no Candomblé




Reinaldo Coelho

Da Editoria


Mediunidade, de acordo com os seguidores dos cultos afro-religiosos, é um dom comum a todos os encarnados, embora seja maior em uns e menor em outros. É através mediunidade (ou sensibilidade mediúnica) que o ser encarnado consegue se comunicar com outros seres já libertos da matéria (situação em que a palavra é mais empregada) e até mesmo com seres ainda encarnados que estejam em outros locais.

O dia 08 de maio é a data dos festejos umbandistas, pois foi nessa data que dona Dulce Costa Moreira, a Mãe Dulce, tocou pela primeira vez Tambor de Mina no Amapá, isso aconteceu em 1962, na sua casa, onde também funciona o terreiro de Santa Bárbara, de Mina Nangô. Mas foi ela e seu marido, João Batista Moreira, mais conhecido por "Piloto", que trouxeram para o Amapá a hierarquia de São Sebastião, originada da Encantaria do Rei Sebastião da Praia do Lençol, no Maranhão.

Dentro de todas as religiões tem uma sequência de rituais que são exigidos para os seus seguidores. Além de que, tem uma hierarquia que ordena e mantém em harmonia os membros da religião e disciplina o funcionamento dos templos, igrejas e/ou terreiros.



Dentro dos Terreiros de Umbanda e do Candomblé  existem organização e disciplina, além de um sistema que objetiva manter esta organização. Alguns terreiros, dependendo do tamanho, dividem-se em parte administrativa e espiritual.

Candomblé
A religião do Candomblé trabalha os problemas da vida na terra, da felicidade dos seres e da preservação das forças da natureza neste mundo. Neste sentido, são religiões terrenas preocupadas com a conexão entre o passado, presente e futuro dos seres da natureza na terra.



É o dirigente do terreiro na linha do Candomblé (Babalorixá se for homem e Ialorixá se for mulher). Tanto o Babalorixá quanto a Ialorixá são também chamados de Pai de Santo e Mãe de Santo. Eles têm a função de cuidar e zelar da vida espiritual dos médiuns do Terreiro, orientar e dirigir os trabalhos abertos e fechados ao público.

Dentro dessa hierarquia temos médiuns em desenvolvimento, dependendo do Terreiro eles podem dar passes, já incorporam uma ou outra linha, mas ainda não dão consultas e as suas entidades ainda não deram nome ou não riscaram ponto. Estão sendo preparados para tornarem-se médiuns de trabalho.

Porém, para ir alçando essa hierarquia os filhos de santos tem que estudar e se preparar. Na vida cotidiana e no campo profissional é fato, que uma pessoa é considerada formada, quando recebeu um diploma universitário.

No Candomblé não é diferente. O seguidor que almeja ser um dia - sacerdote nessa religião -, tem que obedecer a mesma escrita.

No mundo espiritual existem correlações similares. A vocação é o merecimento, o aprendizado são as experiências e vivências existenciais, e o diploma é a graduação espiritual alcançada.

Uma herança espiritual
Os filhos-de-santo são os sacerdotes dos orixás, da mesma forma como, na Igreja Católica, os padres são os representantes de Deus. Nem todos, porém, são preparados para "receber" os santos. Existem os que cuidam dos filhos-de-santo quando os Orixás "baixam", os que sacrificam os animais, os que tocam os atabaques e os que preparam a comida. Os búzios, usados como instrumento de adivinhação, é que vão dizer qual a função de cada um.



A jovem Ana Paula Coelho Moreira, uma das netas de Mãe Dulce Moreira, está em confinamento na Tenda do Pai Marcos Ribeiro, sob os cuidados de Pai Ajuré da nação Angola. De acordo com o pai de santo Ajuré, a noviça Ana Paula  do Orixá Xangó, da qualidade Ayrá, onde passará 21 (vinte e um) dias de reclusão, e neste prazo são realizados banhos, boris, oferendas, ebós, e todo o aprendizado começa, as rezas, as dança, as cantigas.



"Tudo começa com Ebó de Egun é para tirar todos os tipos de negatividades, sendo que em específico é para retirar encostos, espíritos obsessores, afastar assombração, carrego e tudo mais ligado a Egun. Mas, também serve para trazer os antepassados, pois o Candomblé é culto as ascentralidades que todos temos".

Em seguida vem o serviço com o Ebó de Exú para abrir caminhos e tirar toda negatividade. "O Exú é o que abre os caminhos é o interlocutor entre a terra e o mundo espiritual.  A Dona Paula já passou pelo equilibro de Odu, que são os caminhos que os Orixás percorrem para chegar até nós. Ela é do Obará, numero seis, que é caminho da fortuna, alegria e da prosperidade. Ela sendo de Xangó que é os senhor da justiça, na natureza rege raios e trovões e hoje (17) ela está Obin D'água que é o fortalecimento da cabeça de uma pessoa, para que ela possa receber um Orixá".

Assim como em outras religiões existe o celibato, no caso da Igreja Católica, no Candomblé os aptos são semi-celibatários e explica o pai de santo. "Quanto estamos  nos preparando para os Orixás e pagando nossas obrigações, ficamos reclusos. Não pode fazer sexo, beber bebida alcoólica, fumar, circular na rua, aborrecer. Ela tem que está focada em seu Orixá e em Olodum maré   que é o deus da criação".

O noviço sai da reclusão entre um e outro estágio da iniciação. "Nesta semana Dona Paula irá passar para o primeiro Fári que a preparação da matéria, corpo e mente para que possa seguir o restante de sua vida juntamente com o Orixá. Ou seja, ela vai passar a ter uma vida, não só profana, mas ter uma vida religiosa, onde ela se destacará dentro da sociedade, da família, e do trabalho".




No segundo Fári é a confirmação para Orixá que culmina com uma grande festa. "A festa de confirmação de Dona Paula, acontecerá no dia 28 de junho. Que é à saída do seu Orixá, através do transe, toda vestida a caráter, como Orixá Xangô, onde ele dança e dá o nome que ela vai ser conhecida dentro do Candomblé". Axé a nova filha-de-santo  e quiçá uma Babolorixá .

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