Suicídio no Amapá
Uma “surdez” emocional da
problemática
O
Amapá é o segundo na região Norte, em números de suicídios, com 6,87 casos para
cada 100 mil habitantes, ocupando o quinto lugar nacionalmente, ou seja, um
número acima das médias internacional, nacional e regional.
Nando Costa
Especial para o TA
Na Revista Eletrônica de Humanidades
do Curso de Ciências Sociais da Unifap, vol. 3, nº 3 de 2010 o acadêmico Miguel
Gil Pinheiro Borges publicou um Artigo sobre a problemática do suicídio no
Brasil e principalmente no Amapá. No referido material ele demonstra sua preocupação
com a escassez de informações que inibi a intervenção de profissionais da área,
da participação esclarecida da sociedade civil no tratamento da questão e, dos
líderes públicos na tomada de decisão para a formulação de políticas de saúde
pública que contemplem a problemática do suicídio.
Enquanto isso o Estado do
Amapá, até este período do ano já foram registrados 28 suicídios, dos quais 16
somente na capital. No mesmo período do ano passado, o número de suicidas
chegou a 32.
Na semana passada, quatro
pessoas tiraram a própria vida, sendo dois casos envolvendo adolescentes. Estudos
realizados pelo Banco de Dados do Sistema Único de Saúde, (DATASUS) e o Sistema
de Informação Estatística da Organização Mundial da Saúde, ( OMS), o Estado do Amapá
possui uma média de 10 a 12 suicídios a cada 100 mil pessoas por ano.
No Brasil acontecem 26
suicídio por dia, pontuando um aumento de 30% nos últimos 25 anos. Regionalmente,
o Norte tem uma média de 3,17 suicídios para cada 100 mil habitantes, sendo a
região brasileira com o menor número de suicídios registrados, encontrando-se
em seu oposto as regiões Sul e Centro-Oeste com, respectivamente, 8,16 e 6,25
suicídios para cada 100 mil habitantes.
Porém, quando se observam os
números referentes a cada Estado e o Distrito Federal, o Amapá é o segundo, na
região Norte, em números de suicídios com 6,87 casos para cada 100 mil habitantes,
ocupando o quinto lugar nacionalmente, ou seja, um número acima das médias
internacional, nacional e regional.
O
que está sendo feito
O Ministério da Saúde
brasileiro publicou a portaria Nº 1.876,
de 14 de agosto de 2006 que instituiu Diretrizes Nacionais para a Prevenção do
Suicídio para ser implantadas em todas as unidades federadas, respeitando as
competências das três esferas de gestão. Esta portaria elenca vários itens
legais, epidemiológicos, financeiros, e inclusive uma recomendação da OMS de
que os Estados Membros desenvolvam diretrizes e estratégias nacionais de
prevenção do suicídio. A portaria 1.876 faz alusão, também, à portaria 2.542/GM
de 22 de dezembro de 2005 que instituiu Grupo de Trabalho com o objetivo de
elaborar e implantar a Estratégia Nacional de Prevenção ao Suicídio.
Aqui no Amapá apenas uma
Organização não governamental, o Centro de Valorização da Vida (CVV), que está há
mais de 14 anos no Estado vem trabalhando no sentido de ouvir as pessoas que
precisam desabafar quando chegam ao ponto de acreditar que a única saída é
desistir de viver.
No parlamento amapaense, foi
apresentado o projeto de lei 182/15 instituindo a Semana Estadual de
Valorização da Vida e Prevenção ao Suicídio. A ideia é trocar informações sobre
o suicídio. “Em muitos casos, de acordo com a OMS, dá para prevenir 90% das
mortes se houver condições para oferta da ajuda. Os serviços de saúde têm que
incorporar a prevenção como componente central. Os transtornos mentais e
consumo nocivo de álcool contribuem para mais casos de suicídio. A
identificação precoce e eficaz são fundamentais para conseguir que as pessoas
recebam a atenção que necessitam”, explicou Pedro Da Lua.
Em 2004, o sociólogo
Renivaldo Costa criou um grupo de trabalho para discutir o suicídio enquanto
fenômeno social e organizou a I Semana Sobre Suicídio no Amapá. Do evento,
surgiu a Carta da Vida, que propõe políticas voltadas à melhoria da qualidade
de vida, prestação adequada de serviços de saúde e geração de emprego e renda
para famílias carentes. É que o GT chegou à conclusão que 90% dos suicídios
decorrem de problemas financeiros ou passionais, como desemprego, separação ou
traição conjugal.
Este ano a Secretaria de
Estado da Saúde promoveu uma miniconferência para estudantes e profissionais de
saúde com o objetivo de melhorar o atendimento ao paciente de saúde mental em
risco.
São atendidas pessoas com
casos graves de sofrimento mental, e que tentaram o suicídio, prestando
assistência psicoterapêutica e psiquiátrica nas unidades de Psiquiatria do
Hospital de Clínicas Alberto Lima e no Centro de Atendimento Psicossocial
(Caps).
Motivos
e meios
O suicídio é considerado um
transtorno multidimensional, resultado de uma complexa interação entre fatores
ambientais, sociais, fisiológicos, genéticos, biológicos. Esse fenômeno
configura-se como problema de saúde pública de difícil prevenção e controle,
pois nos remete a considerar a uma série de requisitos como: melhores condições
de vida possíveis para a criação das crianças e dos jovens; um efetivo
tratamento dos transtornos mentais; controle dos fatores de risco ambientais, dentre
outros (OMS, 2000).
São muitas as tentativas de
suicídios em todo Brasil, anualmente acontecem em média 26 mortes por dia,
entre as causas que levam ao descontentamento de viver, estão álcool, drogas,
relacionamentos frustrados, traições entre outras situações, que fazem com que
algumas pessoas cheguem ao ponto de tentar resolver um sentimento indesejado
com a morte.
As mortes por suicídios, em
sua maioria, são por enforcamentos, estrangulamento ou sufocação (63,1% entre
homens e 42,9% entre mulheres), disparo de arma de fogo (21,4% entre homens e
9,2% entre mulheres) e pesticidas (17,6% entre mulheres e 3,3% entre homens).
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