quinta-feira, 23 de julho de 2015

Mobilidade urbana - Desrespeito com os deficientes em Macapá

Acessibilidade
Desrespeito com os deficientes em Macapá

O tratamento dispensado às pessoas com deficiência física, visual ou aditiva no sistema de transporte público seja coletivo, táxi ou mototáxi, tem que ser rediscutido pelo poder público municipal, vereadores e os que atuam nos serviços prestados precariamente ao cidadão macapaense, pois a legislação não vem sendo cumprida, temos arremedo na construção de rampas de acesso e desrespeito nos estacionamentos.



Reinaldo Coelho
Da Editoria

De dez a doze por cento da população mundial (algo em torno de 700 a 800 milhões de pessoas) têm alguma deficiência física. Destas, perto de 90% vivem nos chamados países em desenvolvimento, e o mesmo percentual vale para os que estão em idade produtiva, mas vivem desempregados.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), baseado nas informações do Censo 2010, 28% dos amapaenses possuem algum tipo de deficiência física. A maioria enfrenta problemas relacionados a ônibus que não param, falta de prioridade nas filas de banco e outros órgãos, estacionamento que não é respeitado, banheiros especiais que servem de depósito e falta de atendimento médico domiciliar.
A compreensão sobre ‘deficiência’ também vem evoluindo. Cada vez mais, entende-se que uma deficiência física não é apenas uma condição estática. A deficiência – e sua gravidade – depende do ambiente em que a pessoa vive. Ou seja, se as cidades oferecessem condições para uma pessoa em cadeira de rodas sair de casa e chegar, em tempo razoável, a um local de trabalho digno, e depois do expediente ir ao cinema e achar um lugar bom para assistir ao filme, essa deficiência já não é qualificada como tão grave nos índices de mobilidade.

A realidade das ruas
Da mesma forma, quando a cidade não é acessível, qualquer deficiência se torna mais séria: a pessoa com idade ativa não consegue chegar ao trabalho e a criança deixa os estudos, porque não conta com escola acessível.
Constatou-se, nas ruas de Macapá, que muitas vezes o próprio poder público descumpre as normas e constroem locais inadequados. Ao invés de construírem rampas para o uso de pessoas com deficiências, fabricam ainda mais obstáculos para a circulação das pessoas.



É isso que vem ocorrendo em Macapá, mesmo tendo a Lei Geral da Acessibilidade, de autoria dos Vereadores Clécio Luís (PSOL), hoje prefeito da capital amapaense e Cristina Almeida (PSB), hoje Deputada Estadual, garantindo as normas de acessibilidade de acordo com a legislação federal, sejam aplicadas as pessoas com deficiência, mobilidade reduzida, idosos e população em geral. Garantindo condições adequadas para circulação de todos, sem privações. “Queremos garantir a inclusão e a acessibilidade para todos, sem distinção”, reforçou o então vereador Clécio.


Desta forma, não se justificaria as reclamações dos deficientes físicos amapaenses sobre o descaso com eles, por parte do poder público municipal, se o prefeito cumprisse a legislação.

Reclamação para a OAB
Membros da ADFAP tiveram um encontro com a
comissão de Direitos Humanos da OAB 
Membros da Associação dos Deficientes Físicos do Amapá (ADFAP) tiveram um encontro com a comissão de Direitos Humanos da OAB quando repassaram todas as demandas da Associação.
Segundo o vice-presidente da OAB, Osny Brito, as denúncias serão apuradas e os órgãos e entidades citados serão fiscalizados pela entidade. O objetivo é pressionar cada órgão no exercício de sua função, e se necessário mover Ação Civil Pública por danos morais contra os responsáveis.

A reclamação

A Associação dos Deficientes Físicos do Amapá (ADFAP) reclama da falta de respeito e cumprimento de leis de acessibilidade na capital. Segundo os associados, o problema engloba desde a falta de paradas de ônibus adequadas até o descaso com quem precisa de cuidados especiais.
Diolanda Silva moradora do município de Mazagão contou a maratona que tem que fazer para chegar há Macapá. “Para eu chegar até Macapá tenho que pagar passagem, porque as empresas que prestam serviço não colocam na linha ônibus adaptados, e por causa disso não posso sair de casa sozinha. Meus direitos não estão sendo respeitados”.

ADFAP


Atualmente a ADFAP possui 430 deficientes associados. A maioria é residente de Macapá e reclama da falta de calçadas padronizadas, locais de lazer adequado, atendimento jurídico e resposta do poder público.


“Todos aqui já passaram por alguma situação constrangedora. Os mais debilitados sofrem com a falta de atendimento médico. Tem o caso de uma cadeirante que morreu esperando um remédio. Outro cadeirante esperou por três meses um aparelho auditivo e não conseguiu. Tivemos que fazer uma coleta para comprar o aparelho. Hoje é cada um por si”, frisou o presidente da Associação, Marcos dos Santos.

Ônibus adaptados


Em 2008, existiam apenas dois ônibus adaptados com elevadores. Em dezembro de 2014 era o prazo máximo fixado para que as empresas mantivessem 100% dos veículos com condições de acessibilidade para portadores de deficiências, em cumprimento à Constituição Federal, que prevê a retirada dos veículos que não tenham essa característica no serviço de transporte público. Segundo dados das empresas de transporte coletivo de Macapá, 70% da frota de 186 carros oferecem condições de acessibilidade.

Paradas de ônibus sem acessibilidade


Mais uma questão em relação ao direito de ir e vir das pessoas com problemas de mobilidade veio à tona. As paradas de ônibus não possui rampas de acessibilidade e não são feitos dentro dos padrões e medidas estabelecidos pela legislação, os abrigos não possuem os pisos táteis, exigência legal para garantir o acesso de pessoas com deficiência visual no transporte coletivo as pessoas com deficiência física.
Para os cadeirantes a situação piora, pois tem que aguardar o ônibus na rua, pela dificuldade de acessar as paradas, pelo calçamento alto e sem rampas de acesso. O que pode causar um acidente fatal.
A situação piora para as pessoas com deficiência visual ou auditiva, há outras frustrações, por exemplo, a falta de avisos sonoros no interior dos veículos. Os problemas para os deficientes já começam antes de chegarem aos pontos de ônibus, pois, se as calçadas têm muitos obstáculos, será quase impossível a um cadeirante chegar até um ponto de ônibus sozinho.

Acessibilidade nos taxis




Como se não bastassem todos os problemas de mobilidade enfrentados com a falta de acessibilidade nas calçadas, nos edifícios e na maioria dos ônibus que circulam na capital amapaense, deficientes físicos que podem pagar pela corrida de táxi ainda têm que conviver com a recusa de alguns motoristas, que alegam falta de espaço na hora de guardar a cadeira de rodas.
Macapá está entre as capitais que não possui táxis adaptados para este público, diferente de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo, onde inclusive há a oferta de deslocamento gratuito para pessoas que fazem uso de cadeira de rodas.
Os problemas aumentam quando eles precisam chamar um táxi. “Eu ligo, falo que sou cadeirante e, às vezes, falam que não dá para atender porque a cadeira não cabe no carro. Macapá não possui os adaptados”, reclamou Josivan da Silva Paes, 32 anos.
O desrespeito à legislação, que diz que todo cidadão tem o direito de ir e vir, foi flagrado no centro de Macapá, quando uma cadeirante tentava entrar em um táxi, que não possui adaptação para transportar esses clientes especiais.
“Quando preciso de um táxi, tenho que contar com a ajuda de alguém para me carregar, porque o veículo não é adaptado. Por causa dessa dificuldade, muitos taxistas não param quando a gente dá sinal. Acho que falta respeito. Não precisamos que os outros tenham dó da nossa condição”, criticou a cadeirante.

Macapá Verão deficiente não tem acesso

Entre os problemas de acessibilidade denunciados pelos cadeirantes está o acesso aos balneários onde acontecem os eventos do Macapá Verão. Um deles é com referência aos carros estacionados em frente à rampa que dá acesso as calçadas, quando existem, e o piso irregular de algumas barracas. “Nas praias, nós não temos vagas nem calçadas próprias para cadeirantes. O banho é praticamente impossível”.

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