Paisagem, Amazônia e cidade
contemporânea.
José Alberto Tostes
Este é um tema de grande
reflexão para todos nós que vivemos na Amazônia, a ideia primeira sobre a
Amazônia para quem não conhece é muito mais poética do que real, nunca se
escreveu tanto sobre a diversidade e cultura amazônica, porém sobre a forma de
viver na região tem sido objeto de estudo mais intenso nos últimos 10 ou 15
anos para cá. Podemos analisar o tema proposto através dos seguintes aspectos:
o contexto da paisagem; o segundo sobre o significado da Amazônia e o terceiro
como se insere a cidade contemporânea.
Sobre o contexto da
paisagem, vou ressaltar a relação e tentativa de propor cidades planejadas ou
não atreladas a partir de grandes projetos. Em quase todos os estados da
chamada Amazônia Legal ocorreram projetos deste tipo, portanto, não é domínio
de um único lugar, alguns são mais conhecidos que outros, e até mais estudados
e analisados. Durante os anos de 1980, discutia-se se existia uma Arquitetura
Amazônica, tal fato era pautado pelo trabalho de dois grandes arquitetos:
Milton Monte e Severiano Mario Porto, posteriormente houve uma clara tentativa
de aliar a ideia de Amazônia, uma produção de arquitetura que respeitasse o
lugar e as suas peculiaridades.
A paisagem das cidades na
região foi incorporando como em todos os lugares do país, os resquícios da
indústria do material da construção civil, além dos problemas oriundos das
questões de natureza conceitual sobre o lugar, eram determinantes que o custo
tivesse todos os efeitos sobre as possíveis soluções adequadas ao lugar como
defendiam Monte e Porto, isso se reproduz fielmente principalmente em Belém e
Manaus, que como dizia Castro, “reproduções de ilhas de calor”, verdadeiramente
se consolidou em nossas cidades uma paisagem carregada de problemas e equívocos
não compreender a natureza da região.
Neste contexto todo,
Amazônia enquanto região foram reproduzindo na sua arquitetura e nas cidades um
modelo insuportável, pobreza e miséria deram o tom a partir da ocupação das
chamadas áreas úmidas, sobrecarregando lagos, rios e igarapés. É comum se
contrastar em uma mesma área, um conjunto de edifícios e bem próximo áreas
completamente desestruturadas. Tal reprodução se configurou em praticamente em
todas as capitais, agregue-se a este fato, de que as capitais somam uma
população nos dias atuais em torno de 60 do total em cada Estado.
No âmbito interiorano,
cidades da chamada zona rural foram absorvendo as mazela decorrentes dos
chamados grandes projetos, em quase todas as consequências sobre os resultados
deixaram mais problemas de que soluções e benefícios. Um exemplo típico, Serra
do Navio no Amapá, deve-se ressaltar que no caso de Serra, devem-se estabelecer
dois pontos importantes de avaliação: o primeiro é a proposta do arquiteto
Oswaldo Bratke aos aspectos funcionais de uma cidade em plena selva amazônica;
o segundo ponto de abordagem, o modelo de uma cidade centrada em uma formatação
fechada tipo cidade companhia. Passado o prazo de exploração dos serviços
definido em contrato, ficaram rastros de incerteza, pobreza e desilusão, assim
como em várias outras cidades no Estado do Amazonas, Pará e outras, somente
importava a questão do poder do capital.
E o que pensar sobre as
questões contemporâneas de nossas cidades? Os desafios são enormes, temos um
grande problema pela frente, de pensar as cidades amazônicas não somente sob a
lógica dos grandes projetos, ou dos projetos sociais temporários dos governos
estaduais e federal que induzem a população a um grande desconforto em relação
ao futuro. O trabalho do professor José Aldemir Oliveira no Amazonas, sobre as
pequenas cidades na Amazônia é a definição mais evidente de um sistema de
servidão e dependência, cada vez mais comum, quando se trata de legitimar os
poderes de quem domina o lugar.
O cenário contemporâneo
exige qualificar o debate sobre a
questão das cidades, melhorar a representatividade, o acesso as
tecnologias, qualificação de pessoas, implementar estratégias de planejamento
de longo prazo, ter acesso ao crédito para projetos de todo tipo. Compreender a
natureza do que representa viver em um ambiente amazônico tão diverso e tão
complexo.
As cidades no contexto
contemporâneo não podem mais serem administradas de forma amadora, vive-se em
mundo globalizado, requer, portanto, estar atento para acontecimentos futuros,
mas tudo isso, se planta no presente, posteriormente serão colhidos os frutos
para o bem o para o mal. Por enquanto, precisamos superar um conjunto de
adversidades, pontos que sejam cruciais a partir de novas concepções para que
os arquitetos e urbanistas sejam mais protagonistas do que propriamente
espectadores de toda a ordem de acontecimentos.
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