sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

ANTENADOS

Graduação, despedidas e novos começos

Na última segunda-feira, dia 22 de fevereiro, aconteceu minha colação de grau especial. Tive de antecipar por conta do calendário de matrícula na pós-graduação na UFC, depois de aprovada no programa de mestrado da instituição. O auditório na reitoria encontrava-se cheio. Debaixo dos lustres, cerca de 100 concludentes. Mas, especificamente das Letras, éramos só 4.


Encontrei o meu cantinho ali logo ao lado de um amigo, amizade feita durante a correria dos estudos para as provas de mestrado, ele que também vivera afoito os últimos dias, tendo de lidar ao mesmo tempo com o término da graduação e zilhões de relatórios de estágio para entregar. O sofrimento une, dizem. Mas até que exagero: nesse processo todo de fim de curso e seleção de pós, não houve muito sofrimento. Houve um pouco de exasperação com o peso da burocracia, mas sobrevivemos, e tudo agora é alegria, e projeto de alegria.


Eu ainda lembro: não faz muito tempo eu estava nos jardins dessa mesma reitoria, a minha cor era verde e o ano era 2012. Primeiro dia de aula, e eu procurava meu campus. Não sabia para onde ir e nem por onde andava, tinha só vagas ideias, e uma habilidade zero em termos de localização geográfica. Eu levava meus tios a tiracolo. Quer dizer, eles é que me levavam. E hoje, entre um pouquinho envergonhada da matutice e um tantão enternecida pelo apoio, eu lembro que fiz meus tios me acompanharem até a faculdade durante a minha primeira semana de aula inteira, todos os dias. Na verdade, eles se ofereceram antes que eu pudesse pedir, adivinhando minhas ansiedades. Eu trazia melissinha nos pés. Eu sabia quase nada. Tudo me apavorava.


Então meus tios me acompanhavam naquela ocasião inaugural e acabamos parando na reitoria e claramente não era ali que eu teria as minhas aulas, embora muito tivesse desejado passar os anos letivos todos contemplando a existência humana debaixo daqueles lustres, e resolvemos assim pedir informação a um senhor que pairava por ali, e de maneira um tanto ríspida ele apontou o que lhe parecia tão óbvio ao ponto de nem merecer gentileza na resposta: "Aqui ninguém tem aula não, isso daqui não é faculdade. O campus é do outro lado ali, ó, atravessando a 13 de Maio". Encontramos o CH1, afinal. A vida já virando esse turbilhão de siglas criptografadas: BCH, DLV... O que só serviu pra aumentar ainda mais o meu pavor imediato diante da máquina estranha que era a recente vida adulta.


E a rispidez daquela primeira informação dada no mundo de fora me fez criar essa impressão de que todos na nova cidade seriam impacientes comigo e potencialmente ríspidos. Coisa de quem nunca soube se virar muito bem no mundo. Eu era tão assustadiça! Eu tinha vergonha de falar com os atendentes de caixa do McDonald's, e até o fato de que os motoristas de ônibus não me respondiam quando eu lhes dava bom dia ou dizia "obrigada" na volta pra casa me fazia trepidar e cair no choro.


Agora eu conto, porque lembro com alguma graça. Mas ficou pra trás.
Houve um momento do clique, um momento do estalo: você acaba crescendo, de uma maneira ou de outra, acho. Me dei conta de que tava apavorando demais, precisava relaxar. É claro, o que ajudou foi conversar com Jesus. Ele me apontando os caminhos, aplainando-os. Deixei de transformar tudo em roer de unhas, dor de estômago e lágrimas. Aquele medo que eu tinha de encontrar rispidez em tudo e em todos passou, sabe? Hoje, eu desço do ônibus saltitante e mando aquele "valeu, piloto!", o que ainda arranca riso de motoristas em geral. Pequenas vitórias. Eu pensava que nunca faria amigos aqui, eu pensava que nada, nada seria como eu planejara lá nos meus delírios de menina que gosta de riscar papel e xeretar estante. Acabou sendo muito melhor. Acho que é isso: Deus surpreende a gente. O homem faz planos, mas a última palavra é Dele. E as coisas todas cooperam pro bem dos que amam a Deus, ou tentam. Qualquer coisa assim.


E encerro com a lembrança das palavras do vice-reitor na cerimônia especial. Que o tempo de ser alegre é agorinha mesmo. Disse ele: "Sejam felizes. Não é depois que vocês serão felizes. É agora, já". Gravei no peito. Coisa que minha família sempre me diz é: "Seja feliz". Os conselhos se encontraram. E vi: sim, eu fui feliz aqui. Estou sendo. E o meu mundo que era do tamanho de uma noz ficou mais universal depois da universidade. É possível já andar de ônibus sem chorar, rindo das intervenções artísticas em stêncil, elegendo meus pixos favoritos, contando praças, sendo mais que o meu umbigo, sonhando novos rumos.


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