sexta-feira, 4 de março de 2016

PIONEIRISMO


Pioneirismo


“Assisto estarrecida o noticiário, com a agressão aos meus colegas professores. O aluno não respeita mais os seus mestres. Os pais não dão mais apoio as decisões da escola e o pior eles não estão aprendendo que sem professor, não teríamos médicos, engenheiros, advogados, contadores, juízes, governadores, presidentes. Não haveria tecnologia, nem leitura de mundo...”.

Zoraide Coelho do Nascimento – professora aposentada

Esta semana estamos comemorando o Dia Internacional da Mulher e procuramos uma pioneira do Amapá, que representasse todas as mulheres amapaenses e optamos pela professora pioneira Zoraide Coelho do Nascimento, uma mulher guerreira e educadora que desbravou o interior do Amapá, lecionando nas escolas isoladas das comunidades amapaenses.

A professora Zoraide Coelho teve que superar grandes obstáculos para cumprir sua missão no magistério amapaense. Professora leiga, como eram denominados os mestres que tinham os estudos iniciais e que devido a carência de docentes eram treinadas, através de Cursos de Férias, quando recebiam as técnicas metodológicas e o acompanhamento das suas atividades em salas de aulas pelas Supervisoras Escolares.

Superação para acessarem as escolas isoladas, que devido o precário sistema rodoviário do então Território Federal do Amapá, ainda eram de terra batida ou piçarra, e quando chegava o inverno rigoroso, se transformava em lamaçal, isolando por meses as comunidades interioranas.

Zoraide Coelho do Nascimento nasceu na localidade de Aporema-Ap, em 26 de abril de 1931. Naquela época, Aporema ainda pertencia ao Estado do Pará; hoje é um distrito do município de Tartarugalzinho, no Estado do Amapá. Filha de Raimundo Marques dos Santos e Minervina Coelho dos Santos, ambos pequenos pecuaristas do baixo Araguari.

A professora Zoraide Coelho começou cedo na labuta, pois seus pais, pecuaristas e agricultores de sobrevivência, necessitaram da sua energia no campo. “Ajudava a minha mãe e os peões a colher milho, debulhar e ensacar. Quando matávamos gado, tínhamos de salgar e guardar, pois não tínhamos energia elétrica. Era muito sacrifício para podermos usar para a nossa alimentação e o excedente conseguir vender ou fazer o escambo muito usado naquela época que era troca de mercadorias ou serviços sem fazer uso de dinheiro”.

Após uma temporada residindo em Belém (PA), para onde se mudaram devido à morte de seu pai, Zoraide retornou ao Amapá. Minha mãe tinha um terreno, com 150 cabeças de gado, herança deixado pelo meu pai. Porém, devida as enchentes do Araguari, o gado pegava a ura, um tipo de larva deixada pelas moscas que causam grande perda nos rebanhos e é um dos principais ectoparasitas de gado bovino”, explica Zoraide.

Netos e Bisnetos

Com problemas na pequena fazenda, Zoraide e a família se estabeleceram em Macapá, foi quando se casouaos 21 anos de idade, com o policial da antiga Guarda Territorial Raimundo Moura do Nascimento, o famoso Gatão (falecido). São 6 (seis) os filhos gerados por essa grande mulher: Maria das Graças, Reinaldo Coelho, Arnaldo Coelho (falecido), Maria Graciete Coelho, Roberto Coelho (Roberto Gato) e Maria Margarete Coelho; e, têm como descendentes 16 netos e 13 bisnetos.
Filhos

Estudos

Devido aos atropelos da vida, Zoraide Coelho não concluiu seus estudos, e com a criação do Território Federal do Amapá, surgiu uma oportunidade de ingressar no sistema educacional e foi indicada pelo professor João Guerra (falecido) ingressando assim, com autorização da então diretora de Educação professora Graziela Reis de Souza na rede de ensino territorial.
Professora Zoraide Coelho
 posando onde é hoje a Praça Zagury

Professora Zoraide trabalhou em diversas escolas do interior do Estado, e na capital foi professora nas escolas Coaracy Nunes, Dom Aristides Piróvano, Antônio João, Barão do Rio Branco e foi também secretária na Escola São Benedito.
Fez seus estudos iniciais através dos Cursos de Férias, o Ensino Pedagógico no Instituto de Educação do Território do Amapá (IETA) e iniciou o curso de pedagogia no núcleo da Universidade Federal do Pará - UFPA, em Macapá, mas não concluiu.

Aposentadoria

Faz 30 anos que está aposentada. Hoje, com 85 anos de idade, professora Zoraide Coelho do Nascimentocontinua ligada a educação e muito preocupada com o atual sistema educacional do Brasil, principalmente pela desvalorização da pessoa do professor pelo poder público, pelos pais e alunos.
Uma das suas preocupações é com a violência em sala de aula contra professores. O medo dos alunos, as situações de agressão e humilhação e a sensação de impotência são as queixas mais comuns dos atuais professores. Fala-se sempre sobre salário ou infraestrutura das escolas, mas a insegurança do professor em relação aos alunos é mais frequente. Os professores reclamam mais do medo que do salário.

Assisto estarrecida o noticiário, com a agressão aos meus colegas professores. O aluno não respeita os seus mestres. Os pais não dão mais apoio as decisões da escola e o pior eles não aprendem que não teríamos médicos, juízes e outros profissionais sem um professor.

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