As mulheres e o envelhecimento populacional no Brasil.
José Eustáquio Diniz Alves
"As estimativas das projeções
populacionais do IBGE (revisão 2013) confirmam o processo de
feminização do envelhecimento. Para 2060, o IBGE estima um contingente de 33
milhões de homens idosos e 40,6 milhões de mulheres idosas, com superávit
feminino de 7,6 milhões de mulheres", escreve José Eustáquio Diniz Alvez, doutor em demografia e
professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e
Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 20-01-2016.
Eis o artigo.
O Brasil está passando por uma grande
mudança na estrutura etária. A cada ano cresce o número de pessoas com mais de
60 anos de idade e aumenta a proporção de pessoas idosas sobre a população total. Em
1950 havia 2,6 milhões de idosos, representando 4,9% da população brasileira.
No ano 2000 havia 14,2 milhões de idosos (8,1% da população). No ano 2040, o
número de pessoas idosas deve chegar ao montante de 54,2 milhões, alcançando
23,6% da população total do Brasil, segundo estimativas da Divisão de População
da ONU.
Uma das características que acompanha
esse processo de envelhecimento é o crescimento do superávit de mulheres na população idosa. Em 1950,
o número de homens idosos era de 1,18 milhão e o de mulheres era de 1,45 milhão
(havia um superávit de exatos 273 mil mulheres). Em 1980 a quantidade de homens
de 60 anos e mais passou para 3,64 milhões e a quantidade de mulheres chegou a
4 milhões. Nesse ano, o superávit feminino ainda era relativamente pequeno e a
razão de sexo era de 91 homens para cada 100 mulheres entre a população idosa.
A estimativa da ONU para 2040 aponta um número de 23,99 milhões de
homens e 30,19 milhões de mulheres, uma diferença de 6,2 milhões de mulheres em
relação à população idosa masculina. A razão de sexo deve cair para 79 homens
para cada 100 mulheres entre a população idosa. Ou seja, nos próximos anos vai
crescer o excedente de mulheres em cada grupo etário do topo da pirâmide. Este
processo é conhecido como “feminização do envelhecimento”.
As estimativas das projeções
populacionais do IBGE (revisão 2013) confirmam
o processo de feminização do envelhecimento. Para 2060, o IBGE estima um
contingente de 33 milhões de homens idosos e 40,6 milhões de mulheres idosas,
com superávit feminino de 7,6 milhões de mulheres.
Desse contingente majoritário, existe
uma alta proporção de mulheres idosas que moram sozinhas nos domicílios
particulares unipessoais ou moram em domicílios com outros parentes ou
agregados, mas sem a presença de um companheiro. Esse fato foi denominado no
passado de pirâmide da solidão. Mas como morar
sozinho não significa ser solitário, o denominado fenômeno da “pirâmide da
solidão” deve vir escrito entre aspas, indicando apenas a existência de um
crescente número de mulheres idosas sem cônjuges.
Até o ano 2000 as mulheres idosas
(aquelas nascidas antes de 1940) tinham nível educacional, em média, menor do
que o dos homens, refletindo a discriminação de gênero existente
na educação brasileira do passado. Porém, o novo contingente de mulheres com
mais de 60 anos tem revertido a desigualdade de gênero,
fazendo com que o nível de escolaridade do sexo feminino atualmente seja maior
do que o do sexo masculino também entre a população idosa. Ou seja, as mulheres
têm dado uma grande contribuição para elevar o nível educacional do conjunto
das pessoas do topo da pirâmide populacional.
Um dos desafios do processo de feminização do envelhecimento é possibilitar a
criação de um espaço de convivência com o objetivo de motivar a participação
das mulheres idosas no convívio social, evitando o isolamento e fortalecendo a
autoestima e a autonomia feminina. A sociedade
brasileira precisa saber aproveitar o potencial das recém-chegadas à terceira
idade e que possuem altos níveis educacionais e ricas experiências de trabalho
e de vida
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