sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Pioneirismo



Hoje sou macapaense, pois adotei Macapá e ela me adotou. Eu vim para ficar, já dei minha contribuição e ainda estou dando para o desenvolvimento desta cidade maravilhosa . Aqui que vou morrer e ser enterrado”.
José Carlos de Paiva e Nacira da Silva Leite - Empreendedores




Reinaldo Coelho
Da Editoria

Esta semana a editoria foi buscar um casal de pioneiro potiguar que veio para o Amapá atuar na construção civil, como administrador de empresa, e aqui enraizou Ele é José Carlos de Paiva, 63 anos, nascido no município de Rafael Godeiro, e ela, Nacira da Silva Leite, 67 anos, nascida em Nísia Floresta, no Rio Grande Norte. Esse casal, que aqui se encontra, contribuiu com o Amapá, através de suas atividades profissionais, ele construindo obras estaduais e ela como empreendedora em uma pequena mercearia. Criariam os três filhos que hoje continuam ajudando o Estado como operadores do Direito. Acompanhe essa história.


O potiguar que virou amapaense
Passou a infância no alto sertão nordestino, onde fez seus estudos iniciais e foi para a Natal, capital conhecida como a "Cidade do Sol" ou "Noiva do Sol", por ser uma das localidades com o maior número de dias de sol no Brasil, chegando a aproximadamente trezentos. Também a chamam de "Capital Espacial do Brasil" devido às operações da primeira base de foguetes da América do Sul, o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, no município limítrofe de Parnamirim. “Em Natal terminei meus estudos, me formando em Administração de Empresas. E, logo em seguida, passei a trabalhar na Construtora Mendes Carlos de propriedade de meus primos”.

José Carlos conta que a empresa de construção civil atua na capital potiguar, no Rio de Janeiro, Maceió, João Pessoa, Mossoró, Belém, Castanhal e Macapá. “Depois de atuarmos no nordeste e sudeste viemos para o Norte e chegamos a Macapá em 1984, na época do governador Aníbal Barcelos, onde executamos a construção do prédio sede da Secretaria Estadual de Educação, reformamos a garagem do governo estadual, construímos a casa da MPB, que foi o maior sucesso em Macapá, instalada no então balneário do Araxá, que era de propriedade da empresa que vendeu para o jornalista Luiz Melo, que instalou a Rádio Antena 1”.

Namoro e casamento
Na lida da construção civil, além das instalações dos canteiros de obras era praxe a instalação de alojamentos para os engenheiros e da administração. “Aqui em Macapá instalamos o escritório e o alojamento em uma residência na Raimundo Alvares da Costa, de propriedade do empresário José Alcolumbre, que depois vendeu para o médico Iacy Alcântara (falecido), onde ficamos por um ano”.

E como sempre acontece com os novos moradores de alguma comunidade, é encontrar os conterrâneos. Próximo ao alojamento da empresa tinha um comércio de propriedade de uma potiguar chamada Nacira da Silva Leite. “Sempre ia comprar cigarro em uma mercearia ali próximo de propriedade de Nacira, que tinha enviuvado há um ano. Ali começamos um namoro que perdura até hoje. São 32 anos de relacionamento”.

Nacira da Silva Leite, hoje com 67 anos de idade, nasceu em Nísia Floresta no Rio Grande Norte e seu primeiro marido era também potiguar e residia em Macapá, para onde migrara à procura de melhoria de vida e sempre retornava a seu Estado, quando em uma dessas visitas conheceu Nacira namoraram, casaram e tiveram dois filhos Marcelo e Renata Leite. “O primeiro esposo de Nacira faleceu devido a uma malária e após um ano de seu falecimento foi que conheci Nacira e seus filhos, Marcelo estava com 11 anos e Renata com 7 anos e passaram a ser meus filhos do coração”.

Nesse novo relacionamento, onde José Carlos Paiva agregou-se a uma família com seu casamento com dona Nacira, com quem teve a filha Marcela Paiva Leite, que hoje é formada em direito e servidora judicial na comarca de Pedra Branca do Amapari. “Os três filhos optaram pela área jurídica, Renata é bacharelada em direito, concursada do governo estadual e atual na Fundação da Criança (FCria) e o Marcelo é formado pela Universidade Católica de Pelotas (RS) e advoga no Amapá. E por ai afora...” 

Vida em Macapá

Após o encerramento dos contratos de construção com o Governo do Amapá, a Construtora Mendes Carlos foi atuar em outros canteiros e José Carlos de Paiva, devido já ter fixado raízes com um casamento adotou Macapá como sua morada e ficou residindo no prédio do MPA no Araxá. “Ao vender a casa no Araxá, para o Luís Melo, retornei a Natal, mas o amor me fez retornar para o lado da então mercearia da Nacira, onde construí uma casa noturna camada “Os Novos Baianos”, trouxe uma Banda de Forró do Rio Grande do Norte e foi um grande sucesso”.
Porém, mais uma vez a incompetência da administração pública leva a derrocada dos pequenos empresários. “A hiperinflação da década de 80 chegou a superar os 80% ao mês – sim, ao mês. Ou seja, o mesmo produto chegava a quase dobrar de preço de um mês para o outro. A inflação média no país foi de 233,5% ao ano. Na década seguinte, entre os anos de 1990 e 1999, a variação anual subiu para 499,2%. Eu ficava em uma fila para pegar duas grades de cervejas, era fila para tudo, então resolvi fechar e fiquei na mercearia com a Nacira”.
A mercearia funcionava na Rua Manoel Eudóxio Pereira, esquina com a Avenida Procópio Rola. “O bairro era novo, tínhamos somente a Procópio Rola com uma cobertura asfáltica e a Manoel Eudóxio era puro barro, que deixava a mercearia um pandemônio”.
José Carlos lembra que a mercearia começou funcionando na credibilidade demonstrada pela clientela. “Não tínhamos cartão de crédito. O que funcionava era o “caderno de crédito”, onde anotávamos os fiados e recebíamos mensalmente, quando saía o pagamento dos funcionários públicos, tudo na base da confiança. A nossa clientela do “fiado” era de 36 pessoas. Era uma dor de cabeça”.
Aposentadoria com trabalho
O casal José Carlos e Nacira, depois de muitos anos trabalhando no comércio varejista e no mesmo ponto, resolveram com a aposentadoria da esposa a dar um sossego, porém o costume de trabalhar e o espírito empreendedor levou o casal a retornar as atividades. José Carlos tentou a venda de Jóias, porém não deu certo e o destino os colocou mais uma vez atrás do balcão. “Resolvemos parar e alugamos o ponto para funcionar uma padaria. Porém depois de um ano sem fazer nada fiquei “doidinho” e com a abertura do Campus da UEAP, em frente de nossa residência, resolvemos abrir uma lanchonete e graças a Deus está indo muito bem. E somente eu e ela damos conta do recado e podemos viver tranquilos”.
Macapá de ontem e de hoje
Quando aqui cheguei Macapá não tinha nem uma faixada nas lojas, era uma cidade interiorana. Macapá hoje tem tudo que uma cidade grande tem, com atacadão, supermercados, shopping center. Suplantou as piadas que no centro sul faziam daqui. Eu lembro de que um grupo de universitários do Amapá foi participar do Show do Milhão de Silvio Santos, quando ele debochou, perguntando “Macapá tem farmácia” .
Minha Macapá

Hoje sou macapaense. Adotei Macapá e ela me adotou. Eu vim para ficar, já dei minha contribuição e ainda estou dando. Aqui é que vou morrer e ser enterrado, não sei se o cemitério do centro tem vaga, pois quero ficar no mesmo bairro que tenho labutado. Não quero ir para a Zona Norte não. Quero agradecer pelo apoio que os amapaenses me deram, são pessoas maravilhosas. No dia 16 de março vou visitar meus familiares em Natal, porém levo comigo os CDs do Amadeu Cavalcante, do Osmar Júnior, dos cantores amapaenses. E se forem “mangar”, vou sair na “porrada” pois não gosto que falem mal do Amapá”.

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