Mais um dia...
Amanheceu
o dia e com ele o sol escondeu centenas de noites. Num desses dias comuns na
região amazônica Macapá paria mais meninos. Sempre mais mulher que homem. Todos
chorões e esfomeados. A garotada por aqui cresce perambulando pelas ruas
alagadas e cheias de mato da periferia. A cidade é bela, ornada pelo majestoso
Amazonas, localizada nas margens direita do maior rio do mundo, o Amazonas, mas
é tão maltratada. Bela pela natureza e feia pela irresponsabilidade de quem a
gerencia.
É
no Amapá, um mundo infindo, sem porteiras. O mundo dos quem não tem horizonte,
sem latitude e longitude. O limite é o que a vista alcança e que as pernas
vagueiam.
A
vida é correr; hora atrás da bola, hora atrás de papagaio ou de comida, sempre
escassa nesse Estado de pobreza extrema. Terra tem. Tem? Ainda tem, embora mais
de 70% das terras sejam áreas protegidas. Protegidas de quem? De quem precisa
sobreviver. O homem amazônida amapaense, em particular.
Aliás,
as crianças não entendem as teorias econômicas. São muitos números e fórmulas que
tentam explicar a dicotomia entre ricos e pobres. Emprego e desemprego. O
analfabetismo e os letrados, doutores. “Erga omnes” deveria ser assim os
direitos sociais, mas vai explicar para a criança que corre, corre e só alcança
a promessa de que amanhã ela será o futuro da Nação.
Na
verdade para esses filhos sem rosto a escola é um refúgio para suas peraltices.
Claro, também para filar uma boa boia, quando o dinheiro não é embolsado
formalmente pelos gestores públicos. Macapá cresce, mas não desenvolve. O
menino estuda, não aprende. Macapá apresenta problemas sociais e os meninos são
os problemas sociais.
O
mundo é regido pelas regras desiguais das disputas desiguais. A interrogação
que martela o teu cérebro é: o mundo é dos mais fortes ou dos que se adaptam as
mudanças? Já decidiu qual tese esposar? A verdade é verdade, ou, a verdade é
relativa? Seria então as duas teorias corretas? Não! A verdade é que na verdade
não há verdade absoluta, há sempre uma relatividade em cada verdade esposada e
dita como verdade para que todos acreditem que a verdade é realmente verdade. A
verdade é que na verdade ela, a verdade, é subjetiva, pois ela é a verdade de
cada indivíduo.
Esse
dilema de quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, atravessa séculos e a
sociedade caminha com suas contradições e as nações ambicionando o poder e o
domínio econômico estabelecem guerras fratricidas, genocídios, carnificinas,
violência urbana que contraria o racionalismo de René Descartes: Dubito, ergo
cogito, ergo sum: "Eu duvido, logo penso, logo existo". Se pensar
fosse realmente a racionalidade do homem, não haveria guerra, disputa de poder.
O diálogo seria a ferramenta utilizada para dirimir conflitose não
belicosidade.
Acordei,
tomei banho num fio de água fria que preguisosamente saia do chuveiro.
Pacientemente aguardei a água molhar meu corpo. Enxuguei-me com uma toalha
velha e rasgada. Vesti a cueca e a velha calça desbotada. Calcei o sapato sem
meia e cologuei uma camiseta Hering preta. Sai de casa fazendo exercício
matinal. Pulando poças d’água e me esgueirando pelas copas das poucas árvores
da minha rua... Ah! Claro. Não tomei café com pão. Não tinha café e nem pão.
Estou desempregado e o meu País está em recessão. Você ainda não ouviu falar da
crise? Temos várias. Uma moral outra política e uma terceira. Econômica.
Escolha a sua e vaiiiiiiii pras ruas no dia 16 de agosto demonstrar o teu
degosto com o Ptralhas. É uma alusão a quadrilha dos quadrinhos da Disney que
sempre tentam, mas não conseguem roubar o Tio Patinhas. Aqui eles conseguiram
roubar o Brasil.
Cheguei
ao ponto de ônibus e a chuva não recuava, insistia em molhar-me. Não há abrigo
de passageiros. Os poucos que existem no Centro de Macapá não protegem da
chuva. Lá pelas tantas passou o Busão. Fuiiiiiiii com fé e esperança que hoje
conseguiria trabalho. Não deu desta vez, mas recebi uma proposta bem na cabeça
da ponte onde mora minha namorada. Também desempregada. Vender drogas.
Fuiiiiiiii! Não! Não, vender drogas não, pra casa tentar outra vez, afinal
amanhã o sol vai brilhar mais uma vez e meu amor em Deus é inabalável. Vai-se a
noite e vem a luz e com ela a esperança de que amanhã será outro dia. Afinal,
não há bem que dure pra sempre e nem mal que nunca se acabe. O José Dirceu,
Lula, Dilma, Genoíno e quetais vão passar... Foi só uma nuvem que passou em minha
vida.
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