Graduação, despedidas e novos começos
Na última segunda-feira, dia 22 de
fevereiro, aconteceu minha colação de grau especial. Tive de antecipar por
conta do calendário de matrícula na pós-graduação na UFC, depois de aprovada no
programa de mestrado da instituição. O auditório na reitoria encontrava-se
cheio. Debaixo dos lustres, cerca de 100 concludentes. Mas, especificamente das
Letras, éramos só 4.
Encontrei o meu cantinho ali logo ao
lado de um amigo, amizade feita durante a correria dos estudos para as provas
de mestrado, ele que também vivera afoito os últimos dias, tendo de lidar ao
mesmo tempo com o término da graduação e zilhões de relatórios de estágio para
entregar. O sofrimento une, dizem. Mas até que exagero: nesse processo todo de
fim de curso e seleção de pós, não houve muito sofrimento. Houve um pouco de
exasperação com o peso da burocracia, mas sobrevivemos, e tudo agora é alegria,
e projeto de alegria.
Eu ainda lembro: não faz muito tempo
eu estava nos jardins dessa mesma reitoria, a minha cor era verde e o ano era
2012. Primeiro dia de aula, e eu procurava meu campus. Não sabia para onde ir e
nem por onde andava, tinha só vagas ideias, e uma habilidade zero em termos de
localização geográfica. Eu levava meus tios a tiracolo. Quer dizer, eles é que
me levavam. E hoje, entre um pouquinho envergonhada da matutice e um tantão
enternecida pelo apoio, eu lembro que fiz meus tios me acompanharem até a
faculdade durante a minha primeira semana de aula inteira, todos os dias. Na
verdade, eles se ofereceram antes que eu pudesse pedir, adivinhando minhas
ansiedades. Eu trazia melissinha nos pés. Eu sabia quase nada. Tudo me
apavorava.
Então meus tios me acompanhavam
naquela ocasião inaugural e acabamos parando na reitoria e claramente não era
ali que eu teria as minhas aulas, embora muito tivesse desejado passar os anos
letivos todos contemplando a existência humana debaixo daqueles lustres, e
resolvemos assim pedir informação a um senhor que pairava por ali, e de maneira
um tanto ríspida ele apontou o que lhe parecia tão óbvio ao ponto de nem
merecer gentileza na resposta: "Aqui ninguém tem aula não, isso daqui não
é faculdade. O campus é do outro lado ali, ó, atravessando a 13 de Maio".
Encontramos o CH1, afinal. A vida já virando esse turbilhão de siglas
criptografadas: BCH, DLV... O que só serviu pra aumentar ainda mais o meu pavor
imediato diante da máquina estranha que era a recente vida adulta.
E a rispidez daquela primeira
informação dada no mundo de fora me fez criar essa impressão de que todos na
nova cidade seriam impacientes comigo e potencialmente ríspidos. Coisa de quem
nunca soube se virar muito bem no mundo. Eu era tão assustadiça! Eu tinha
vergonha de falar com os atendentes de caixa do McDonald's, e até o fato de que
os motoristas de ônibus não me respondiam quando eu lhes dava bom dia ou dizia
"obrigada" na volta pra casa me fazia trepidar e cair no choro.
Agora eu conto, porque lembro com
alguma graça. Mas ficou pra trás.
Houve um momento do clique, um
momento do estalo: você acaba crescendo, de uma maneira ou de outra, acho. Me
dei conta de que tava apavorando demais, precisava relaxar. É claro, o que
ajudou foi conversar com Jesus. Ele me apontando os caminhos, aplainando-os.
Deixei de transformar tudo em roer de unhas, dor de estômago e lágrimas. Aquele
medo que eu tinha de encontrar rispidez em tudo e em todos passou, sabe? Hoje,
eu desço do ônibus saltitante e mando aquele "valeu, piloto!", o que
ainda arranca riso de motoristas em geral. Pequenas vitórias. Eu pensava que
nunca faria amigos aqui, eu pensava que nada, nada seria como eu planejara lá
nos meus delírios de menina que gosta de riscar papel e xeretar estante. Acabou
sendo muito melhor. Acho que é isso: Deus surpreende a gente. O homem faz
planos, mas a última palavra é Dele. E as coisas todas cooperam pro bem dos que
amam a Deus, ou tentam. Qualquer coisa assim.
E encerro com a lembrança das
palavras do vice-reitor na cerimônia especial. Que o tempo de ser alegre é
agorinha mesmo. Disse ele: "Sejam felizes. Não é depois que vocês serão
felizes. É agora, já". Gravei no peito. Coisa que minha família sempre me
diz é: "Seja feliz". Os conselhos se encontraram. E vi: sim, eu fui
feliz aqui. Estou sendo. E o meu mundo que era do tamanho de uma noz ficou mais
universal depois da universidade. É possível já andar de ônibus sem chorar,
rindo das intervenções artísticas em stêncil, elegendo meus pixos favoritos,
contando praças, sendo mais que o meu umbigo, sonhando novos rumos.
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