Uma homenagem póstuma ao
completar um ano de falecido *1930 +
2014
Walter Pereira do Carmo –
Desbravador do Amapá
No dia 14 de junho de 2014, um sábado, o Amapá perdia um dos seus
grandes desbravadores. Walter do Carmo,
aos 84 anos de idade, injustiçado pelos que dele se serviram e cresceram
politicamente e profissionalmente, morreu silencioso mais sua cidadania e amor
gritavam pelo Amapá.
Walter além de empresário, visionário, foi pioneiro do Amapá. Não
enriqueceu a custa do dinheiro público, mesmo abandonado e silenciado,
manteve-se nas terras que ele ajudou a crescer. Seu sonho de ligar o Amapá do
Sul ao Norte ainda não morreu, pois a obra que iniciou, está devagar, sento
cumprindo o seu traçado, traçado este feito pelas próprias mãos e iniciadas com
o terçado aos grandes maquinários. Ele enfrentou todos os problemas da floresta
amazônica, dos insetos aos próprios homens que queriam lhe derrotar. Não
conseguiram. Precisamos ensinar as novas gerações quem foi e quem foram os que
fizeram os alicerces desse grande Estado que é o Amapá.
Conheça a história desse
abridor de estradas amapaenses
Da Editoria
Nascido em Prainha, no município de Monte Alegre, no Estado do Pará,
Walter Pereira do Carmo conhecia o recém-criado Território do Amapá por vir com
os pais visitar parentes em Mazagão Velho. Aos 17 anos, já funcionário público,
com formação técnica em agrimensura, começou, sem saber, a traçar seu caminho
para o Amapá. Dizem que sua vinda definitiva deu-se ao cumprir uma missão da
antiga Comissão de Rodagem do Pará, que depois seria transformada no DEER
(Departamento Estadual de Estradas de Rodagem). A missão era, justamente,
entregar o projeto da BR 156.
Era o decisivo 1952, e Walter, com 22 anos, foi convidado pelo então
governador Janary Nunes, para ficar no Amapá. Aceitou e começou a trabalhar no
ramal do Aporema e na manutenção do trecho da outrora BR 15, que só chegava até
a Base Aérea do Amapá. Foi naquele município que conheceu Helita Ferreira dos
Santos, filha de um pecuarista da cidade de Amapá, com quem casou seis meses
depois, sendo o governador Janary Nunes um dos padrinhos. Dessa união nasceram
sete filhos, Margareth, Walter Júnior, Waldenawer (Keky), Mariângela, Wank,
Márcia e Walber.
Em 1958 surgiu a oportunidade que mudaria o rumo de sua vida e dos
amapaenses. Pauxy Nunes, irmão de Janary, assumiu o governo e priorizou a
continuação da abertura da rodovia em direção ao Oiapoque, que passava em
aldeias indígenas. O medo de enfrentar os índios, que tinham pouco contato com
a civilização, dificultava a contratação de empresa. Sem dinheiro, mas muita
vontade de começar o serviço, fundou a Construtora Comercial Carmo LTDA.
Em 1958 as máquinas pesadas, nunca antes vistas por aqui, chegaram via
marítima, e o serviço começou. A estrada era aberta até Amapá, e a missão era
chegar até a fronteira. Foram meses embrenhados nas matas com homens e
equipamentos, abrindo o caminho que até então era percorrido por poucos. Entre
Macapá e Amapá, já chefe de família, Walter do Carmo viveu todas as
particularidades de um desbravador, quando o mundo oferecia poucos recursos
para aventura, como a abraçada pelo então empreiteiro.
“Nunca fui rico, apenas tinha
crédito na praça”. (Walter do Carmo)
No dia 24 dezembro de 1974, em um pequeno Jeep, Walter do Carmo, na
companhia de Zé Grande e do mestre Ouvídio, escoltados por uma Toyota, dirigida
por Vicente Cabraia, conseguiram chegar até o Oiapoque. E após dezesseis anos,
como foi acertado com Janary Nunes, a BR156, que liga Macapá à fronteira foi
entregue ao então governador Ivanhoé Martins.
Além da BR 156, Walter do Carmo foi o responsável por levar o progresso
para outros cantos do Território. Foi ele quem abriu os ramais para que
veículos entrassem mais facilmente nos municípios de Amapá e Calçoene, Base
Aérea do Amapá e para a localidade de Lourenço. Construiu ainda campos de pouso
em Tartarugalzinho, Calçoene e Cunani.
Tudo corria bem até que o contrato com o Governo foi reincidido na
administração de Artur Azevedo Hening, em 1975, ignorando uma das cláusulas do
contrato que previa o translado do maquinário para a capital. As máquinas
utilizadas na construção da BR 156 ficaram abandonadas ao longo do primeiro
traçado da estrada e jamais foram recuperadas. Pela quebra do acordo contratual
foi movida uma ação contra o Território, que foi vencida pelo empresário,
muitos anos depois, quando a Construtora Comercial Carmo LTDA já estava
fechada. O dinheiro serviu para pagamento de indenizações trabalhistas e multas
do INSS.
Construtor, pioneiro,
desbravador e aviador.
Nos anos 70 construiu as tradicionais escolas José de Alencar, José de
Anchieta, Antônio João, Princesa Isabel e Castelo Branco. Além do primeiro
Ginásio Coberto, o Paulo Conrado Bezerra, e os clubes mais bem frequentados,
Círculo Militar, Macapá e Amapá Clube. Além de desbravador e construtor, Walter
gravou seu nome na história do Amapá como o pioneiro, palavra que levava ao pé
da letra. Foi um dos fundadores do Lions Clube, Maçonaria, Igreja Messiânica, e
sua paixão: o Aeroclube.
Realizou um sonho de infância em seus anos de ouro, quando tornou-se aviador.
Ao conhecer o boliviano, Capitão Belarmino Bravo, juntou seu desejo e espírito
empreendedor, à paixão do visitante, e juntos formaram a primeira turma de
pilotos “brevetados” da cidade, e fundaram o Aeroclube de Macapá, em 1956. Na
turma estava Hamilton Silva, que morreu em 1958, no acidente de avião em que
também faleceram o deputado Coaracy Nunes e seu suplente, Hildemar Maia. Diziam
na época que estava prevista a ida de Walter do Carmo nesta viagem.
“Prefiro dormir sem ceia do que acordar com dívida.” (Walter do Carmo)
Em 1985 o governador Jorge Nova da Costa, acreditando em seu potencial,
deixou sob sua responsabilidade o asfaltamento de 50 km da BR 156, e Walter do
Carmo foi buscar no Paraná a empresa CR Almeida para o serviço. No ano de 2003
o governador Waldez Góes o nomeou assessor especial, como conselheiro da
gestão, cargo com que sobreviveu até 2010. Ao morrer, no último dia 14, recebia
apenas a pensão do INSS.
A ação de milhões ajuizada pelos associados e familiares do Aeroclube,
por ter o Governo do Amapá instalado órgãos públicos, hoje Centro
Administrativo, na Avenida Fab, sem desapropriar a área, ainda corre na Justiça do Amapá. Além dos
sete filhos com Helita, entre eles o Keky, médico recém-formado falecido há 28
anos, Walter deixou mais dois filhos, Walmir e João Vitor.
Texto da jornalista Mariléia Maciel
Fotos do acervo da família
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