Aproveitar o caminho
Bárbara
de Azevedo Costa
É
sabido: a gente costuma se preocupar muito com os alvos que pretende atingir.
Vive dia após dia às vezes tão focado em projeções futuras, em planos, em metas
e ambições, que até adoece.
Tenho
aprendido a aproveitar o caminho. Porque na verdade chegar a qualquer lugar é
também a trajetória, o percurso.
Como
quando você avança milhas e milhas, em busca de um destino certo, embora a
senda seja tortuosa, mas o alvo muito desejado, e quando atinge o lá, o ponto
de chegada, percebe enfim que o que precisava era a trajetória, não o pouso.
O caminho é que muda a gente, no caminho é que
a gente se entende, se descobre, mesmo se perdendo em algumas curvas,
confundindo setas.
É
possível aproveitar o caminho mesmo quando não se sabe muito bem para onde é
que se vai. Se você está só seguindo e seguindo, então siga, aproveitando o
momento da caminhada. Pode ser o próprio trajeto o propósito.
Acidentes
de percurso apavoram, mas também se aproveitam. O medo de falhar perde o
sentido se você entende que falhar, cansar, parar para respirar e repensar a
rota, tudo isso faz parte do processo. O que importa é perceber: estou vivendo
e há algo aqui que vale a pena.
É
preciso se deixar envolver pela paisagem da trilha, jogar-se nela, sem
desespero. Quem sabe assim toda trilha se torne minimamente interessante, mesmo
as mais difíceis e intensas, ou tediosas e aparentemente sem sentido.
Posição
conformista essa de aceitar o caminho em que se está? Acontece que algumas
vezes não cabe fazer muita coisa: a rota é aquela, só pode ser aquela. Você tem
de ir. Por que não torná-la menos insustentável, até que se encontre um atalho,
um entroncamento de escolha? "Keep calm and carry one". Parece mesmo
o que se diz em tempos de crise. Aceite seu caminho. Aceitaremos o caminho?
Conheci
ultimamente muitos angustiados com a configuração desses ramais que nos são
oferecidos no país, hoje. Na vida, neste Brasil. Em meu nicho, por exemplo,
professores choram com o corte de verbas da educação, quando esta nação teima
em dizer-se "pátria educadora". Havemos de permanecer imóveis? Não,
faremos algo. Surge então o fantasma da greve, já aderida em tantas
universidades.
E
assim outros agora se angustiam com esta opção. Eu, inclusive. Por ter planos
possivelmente atravessados por barragens, retidos algum tempo. O ganho, se
houver, é futuro e parece tão distante, tão mais distante que as metas já
previamente traçadas...
Mas,
se na luta, a opção mais viável é esta, que venha então a pausa, o transtorno,
a pedra que obstrui. O caminho é também espera. Vamos olhar para tudo isso e
perceber com lucidez que esses obstáculos também fazem parte do que estamos
tentando construir aqui. Aproveitar o percurso, mesmo nas pausas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário