“Hoje sou macapaense, pois adotei Macapá e ela me
adotou. Eu vim para ficar, já dei minha contribuição e ainda estou dando para o
desenvolvimento desta cidade maravilhosa . Aqui que vou morrer e ser enterrado”.
José Carlos de Paiva e Nacira da Silva Leite -
Empreendedores
Reinaldo Coelho
Da Editoria
Esta semana a editoria foi buscar um casal de pioneiro
potiguar que veio para o Amapá atuar na construção civil, como administrador de
empresa, e aqui enraizou Ele é José Carlos de Paiva, 63 anos, nascido no
município de Rafael Godeiro, e ela, Nacira da Silva Leite, 67 anos, nascida em
Nísia Floresta, no Rio Grande Norte. Esse casal, que aqui se encontra,
contribuiu com o Amapá, através de suas atividades profissionais, ele
construindo obras estaduais e ela como empreendedora em uma pequena mercearia.
Criariam os três filhos que hoje continuam ajudando o Estado como operadores do
Direito. Acompanhe essa história.
O potiguar que virou amapaense
Passou a infância no alto sertão nordestino, onde fez
seus estudos iniciais e foi para a Natal, capital conhecida como a "Cidade
do Sol" ou "Noiva do Sol", por ser uma das localidades com o
maior número de dias de sol no Brasil, chegando a aproximadamente trezentos.
Também a chamam de "Capital Espacial do Brasil" devido às operações
da primeira base de foguetes da América do Sul, o Centro de Lançamento da
Barreira do Inferno, no município limítrofe de Parnamirim. “Em Natal
terminei meus estudos, me formando em Administração de Empresas. E, logo em
seguida, passei a trabalhar na Construtora Mendes Carlos de propriedade de meus
primos”.
Namoro e casamento
Na lida da construção civil, além das instalações dos
canteiros de obras era praxe a instalação de alojamentos para os engenheiros e
da administração. “Aqui em Macapá instalamos o escritório e o alojamento em
uma residência na Raimundo Alvares da Costa, de propriedade do empresário José
Alcolumbre, que depois vendeu para o médico Iacy Alcântara (falecido), onde
ficamos por um ano”.
E como sempre acontece com os novos moradores de
alguma comunidade, é encontrar os conterrâneos. Próximo ao alojamento da
empresa tinha um comércio de propriedade de uma potiguar chamada Nacira da
Silva Leite. “Sempre ia comprar cigarro em uma mercearia ali próximo de
propriedade de Nacira, que tinha enviuvado há um ano. Ali começamos um namoro
que perdura até hoje. São 32 anos de relacionamento”.
Nacira da Silva Leite, hoje com 67 anos de idade,
nasceu em Nísia Floresta no Rio Grande Norte e seu primeiro marido era também
potiguar e residia em Macapá, para onde migrara à procura de melhoria de vida e
sempre retornava a seu Estado, quando em uma dessas visitas conheceu Nacira
namoraram, casaram e tiveram dois filhos Marcelo e Renata Leite. “O primeiro
esposo de Nacira faleceu devido a uma malária e após um ano de seu falecimento
foi que conheci Nacira e seus filhos, Marcelo estava com 11 anos e Renata com 7
anos e passaram a ser meus filhos do coração”.
Nesse novo relacionamento, onde José Carlos Paiva
agregou-se a uma família com seu casamento com dona Nacira, com quem teve a filha
Marcela Paiva Leite, que hoje é formada em direito e servidora judicial na
comarca de Pedra Branca do Amapari. “Os três filhos optaram pela área
jurídica, Renata é bacharelada em direito, concursada do governo estadual e
atual na Fundação da Criança (FCria) e o Marcelo é formado pela Universidade
Católica de Pelotas (RS) e advoga no Amapá. E por ai afora...”
Vida em Macapá
Após o encerramento dos contratos de construção com o
Governo do Amapá, a Construtora Mendes Carlos foi atuar em outros canteiros e
José Carlos de Paiva, devido já ter fixado raízes com um casamento adotou
Macapá como sua morada e ficou residindo no prédio do MPA no Araxá. “Ao
vender a casa no Araxá, para o Luís Melo, retornei a Natal, mas o amor me fez
retornar para o lado da então mercearia da Nacira, onde construí uma casa
noturna camada “Os Novos Baianos”, trouxe uma Banda de Forró do Rio Grande do
Norte e foi um grande sucesso”.
Porém, mais uma vez a incompetência da administração
pública leva a derrocada dos pequenos empresários. “A hiperinflação da
década de 80 chegou a superar os 80% ao mês – sim, ao mês. Ou seja, o mesmo
produto chegava a quase dobrar de preço de um mês para o outro. A inflação
média no país foi de 233,5% ao ano. Na década seguinte, entre os anos de 1990 e
1999, a variação anual subiu para 499,2%. Eu ficava em uma fila para pegar duas
grades de cervejas, era fila para tudo, então resolvi fechar e fiquei na
mercearia com a Nacira”.
A mercearia funcionava na Rua Manoel Eudóxio Pereira,
esquina com a Avenida Procópio Rola. “O bairro era novo, tínhamos somente a
Procópio Rola com uma cobertura asfáltica e a Manoel Eudóxio era puro barro,
que deixava a mercearia um pandemônio”.
José Carlos lembra que a mercearia começou funcionando
na credibilidade demonstrada pela clientela. “Não tínhamos cartão de
crédito. O que funcionava era o “caderno de crédito”, onde anotávamos os fiados
e recebíamos mensalmente, quando saía o pagamento dos funcionários públicos,
tudo na base da confiança. A nossa clientela do “fiado” era de 36 pessoas. Era
uma dor de cabeça”.
Aposentadoria com trabalho
O casal José Carlos e Nacira, depois de muitos anos
trabalhando no comércio varejista e no mesmo ponto, resolveram com a
aposentadoria da esposa a dar um sossego, porém o costume de trabalhar e o
espírito empreendedor levou o casal a retornar as atividades. José Carlos
tentou a venda de Jóias, porém não deu certo e o destino os colocou mais uma
vez atrás do balcão. “Resolvemos parar e alugamos o ponto para funcionar uma
padaria. Porém depois de um ano sem fazer nada fiquei “doidinho” e com a
abertura do Campus da UEAP, em frente de nossa residência, resolvemos abrir uma
lanchonete e graças a Deus está indo muito bem. E somente eu e ela damos conta
do recado e podemos viver tranquilos”.
Macapá de ontem e de hoje
“Quando aqui cheguei Macapá não tinha nem uma
faixada nas lojas, era uma cidade interiorana. Macapá hoje tem tudo que uma
cidade grande tem, com atacadão, supermercados, shopping center. Suplantou as
piadas que no centro sul faziam daqui. Eu lembro de que um grupo de
universitários do Amapá foi participar do Show do Milhão de Silvio Santos,
quando ele debochou, perguntando “Macapá tem farmácia” .
Minha Macapá
“Hoje sou macapaense. Adotei Macapá e ela me
adotou. Eu vim para ficar, já dei minha contribuição e ainda estou dando. Aqui
é que vou morrer e ser enterrado, não sei se o cemitério do centro tem vaga,
pois quero ficar no mesmo bairro que tenho labutado. Não quero ir para a Zona
Norte não. Quero agradecer pelo apoio que os amapaenses me deram, são pessoas
maravilhosas. No dia 16 de março vou visitar meus familiares em Natal, porém
levo comigo os CDs do Amadeu Cavalcante, do Osmar Júnior, dos cantores amapaenses.
E se forem “mangar”, vou sair na “porrada” pois não gosto que falem mal do
Amapá”.
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