Extrativistas
do Bailique participam de curso de manejo de açaizais
Da Editoria
Como parte da cooperação
técnica entre a Embrapa e o Protocolo Comunitário do Bailique, distrito
localizado no município de Macapá (AP), foi realizado na comunidade Arraiol do
Bailique um curso de manejo de açaizais nativos de mínimo impacto, com a
participação de extrativistas locais. Bailique é um arquipélago formado por
oito ilhas onde residem cerca de 7 mil pessoas distribuídas em cerca de 40
comunidades.
O conteúdo abordado incluiu legislação e
políticas públicas para o extrativismo e agricultura familiar; distribuição
geográfica, mercado e preço do açaí, princípios do manejo florestal,
equipamentos, insumos e segurança no trabalho, etapas do manejo de mínimo
impacto e boas práticas de colheita e pós-colheita. Durante a parte prática da
capacitação, um mutirão ficou responsável pelas seguintes etapas do manejo de
açaizais nativos: demarcação da unidade de manejo, limpeza da área, inventário
florestal, avaliação do inventário e tratos silviculturais.
Todos os participantes
receberam a publicação “Guia Prático de Manejo de Açaizais para Produção de
Frutos ”, editado pela Embrapa Amapá.
Realização
O curso foi organizado pelo
Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), Associação das Comunidades Tradicionais do
Bailique (ACTB) e Embrapa Amapá. Segundo Edimauro Lopes, presidente da
Associação dos Moradores e Produtores da Comunidade do Arraiol, o manejo de
açaizais nativos já é tradição nas comunidades. Mas iniciativas como essa,
voltadas para aprimorar o conhecimento deles, são bem-vindas. "Há muito
tempo praticamos o manejo de açaizais, mas há sempre coisas novas, porque
aprender é muito importante e também temos um maior envolvimento dos
jovens", observou o líder comunitário.
A pesquisadora da Embrapa Amapá, Ana Euler,
destacou que “é gratificante vivenciar o grau de mobilização e interesse das
comunidades do Bailique em manejar seus recursos naturais, principal fonte de
renda das famílias desta região”. Esse foi o terceiro curso realizado em 2015,
pelo Protocolo Comunitário do Bailique. Mais três capacitações estão sendo
planejadas para dezembro deste ano, incluindo além do açaí o tema mapeamento
participativo e manejo de andirobeiras e pracaxi.
Protocolo
comunitário
O projeto do Protocolo Comunitário do Bailique
tem como objetivo apoiar as comunidades do Bailique nas ações de acesso às
políticas públicas de desenvolvimento sustentável. A equipe da Embrapa faz
análise das demandas e do potencial de cooperação com o GTA e instituições
parceiras que atuam no Bailique, para firmar parcerias técnico-científicas.
Várias tecnologias de melhoria de produção agropecuária são mapeadas pela
Embrapa para serem incluídas nos treinamentos técnicos realizados no Bailique,
com destaque para manejo de camarão, manejo de açaizais nativos, técnicas de
cultivo de peixes, manejo de regeneração do pau mulato, manejo de andirobeiras,
cultivo de variedades de bananas resistentes a doenças.
O projeto de construção do
Protocolo Comunitário do Bailique surgiu a partir da parceria entre o Instituto
Estadual de Florestas (IEF) e o Fundo Vale, que destinou R$ 5 milhões para
ações de fortalecimento das organizações da sociedade civil do Amapá no período
de 2014 a 2016. A participação in loco da Embrapa no Encontrão III realizado no
Bailique em fevereiro deste ano, deu continuidade à articulação entre o
presidente do GTA e o chefe geral da Embrapa Amapá, Jorge Yared, quando foram
apresentados detalhes do projeto Protocolo Comunitário do Bailique e os
resultados alcançados até aquele momento, entre eles a publicação da
metodologia de construção do protocolo e um diagnóstico socioeconômico das 34
comunidades que participam do projeto.
Açaizais
Com relação à produção dos açaizeiros do
arquipélago, a contribuição da Embrapa Amapá remete ao período de 2001 a 2003,
quando o centro de pesquisa atuou com as comunidades do Bailique por meio de um
projeto coordenado pela Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia (Setec), e
parceria do Rurap e do IEPA, financiado pelo Probem, do Ministério do Meio
Ambiente. Por meio deste projeto foram realizadas ações de transferência de
tecnologias, especialmente de manejo de açaizais nativos (capacitação de manejo
e estabelecimento de unidades demonstrativas), sistemas agroflorestais para
recuperação de áreas alteradas com açaizeiros e fornecimento de sementes
selecionadas de açaizeiros com características superiores quanto a produção de
frutos e época da safra. “Estes trabalhos beneficiaram diretamente cerca de 300
produtores no Bailique", recorda o pesquisador Silas Mochiutti. Ele
acrescenta que os resultados deste trabalho podem ser observados atualmente na
economia do arquipélago. "O Bailique tornou-se um importante fornecedor de
frutos de açaí para os mercados de Macapá e Belém, com um substancial aumento
da renda daquela população ribeirinha. Quando iniciamos o trabalho lá, a
produção era muito baixa, inclusive em algumas comunidades não havia produção
nem para o abastecimento local em alguns períodos do ano (aí polpa de açaí de
Macapá), devido a intensa exploração do palmito desta espécie", compara o
pesquisador.
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