Celerina Cardoso dos Santos
Uma homenagem póstuma + 1934 * 2015
O
Bairro Central perdeu um dos seus grandes patrimônios, Celerina Cardoso dos
Santos, moradora fundadora do bairro e da Avenida Euclides da Cunha, onde
residia a quase quatro décadas. Quatro gerações conheceram essa mulher que
diariamente percorria a pé essa rua que começou piçarrenta e alagada, participou
das festas juninas de ruas, foi madrinha de muitos jovens que jogavam o futebol
de rua, festejava as Copas de Mundo. Tudo era motivo de festa e alegria para a
Dona Celé, sua residência recebia todos sem distinção. Os churrascos regados ‘a
gelada’ eram feitos na frente de casa. Festas Juninas, aniversários, Natal, Réveillon.
Os pratos típicos tinham o toque de Celerina. Criou seus filhos, sozinha,
cozinhando para os primeiros governadores do Território Federal do Amapá, que
lhe tinham carinho e respeito. Trabalhou com as primeiras-damas no inicio do
Abrigo São José, cozinhando para os “seus velhinhos”. Amava a natureza, gostava
dos banhos do “Areial”, não perdia uma “farra” com os filhos. A alegria e
animação de Celerina eram contagiantes.
Celerina Cardoso e os filhos |
Neste
domingo (2), cumprindo o presságio de Mês do desgosto, Celerina nos deixou,
partiu silenciosamente, a dor veio de surpresa como um tsunami nos nossos corações
e abateu uma família que tinha nesta matriarca seu norte de vida, honestidade e
amor ao próximo. A saudade será eterna e a presença não poderá mais ser
sentida, mas as lembranças dos bons momentos vividos são um ótimo conforto, que
permanecerá para sempre conosco. O tempo necessário para toda esta dor ir
embora é ainda indeterminado, mas todos os dias em que a coragem de seguir em
frente vencer a tristeza devem ser devidamente comemorados.
Uma
homenagem do Jornal Tribuna Amapaense a Celerina Cardoso, que o lia aos
domingos, não perdia uma edição sequer e torcia pelo nosso sucesso e, sempre
que podia colaborava nas reportagens dando seus comentários e participando das
matérias. Descanse em Paz.
Acompanhe
a homenagem dada a essa guerreira na Edição 160, do TA, em 7 de março de 2009.
Dos
bastidores da política para o Abrigo São José
Isabelle Braña
Afuaense, nascida em 1934, mãe de
quatro filhos e viúva. À primeira vista essas informações não parecem interessantes.
Elas tornam-se comuns, já que são típicas das histórias corriqueiras da
comunidade macapaense. Mas é detalhando a passagem de cada ponto citado
anteriormente, que a vida de Celerina Cardoso dos Santos ganha um tom
interessante e admirável.
Dona Celé, apelido carinhoso dado pelos
familiares, era uma mulher vitoriosa. Ela cresceu com os ensinamentos
oferecidos pela vida e teve muita força de vontade para continuar o seu
caminho. Quando tinha apenas nove anos de idade seus pais faleceram, fato que a
levou a ter uma nova visão sobre o mundo. Nessa época ela passou a ser criada
por seus familiares, mas foi sozinha que ela teve os grandes ensinamentos. Os
anos foram passando e quando Dona Celé completou 16 anos, veio para Macapá,
terra que permaneceu até sua morte.
Ela não sabia, mas a capital do meio do
mundo viria a ser uma peça importante na sua vida. Quando chegou aqui, a
convite de uma prima, ela começou a trabalhar como emprega doméstica. Com a
adolescência e o início da independência seus caminhos foram cruzados com o de
Venâncio Souza Costa.
Desta união, nasceram os filhos Mário
Sérgio, Maricélia, Aluísio e Edson. Com alguns anos de casamento, Dona Celé
separou-se e aí as coisas começaram a mudar. Sua paixão pelas comidas a levou a
prestar serviços como cozinheira. Era da renda obtida que ela sustentava as
quatro crianças, que na época foram assumidas apenas por ela. Com os
aprendizados, seus dotes culinários foram se aperfeiçoando e sua fama crescendo
e foi então que ela passou a trabalhar na residência oficial do governador da
época, Terêncio Furtado de Mendonça Porto. O sucesso de sua comida fez com que
Dona Celé permanece ainda nos governos de Luiz Mendes da Silva e Ivanhoé
Gonçalves Martins. Foram mais de dez anos cozinhando na residência oficial.
Durante esse período ela ganhou muita experiência e mais uma família. Celé
casou-se com Antônio Conceição de Souza e teve mais uma filha, chamada
Marilene. Foram vinte anos de uma união regada com amor, respeito e carinho.
“Sinto saudades dele, éramos muito companheiros e bastante amigos. Fico feliz
por ter sido tratada respeitosamente pelos dois maridos que tive”.
Os constantes contatos com importantes
autoridades do Estado e da região fizeram com que ela vivenciasse os bastidores
da política, ficando a par das principais situações e segredos da década de 50
e 60, época em que a política estava começando a ficar em alta, segundo ela.
“Eu vi e ouvi muitas coisas naquela época. Era impossível não ficar sabendo de
algumas coisas, mas os funcionários eram muito discretos”. Durante sua estadia
na residência oficial ela fez parte da equipe de cozinheiros do presidente
Castelo Branco, momento guardado na sua lembrança até os dias de hoje.
Após um longo período cozinhando para
os governadores, ela foi transferida para o Abrigo São José. Foi nessa fase que
ela se encantou. Servir as pessoas era uma coisa que Celé adorava fazer, ainda
mais se tratando “dos velhinhos”, como ela costumava dizer.
Sua entrada para o Abrigo lhe trouxe
grandes oportunidades. Foi lutando pela causa deles, que Celé passou a viajar
com um grupo de amapaenses todos os anos, o Grupo da Terceira Idade, hoje da
Melhor Idade. Conheceu os Estados de cidades brasileiras, como Rio de Janeiro,
Bahia, Argentina, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraguai, Santa Catarina,
Maranhão e Paraíba foram alguns dos muitos lugares que passou.
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