quinta-feira, 30 de julho de 2015

ATLETA DE PONTA



Gilson Machado – Paratleta (Atletismo)


Qual é a sua meta? ‘Vencer as dificuldades postas pela vida e superar os desafios diários para se tornar uma referência no desporto amapaense?’ Para Gilson Machado as duas metas foram enfrentadas em conjunto.


Nascido no distrito paraense de Icoaracy, Gilson perdeu a visão aos 10 anos de idade, devido ao glaucoma. Ele narra que veio a Macapá acompanhando sua mãe para conhecer uma sobrinha recém-nascida, gostaram da cidade e aqui passaram a residir.
“Aqui em Macapá dei continuidade aos meus estudos, concluindo o Ensino Médio na Escola Professora Carmelita do Carmo”.
A prática esportiva sempre foi o sonho desse jovem de 35 anos de idade, porém a oportunidade nunca surgiu devido a sua deficiência. “Na minha infância e juventude, pratiquei artes marciais, como o Jiu-jitsu, com amigos. Quanto a pratica de atletismo sou recém-chegado na modalidade. Há mais ou menos dois anos que estou competindo”.
Com uma determinação de dar inveja a qualquer atleta de alto rendimento, Gilson Machado precisou ainda superar as dificuldades de apoio para os treinos. Porém, nada disso atrapalhou os planos e sonhos dele e da sua guia e esposa, Geerce Machado.

Paratleta ao lado da esposa e atleta-guia Geerce Machado

Hoje, paratleta, Gilson Machado é reconhecido como um dos melhores em sua categoria. “Pratico o atletismo de rua e de pista”. Além de que o jovem atleta é músico autodidata. “Comecei a tocar violão ‘de ouvido’. Estou treinando teclado. Toco e canto música gospel, com minha esposa, na igreja que frequento. Somos evangélicos. Já compus algumas músicas de louvor”.
Ele ressalta que começou a praticar o atletismo competitivo em 2013, na Corrida do Ministério Público. Vencedor do Norte/Nordeste de 2014, que foi realizado em Natal (RN), o paratleta tentou obter resultado significativo, repetindo os feitos de 2014, desta vez em março de 2015 em Recife (PE).
“Nas competições locais, os títulos de 1º lugar são meus na minha categoria de deficiente visual masculino. Fora do Estado em 2014, conquistei o primeiro lugar nos 400 metros, foi o segundo colocado nos 200 metros e repeti a segunda posição nos 100 metros, no circuito em Natal (RN) e, este ano em Recife (PE) fiquei com o segundo lugar no Norte/Nordeste”.
A segunda vitória quando disputou a mini maratona do Meio do Mundo, evento esportivo que inaugurou a nova pista de atletismo do Estádio Olímpico Milton de Souza Corrêa, o "Zerão", na tarde deste sábado (20), na Zona Sul de Macapá.



A disputa que contou com mais de mil atletas e na categoria deficiente visual, Gilson Machado e o atleta guia Gelison Machado ficaram em primeiro lugar.
“A largada aconteceu na Praça do Coco, com chegada ao Estádio Zerão. Completamos a prova com percurso de sete quilômetros em 30 minutos e 30 segundos. A pista é ótima”.

Dificuldades
Uma das diversas dificuldades do paratleta é com referência a local de treinamento. Até hoje Gilson Machado, que reside no Bairro dos Congós, em uma área de ponte sobre uma ressaca, é chegar até os locais de competições e treinos.
“As preparações tem sido muito fortes e espero poder repetir minhas vitorias. Sabemos que não será fácil, mas procuro treinar ao lado das pessoas que não são cegas para que eu possa ter um nível forte. Tomara que dê tudo certo para que eu consiga sempre vencer na minha categoria”, otimiza Gilson.
Ele relata que a falta de apoio financeiro torna mais difícil seus treinos e participações fora do Estado. “É difícil, pois tenho de andar até a área do entorno do Zerão para participar de treinamentos com meus colegas e orientação do Técnico João, da Equipe “Porta do Sol” que faço parte. Treino regularmente cinco vezes por semana. No meu treino diário tem aquecimento, condicionamento físico, alongamento e treinos táticos e técnicos com muitas repetições. Quando não posso ir até o Zerão treino aqui na Arena Esportiva do Congós, sempre ao lado de Geerce Machado, minha esposa e guia”.
Porém, Gilson Machado necessita de apoio para custear as despesas da viagem. De acordo com Geerce, as despesas com hospedagem, as passagens aéreas e dinheiro para manter os dois nos locais da competição são o maior drama.
“Infelizmente essa é a realidade do atletismo local. O Gilson está treinando forte, tem resultados muito bons, mas a dúvida é quando chegam as competições, pois não sabemos se iremos conseguir viajar por falta de apoio. Ambos estão desempregados”.
Gilson Machado informa que recebe do INSS, um salário mínimo que vem mantendo os dois. Eles residem no meio de uma ressaca nos Congós em uma palafita quatro por quatro, sem as minhas seguranças e saneamento. “Aqui já foi pior, na época da campanha foi construído essa passarela que agora podemos caminhar melhor. São quase um quinhentos metros para chegarmos até o asfalto”.


 O atleta-guia

Gilson Machado com o guia Gelison Oliveira

Atleta-guia é o profissional que orienta o competidor com deficiência visual durante a corrida, ele treina e corre ao lado do paratleta ligados por um cordão, ambos segurando uma corda, ou qualquer outra coisa que os mantenham unidos durante todo o percurso.
Nem sempre o atleta-guia foi premiado nas competições, as premiações eram apenas para os paratletas, mas desde o Pan-Americano em Guadalajara os guias passaram a receber premiação assim como os paratletas. Outro marco importante, no para-desporto brasileiro, é a possibilidade que o governo estuda de inserir o atleta-guia no programa bolsa-atleta.


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