Gilson Machado – Paratleta
(Atletismo)
Qual
é a sua meta? ‘Vencer as dificuldades postas pela vida e superar os desafios
diários para se tornar uma referência no desporto amapaense?’ Para Gilson
Machado as duas metas foram enfrentadas em conjunto.
Nascido
no distrito paraense de Icoaracy, Gilson perdeu a visão aos 10 anos de idade,
devido ao glaucoma. Ele narra que veio a Macapá acompanhando sua mãe para
conhecer uma sobrinha recém-nascida, gostaram da cidade e aqui passaram a
residir.
“Aqui
em Macapá dei continuidade aos meus estudos, concluindo o Ensino Médio na
Escola Professora Carmelita do Carmo”.
A
prática esportiva sempre foi o sonho desse jovem de 35 anos de idade, porém a
oportunidade nunca surgiu devido a sua deficiência. “Na minha infância e
juventude, pratiquei artes marciais, como o Jiu-jitsu, com amigos. Quanto a
pratica de atletismo sou recém-chegado na modalidade. Há mais ou menos dois
anos que estou competindo”.
Com
uma determinação de dar inveja a qualquer atleta de alto rendimento, Gilson
Machado precisou ainda superar as dificuldades de apoio para os treinos. Porém,
nada disso atrapalhou os planos e sonhos dele e da sua guia e esposa, Geerce
Machado.
Paratleta ao lado da esposa e atleta-guia Geerce Machado |
Hoje,
paratleta, Gilson Machado é reconhecido como um dos melhores em sua categoria.
“Pratico o atletismo de rua e de pista”. Além de que o jovem atleta é músico
autodidata. “Comecei a tocar violão ‘de ouvido’. Estou treinando teclado. Toco
e canto música gospel, com minha esposa, na igreja que frequento. Somos
evangélicos. Já compus algumas músicas de louvor”.
Ele
ressalta que começou a praticar o atletismo competitivo em 2013, na Corrida do
Ministério Público. Vencedor do Norte/Nordeste de 2014, que foi realizado em
Natal (RN), o paratleta tentou obter resultado significativo, repetindo os
feitos de 2014, desta vez em março de 2015 em Recife (PE).
“Nas
competições locais, os títulos de 1º lugar são meus na minha categoria de
deficiente visual masculino. Fora do Estado em 2014, conquistei o primeiro
lugar nos 400 metros, foi o segundo colocado nos 200 metros e repeti a segunda
posição nos 100 metros, no circuito em Natal (RN) e, este ano em Recife (PE)
fiquei com o segundo lugar no Norte/Nordeste”.
A
segunda vitória quando disputou a mini maratona do Meio do Mundo, evento
esportivo que inaugurou a nova pista de atletismo do Estádio Olímpico Milton de
Souza Corrêa, o "Zerão", na tarde deste sábado (20), na Zona Sul de
Macapá.
A
disputa que contou com mais de mil atletas e na categoria deficiente visual,
Gilson Machado e o atleta guia Gelison Machado ficaram em primeiro lugar.
“A
largada aconteceu na Praça do Coco, com chegada ao Estádio Zerão. Completamos a
prova com percurso de sete quilômetros em 30 minutos e 30 segundos. A pista é
ótima”.
Dificuldades
Uma
das diversas dificuldades do paratleta é com referência a local de treinamento.
Até hoje Gilson Machado, que reside no Bairro dos Congós, em uma área de ponte
sobre uma ressaca, é chegar até os locais de competições e treinos.
“As
preparações tem sido muito fortes e espero poder repetir minhas vitorias.
Sabemos que não será fácil, mas procuro treinar ao lado das pessoas que não são
cegas para que eu possa ter um nível forte. Tomara que dê tudo certo para que
eu consiga sempre vencer na minha categoria”, otimiza Gilson.
Ele
relata que a falta de apoio financeiro torna mais difícil seus treinos e
participações fora do Estado. “É difícil, pois tenho de andar até a área do
entorno do Zerão para participar de treinamentos com meus colegas e orientação
do Técnico João, da Equipe “Porta do Sol” que faço parte. Treino regularmente
cinco vezes por semana. No meu treino diário tem aquecimento, condicionamento
físico, alongamento e treinos táticos e técnicos com muitas repetições. Quando
não posso ir até o Zerão treino aqui na Arena Esportiva do Congós, sempre ao
lado de Geerce Machado, minha esposa e guia”.
Porém,
Gilson Machado necessita de apoio para custear as despesas da viagem. De acordo
com Geerce, as despesas com hospedagem, as passagens aéreas e dinheiro para
manter os dois nos locais da competição são o maior drama.
“Infelizmente
essa é a realidade do atletismo local. O Gilson está treinando forte, tem
resultados muito bons, mas a dúvida é quando chegam as competições, pois não
sabemos se iremos conseguir viajar por falta de apoio. Ambos estão
desempregados”.
Gilson
Machado informa que recebe do INSS, um salário mínimo que vem mantendo os dois.
Eles residem no meio de uma ressaca nos Congós em uma palafita quatro por
quatro, sem as minhas seguranças e saneamento. “Aqui já foi pior, na época da
campanha foi construído essa passarela que agora podemos caminhar melhor. São
quase um quinhentos metros para chegarmos até o asfalto”.
O atleta-guia
Gilson Machado com o guia Gelison Oliveira |
Atleta-guia
é o profissional que orienta o competidor com deficiência visual durante a
corrida, ele treina e corre ao lado do paratleta ligados por um cordão, ambos
segurando uma corda, ou qualquer outra coisa que os mantenham unidos durante
todo o percurso.
Nem
sempre o atleta-guia foi premiado nas competições, as premiações eram apenas
para os paratletas, mas desde o Pan-Americano em Guadalajara os guias passaram
a receber premiação assim como os paratletas. Outro marco importante, no
para-desporto brasileiro, é a possibilidade que o governo estuda de inserir o
atleta-guia no programa bolsa-atleta.
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