Pátria educadora precariza a
educação!
Arley Costa
Pátria
educadora foi o tema que a presidente Dilma escolheu para seu segundo mandato
no governo. A imagem que vem à mente, quando se pensa no slogan selecionado, é a
de um cuidado intenso voltado à educação. Reorganização do sistema educacional,
investimentos redobrados, construção de escolas e espaços de aprendizagem e
vivência, ampliação do tempo de estudo, qualificação permanente, profissionais
bem remunerados, carreiras estruturadas, condições profícuas de acesso e
permanência... Em suma, um trato destinado à educação como ainda não se viu
nesse país e que transforme para melhor nossa cultura, condição de vida e
qualificação profissional.
Alguns
vislumbraram no slogan uma possibilidade concreta e nela acreditaram piamente.
Outros, céticos desde o início, enxergaram o slogan como uma impossibilidade
tão evidente nas ações desse governo, que o taxaram de ironia. Lamentavelmente
para os brasileiros, os últimos estavam muito mais certos que os primeiros. A
gestão da pátria educadora mal havia começado e um corte de quase 10 bilhões
foi imputado à educação. Cortes que sangraram o sistema federal de ensino com
rebatimento para as estruturas estaduais e municipais. Curiosamente, o sistema
privado não foi afetado por essa política. Não porque gozem de uma competência suprema
como querem fazer crer alguns, mas simplesmente porque o governo Dilma tem como
política, seguindo os ditames do Banco Mundial, incentivar a iniciativa privada
e reduzir os gastos públicos com educação.
Assim,
as universidades federais viram reduzidos seus recursos de capital e custeio,
verbas para pesquisa, assistência estudantil, bolsas de monitoria, iniciação
científica, e mesmo mestrado, doutorado e pós-doutorado. Obras estão
paralisadas, prédios caindo aos pedaços, salas de aulas funcionando em
contêineres que, como outros espaços alugados para o funcionamento das
universidades, podem vir a ser devolvidos por falta de pagamento e aumentar
ainda mais a crise de espaço das instituições federais de ensino. Mesmo a
aparentemente sacralidade da pós-graduação foi maculada com os recursos das
verbas PROAP sendo reduzidas em 75%. Não, o número não está errado, a redução
foi de 75%! Enquanto a navalha destrói a sustentação do sistema federal de
ensino, de outro lado, os recursos para as instituições privadas via FIES e
PROUNI foram aumentadas, isso mesmo, aumentadas durante a crise deste ano de
2015!
A navalhada
do governo federal nas universidades e institutos federais foi tão intensa que
mesmo recursos obtidos diretamente pelas instituições foram recolhidos. Vários departamentos
e cursos que juravam ter uma caixinha em razão dos recursos obtidos por meio de
projetos, parcerias, convênios e cobranças de taxas viram-se depenados de uma
hora para outra. A voracidade foi tamanha que o governo recolheu inclusive esse
dinheiro que não havia sido injetado pela união nas instituições. Assim, vários
departamentos e cursos ficaram sem condições de cumprir com várias obrigações,
desde execução de pesquisas e projetos de extensão até manutenção de
terceirizados e mesmo aquisição de papel higiênico. Embora falar que falte
papel higiênico pareça um bordão típico de quem quer criticar algo, a expressão
está em uma nota oficial da Escola de Engenharia da Universidade Federal
Fluminense. Ou seja, na Pátria Educadora, as universidades sequer tem dinheiro
para comprar papel higiênico!
Como
não poderia deixar de ser, nesse contexto, as greves eclodiram no sistema
federal de ensino. Os servidores técnico-administrativos de quase todas as
universidades federais estão em greve. Docentes de 2/3 das universidades
federais e de vários institutos federais decidiram mostrar sua insatisfação e
deflagraram greve por todo o país. A Caravana em Defesa da Educação Pública
realizada em 7 de julho reuniu mais de cinco mil pessoas em Brasília. Os
manifestantes ocuparam a esplanada dos ministérios e fizeram atos em frente ao
Ministério da Educação e ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão cobrando
que o governo começasse a negociar.
O
governo, no entanto, se negava a sequer sentar e reunir, quanto mais negociar.
A intransigência ampliou a greve e fez explodir atos em todo o país. A força da
greve e dos vários atos em Brasília e nos diversos Estados fizeram vir as
reuniões com o governo e aparentemente as negociações começarão. Os
profissionais do sistema federal de ensino posicionam-se na defesa da educação
pública e apresentam reivindicações que envolvem estruturação de carreira,
valorização salarial, retirada dos projetos que atacam direitos trabalhistas e
previdenciários, ampliação da assistência estudantil, construção de
restaurantes e moradias universitárias, fim da EBSERH e não contratação via OS
nas universidades, entre outros pontos.
A reivindicação
dos defensores da educação pública é ampla. O governo conhece a pauta há algum
tempo, mas finge não conhecer e apresenta como proposta apenas elementos
voltados à questão salarial. Além de desconsiderar a quase integralidade das
reivindicações, apresenta uma proposta salarial tão rebaixada, menos de 5% ao
ano durante quatro anos, que foi recusada em todas as assembleias realizadas.
De fato, dizer que houve recusa é pouco, a proposta foi rechaçada como
demonstram as votações em todas as seções sindicais. O governo sabe que sua
proposta estica a greve, aumenta a insatisfação e provocará mais atos. Uma nova
proposta há de ser apresentada (reunião em 22 de julho) e todos esperam que o governo
apresente uma proposta que minimamente faça jus ao slogan que escolheu. Pois
até o momento, todas as infelizes ações do governo Dilma em 2015 fizeram ecoar
em Brasília e por todo o país o brado de: “Que contradição, a Pátria Educadora
precariza a educação!” Quisera pudéssemos ouvir “prioriza a educação”. Enquanto
isso não acontece, resta a certeza de que ao perguntarmos se o Brasil do
governo Dilma é uma pátria educadora, a única resposta é: Não, infelizmente,
não!
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