Alcy Araújo
Os 50 anos do livro
Autogeografia
Um tributo ao Poeta e
jornalista Alcy Araújo: pelo seu ‘Autogeografia’
Da Editoria-
Texto – Fernando Canto (idealizador e
coordenador da homenagem)
Cinco escritores amapaenses
realizaram no dia 31/07 uma homenagem sui generis ao cinquentenário de
lançamento do livro “Autogeografia”, do poeta Alcy Araújo. Esse livro foi o
primeiro do mais importante autor que passou pelo Amapá, lançado em julho de
1965.
A homenagem foi feita
exatamente às 12h, em quatro pontos da cidade e sob o monumento Marco Zero do
Equador, quando todos leram ao mesmo tempo trechos da obra Alcyniana. Os
escritores escolheram esse momento místico para fazer a leitura de textos do
livro a partir de quatro lugares da cidade, em direção ao Marco Zero do
Equador, a fim de realizar uma Pirâmide Mental direcionada ao vértice desse
extraordinário ponto de convergência, receptor de energia astral da cidade de
Macapá, que tanto o poeta amava.
Pioneiro amapaense
Alcy Araújo foi pioneiro do
Território Federal do Amapá e aqui trabalhou como jornalista e servidor
público, exercendo altos cargos no decorrer de sua vida profissional. Como
escritor incursionou pelo campo da poesia, do conto e da crônica, entre outros.
Era compositor e chegou a ganhar festivais de música por aqui. Mas foi a poesia
que lhe marcou definitivamente e de forma gloriosa a sua carreira. Boêmio e
amigo de todos, Alcy influenciou dezenas de poetas em suas criações, desafiando-os
a produzirem e se aprimorarem. Era conhecido nas rodas boêmias como “Tio” Alcy.
Deixou uma quantidade incontável de textos e poemas que precisam ser publicados
e divulgados, pois sua poesia não perde a atualidade.
O Amapá tem o dever de
preservar a memória criativa e cultural dos seus escritores, a fim de que eles
possam ser conhecidos pelas novas gerações e pelas vindouras. O livro
“Autogeografia” merece urgentemente uma reedição, bem como os outros livros que
o poeta chegou a publicar como “Poemas do Homem do Cais” e “Jardim Clonal”.
Seus contos e crônicas e contos precisam ser reunidos e estudados, entretanto
nem a Academia nem os setores culturais oficiais mexem sequer um dedo para
reacender essa memória escrita, preferindo a cultura de massa em detrimento da
nossa formação intelectual.
A pirâmide é o símbolo da
ascensão. Ela, invertida sobre a ponta, é a imagem do desenvolvimento
espiritual: quanto mais um ser se espiritualiza, mais sua vida se engrandece,
se dilata à medida em que ele se eleva. Do mesmo modo no plano coletivo: quanto
mais um ser se espiritualiza, maior é a sociedade de seres personalizados na
vida dos quais ele participa. Convergência ascendente, consciência de síntese,
a pirâmide é também o lugar de encontro entre dois mundos: um mundo mágico,
ligado aos ritos funerários de retenção indefinida da vida supratemporal, e um
mundo racional, que evocam a geometria e os modos de construção. Na pirâmide
há, ainda, uma pulsação dinâmica que pode ser vista como o símbolo matemático
do crescimento vivo, expressão esta que melhor exprime o simbolismo da
pirâmide. Atribui-se a Hermes Trimegisto uma ideia análoga: o cume de uma
pirâmide simbolizaria o Verbo demiúrgico, Força primeira não engendrada, mas
emergente do Pai e que governa toda coisa criada, totalmente perfeita e
fecunda.
O ato realizado pelos cinco
escritores não objetivou caracterizar uma liturgia mística ou religiosa, mas
uma ação respeitosa àquele que foi nossa maior referência poética e que precisa
ser reconhecido cada vez mais pelo que fez e pelo legado intelectual e
artístico que deixou. Os escritores foram: Manoel Bispo, Fernando Canto, Paulo
Tarso Barros, Osvaldo Simões e Alcinéa Cavalcante (filha do poeta)
Escritores que participaram
da homenagem ao poeta Alcy Araújo
Uma forte emoção tomou conta
de todos os cinco participantes na hora de realização do ato piramidal e
poético, com a leitura dos textos abaixo. Em setembro, por ocasião do Equinócio
da primavera, novo ato será realizado, desta vez com a participação de grupos
poéticos e teatrais.
MENSAGEM
Alcy Araújo
O mar está ficando cada vez mais
distante.
Já quase não divulgo o cais enevoado
que o mar vai levando
e o navio desapareceu em direção
ao outro lado do hemisfério,
deixando meus olhos inertes, sem
lágrimas,
dentro da paisagem estacionária do
espelho.
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Voltarei a me encontrar com o Mundo.
E, quando terminar este descanso,
Amada,
será chegada a hora bíblica de enviar,
por um verso em demanda,
uma mensagem de encorajamento
ao povo nascente que habita
a terra em formação
na Latitude Zero.
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Estou nu, como o sou diante do meu Anjo, desde a minha inauguração até
o agora. Amanhã, talvez, terei mudado. Metamorfose ou metempsicose. Mas aí
estas palavras e estes carinhos terão passado, por ser só este pouco o muito
pouco que posso oferecer:
o meu humílimo gesto de poeta.
A você, poeta Alcy Araújo, a nossa gratidão!
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