Entender a cidade requer se inserir como ser político
Autor: José Alberto Tostes
Em um rápido recorrido pela internet sobre
temas que envolvem a cidade, cheguei à conclusão que nunca se discutiu tanto os
problemas que nos afetam de forma generalizada, mas então o que falta para que
este imenso repertório esteja a favor de mudanças drásticas em beneficio de
todos. É importante lembrarmos que as principais decisões do País estão
concentradas em Brasília, seja no executivo, legislativo ou judiciário. Já se
falou de tudo no Brasil, livros, relatórios, documentos oficiais e tantos
outros instrumentos materializados em décadas, e por que então, não conseguimos
obter êxito?
Para produzir este artigo, busquei em vários
materiais somar uma série de opiniões de autores, instituições e entidades
civis não governamentais, o objetivo era apreciar se a ideia é geral sobre o
que nos aflige. Anteriormente escrevi um artigo denominado de: “Gestão
municipal eficiente”, um livro editado pela Fundação Getúlio Vargas que define
muito claramente as causas dos problemas crônicos municipais e que afetam o
planejamento e gestão, entre as causas descritas no livro estão: o modelo
federativo que concentra na União a grande parcela dos recursos em torno de
66%; deficiência de investimentos em tecnologia e por último, recursos humanos
ou capital humano sem a qualificação necessária para atender as demandas sempre
crescentes.
Outro material importante para ser avaliado é
do próprio Congresso Nacional, produzido no ano de 2003, onde tem o Senador
Pedro Simon, como um dos grandes responsáveis, o título deste trabalho é um
Manual de apoio aos municípios para obtenção organizada junto à União. O maior
mérito do trabalho é um amplo diagnóstico da realidade municipal, estabelece a
correlação entre causas e efeitos das questões estruturais dos problemas de
planejamento e gestão, Simon, afirma o quanto é necessário à questão do Pacto
Federativo.
Outro importante material para ser avaliado é
do próprio Governo Federal, portanto do executivo, é sobre o Portal da
Transparência, já alguns anos vem sendo publicado um farto material sobre
aplicação de recursos federais nos estados e municípios. O Portal detalha com
clareza a aplicação dos recursos principalmente em investimentos de obras em
todos os setores, define como cada parcela é utilizada e explica os motivos
pelos quais o recurso deixou de ser enviado, entre as causas mais recorrentes
estão os motivos pelos quais, o livro da Fundação Getúlio Vargas explica as
deficiências de gestão e planejamento, mas entre os fatores mais comuns estão
os desvios de finalidade pelo qual o recurso foi obtido e todo tipo de fraude
contra o erário.
Então, vejam temos três materiais distintos
para analisarmos o caso brasileiro, um livro publicado por importante
instituição brasileira, Fundação Getúlio Varga, um material do próprio
Congresso Nacional e um sistema público de consulta do próprio Governo Federal,
o Portal da Transparência. E o que dizer de tudo isso? É que todos conhecem as
causas das mazelas, das questões estruturais, porém, todos estes itens citados
não combinam com um País que possuem mais de 40 partidos, que tem três esferas
de execução: União, estados e municípios, em muitos casos existem sobreposições
de atuações, desrespeitando a Constituição do Brasil.
Os instrumentos estão postos, mas são
utilizados como conveniência por cada um, para que cada gestor possa governar,
tem que fazer vinte mil articulações com entidades, políticos, agremiações e
todo e qualquer forma de poder organizado, estamos diante de conflitos de
interesses intermináveis que prejudicam o Brasil, contribuem para o aumento da
crise dos municípios. Sem dúvida, que a União tem sido uma das mais perversas
quando coloca sobre os “ombros” dos municípios atribuições sem as fontes de
receitas necessárias, é configurar na prática a precariedade da qualidade dos
serviços.
E a sociedade civil dita organizada? Nas
últimas décadas esteve a serviço dos interesses dos poderosos, serviente e
submissa, boa parte do empresariado que contribui com campanhas milionárias,
também estão infiltrados nos mais diversos setores, decidem quem serão os
candidatos, os representantes de conselhos e outros dirigentes importantes, por
conta de quem manda é o investimento que elege o sujeito.
Temos visto a grande maioria dos jovens
descrentes e alheios ao debate político, um dos motivos é a forma de
organização do ensino básico e médio, todos são preparados apenas para seguir
em frente, serem competitivos, tirar boas notas, todavia pouco se prepara um
ser político. A escola é reprodutora de um modelo que não induz o aluno a
pensar, ser crítico, quando chega à universidade, não tem ideias concretas
sobre a realidade onde estão inseridos, são frutos dos exames nacionais que não
medem nada.
E qual será o País do amanhã? O Brasil é a
Nação que julga quantidade e não qualidade, maior parte de boas propostas,
surgem das individualidades e não da coletividade, portanto, responde de forma
mais concreta aos problemas já deduzidos por todas as instituições sobre os
nossos dramas. E onde fica a governança? Onde entra as instituições da
sociedade civil? E as universidades que
são produtoras de conhecimento?
O Brasil conhece o diagnóstico, mas não
aplica o remédio correto, porque tira privilégios de terceiros, de poderosos, a
sensação que todos têm é de que não adianta lutar contra isso, quando na
prática é exatamente este pensamento que desejam os que se legitimam no poder
por décadas. Cada um tem que fazer a sua
parte, precisa se um ser político, que pensa que age que contribui, somente
assim vamos gradualmente mudar as nossas associações, conselhos, órgãos
representativos e principalmente a mentalidade dos partidos políticos. Entender a cidade requer se entender como um
ser político.
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