sexta-feira, 7 de agosto de 2015

ANTENADOS



Aproveitar o caminho


Bárbara de Azevedo Costa

É sabido: a gente costuma se preocupar muito com os alvos que pretende atingir. Vive dia após dia às vezes tão focado em projeções futuras, em planos, em metas e ambições, que até adoece.
Tenho aprendido a aproveitar o caminho. Porque na verdade chegar a qualquer lugar é também a trajetória, o percurso.
Como quando você avança milhas e milhas, em busca de um destino certo, embora a senda seja tortuosa, mas o alvo muito desejado, e quando atinge o lá, o ponto de chegada, percebe enfim que o que precisava era a trajetória, não o pouso.
 O caminho é que muda a gente, no caminho é que a gente se entende, se descobre, mesmo se perdendo em algumas curvas, confundindo setas.
É possível aproveitar o caminho mesmo quando não se sabe muito bem para onde é que se vai. Se você está só seguindo e seguindo, então siga, aproveitando o momento da caminhada. Pode ser o próprio trajeto o propósito.
Acidentes de percurso apavoram, mas também se aproveitam. O medo de falhar perde o sentido se você entende que falhar, cansar, parar para respirar e repensar a rota, tudo isso faz parte do processo. O que importa é perceber: estou vivendo e há algo aqui que vale a pena.
É preciso se deixar envolver pela paisagem da trilha, jogar-se nela, sem desespero. Quem sabe assim toda trilha se torne minimamente interessante, mesmo as mais difíceis e intensas, ou tediosas e aparentemente sem sentido.
Posição conformista essa de aceitar o caminho em que se está? Acontece que algumas vezes não cabe fazer muita coisa: a rota é aquela, só pode ser aquela. Você tem de ir. Por que não torná-la menos insustentável, até que se encontre um atalho, um entroncamento de escolha? "Keep calm and carry one". Parece mesmo o que se diz em tempos de crise. Aceite seu caminho. Aceitaremos o caminho?
Conheci ultimamente muitos angustiados com a configuração desses ramais que nos são oferecidos no país, hoje. Na vida, neste Brasil. Em meu nicho, por exemplo, professores choram com o corte de verbas da educação, quando esta nação teima em dizer-se "pátria educadora". Havemos de permanecer imóveis? Não, faremos algo. Surge então o fantasma da greve, já aderida em tantas universidades.
E assim outros agora se angustiam com esta opção. Eu, inclusive. Por ter planos possivelmente atravessados por barragens, retidos algum tempo. O ganho, se houver, é futuro e parece tão distante, tão mais distante que as metas já previamente traçadas...

Mas, se na luta, a opção mais viável é esta, que venha então a pausa, o transtorno, a pedra que obstrui. O caminho é também espera. Vamos olhar para tudo isso e perceber com lucidez que esses obstáculos também fazem parte do que estamos tentando construir aqui. Aproveitar o percurso, mesmo nas pausas.

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