Projetos e
programas e conexão entre o global e o local
José
Alberto Tostes
Os projetos e programas internacionais, nacionais, regionais ou locais
tem sido algo pertinente para compreender a lógica que permeia a discussão
sobre o desenvolvimento. Os programas e as diversas políticas como o Calha
Norte, Programa Ultraperiferico da União Europeia e o Plano Nacional de
Ordenamento Territorial são exemplos bem peculiares para serem avaliados. Um
dos pontos em relação aos inúmeros planos, programas e projetos tem sido a
distância dos princípios estabelecidos, e qual o fim a ser alcançado.
O Programa da União
Europeia para as chamadas ultraperiferias são propostas que apresentam
encadeamentos consistentes do ponto de vista técnico, mas considera tais áreas subservientes
aos interesses de quem propõe, porém, as proposições são muitas vezes
unilaterais na abordagem, a Guiana Francesa, é um exemplo clássico. A população
destas regiões ultraperifericas não tem a oportunidade de opinar sobre este tipo
de programa. Os “vizinhos” destas regiões são tratados na sua essência como superperiféricos.
Na prática, o resultado tem sido um conjunto de entraves institucionais.
Os programas
institucionais de largo alcance, como a proposta para as áreas ultraperifericas
como sugere a União Europeia deveria estabelecer minimamente os canais de
diálogos institucionais prevendo a similaridade de proposições que reduzissem
as grandes diferenças de concepção política institucional. Concretamente isso
representa muito para o estado do Amapá e Guiana Francesa, no caso da Guiana,
não existe a oportunidade para inserir novas concepções. O programa é unificado
para todas as regiões, desconsiderando uma suposta ideia sistêmica das
políticas internacionais que acabam envolvendo interesses diversos, políticas
idealizadas pressupõem estabelecer níveis de diálogos para aperfeiçoar ações
idealizadas.
No caso da União
Europeia essa visão é pragmática, fica reduzido aos “vizinhos” se adequarem a
esse contexto. Entretanto, deve-se considerar que do lado brasileiro que inclui
o Amapá, existe uma autonomia relativa em conduzir os reais interesses de uma
cooperação internacional ampla. Os atores locais estão muito distanciados desse
contexto. Nos últimos anos, estive atuando no município de Oiapoque, por muitas
vezes estabelecemos a conexão com a Prefeitura de Saint George e com a Agência
de Desenvolvimento da França. Para ambos os lados, Oiapoque e Saint George não
são ouvidos quando se trata de discutir os interesses efetivos da fronteira.
Nessa situação, a
questão global não dialoga com os atores locais, os prefeitos são “reféns” de
um cenário adverso, os burocratas de plantão tentam idealizar uma visão generalizada,
mas não sistêmica da realidade na fronteira, isolando as políticas macro
institucional estejam mais próximas do real. Nessa direção, abordei a
necessidade de se compreender melhor a escala do local. Sobre o programa Calha
Norte, é válido ressaltar que a origem desse programa esteve diretamente
relacionada em torno da defesa militar do território, houve mudanças
metodológicas no alcance do programa, inclusive vislumbrando a perspectiva de
desenvolvimento regional.
Sobre o programa
Calha Norte, quando se trata do estado do Amapá, o volume de recursos
viabilizado é reduzido, tratando-se de impulsionar o desenvolvimento, é algo
pífio, pois são investimentos secundários como creches, serviços de drenagens,
postos de saúde, etc. Podemos pensar que tais investimentos são puramente
secundários para considerarmos a vertente do desenvolvimento. Portanto, esse
programa no caso do Amapá, não tem impulsionado o desenvolvimento. O volume de
recursos acessados também é insuficiente, evidencia a pouca capacidade dos
gestores em pleitear um volume maior de investimentos. Qual é o problema desses
programas? O maior deles está relacionado às questões institucionais onde há um
enorme distanciamento entre o programa e a finalidade; não há perspectiva de
realização de níveis de qualificação para compreender o programa como algo
importante para proporcionar o desenvolvimento; e por último, os programas não
dialogam com outros programas, e também pouco consideram a realidade
institucional do lugar.
E qual a relação entre o programa da União
Europeia e o Calha Norte? Basicamente ambos desconsideram a visão sistêmica
institucional, apesar do programa da União Europeia ser mais abrangente, se
equivoca quanto aos resultados práticos. Para que tais programas, planos ou
projetos tenham êxito, é importante pensar as escalas e os níveis de atuação. A
partir do momento em que os programas são unificados e desconsideram a
realidade especifica, as chances de resultados efetivos são escassas acabam encontram
profundos obstáculos para serem superados.
Sobre o Plano
Nacional de Ordenamento Territorial elaborado pelo governo brasileiro, não
houve nenhum tipo de cobrança mais efetiva para que todos os estados cumprissem
a meta de elaborar do plano estadual, tão pouco, foi dado aos municípios oportunidade
de abrir linhas de financiamento para concluir os planos diretores paralisados
por falta de recursos.
Os municípios estão
submetidos a um modelo “cruel”. A União e os estados concentram a maior parte
do volume de recursos, todavia, os municípios absorvem uma “avalanche” de
problemas, mas não conseguem, se sequer, acessar os recursos de programas, em tese,
deveria servir de suporte para o desenvolvimento. Os programas por enquanto,
tem a face do burocratismo, exacerbado e exagerado, aumenta as desigualdades
sociais e regionais, bem como, transforma áreas ditas periféricas e ultraperiféricas
em objeto de estudo com algum tipo de anomalia. A impressão é que apesar da ampla
revolução comunicacional ainda estamos com imensa dificuldade de conexão entre o
global e o local.
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