sexta-feira, 4 de março de 2016

ANTENADOS



Andar com minha irmã por estas ruas daqui de Fortaleza é algo curioso. Ela veio passar aqui comigo uns dias, em férias fora de temporada. Vai fazer sete anos agora no fim de março a meninota. Trocou já alguns dentes e os permanentes estão nascendo. Chama-se Laura.

Laura não pode ver um gatinho ou cachorro na rua, e já diz logo que são as coisas mais fofas do mundo. É engraçado ver uma criança achando fofura nas outras criaturas. Ela pensa que todos os cães são poodles. Fica com vontade de se aproximar dos donos e perguntar o nome dos filhotes, mas depois, normalmente, perde a  coragem e morre de vergonha. Até agora, contudo, descobrimos já alguns nomes caninos, como o de Rocco, também chamado Nhonhoco, coisa que ela não pôde esquecer.

Descobrimos que os brigadeiros estão custando na faixa de três e cinquenta, cinco reais. As casquinhas de baunilha, ou melhor, de "baumilha", você pode consegui-las por uns dois contos de réis. Pode ainda pedi-las com doce de leite dentro da casquinha, daí a iguaria sai por três contos. Mas quem precisa de tamanha invencionice? Muito embora Laura seja entusiasta da mistura batata-frita com sorteve, comidos ao mesmo tempo, estranha mistura, pode ser vista como uma purista do sorvete de "baumilha", e, portanto, nada de meleca na casquinha! 

A fauna vendida na capital com tamanha facilidade e desprendimento é de assustar. Passarinhos, peixinhos. Estamos num pet shop agora.

Ela encontrou o aquário na vitrine de um estabelecimento dentro do shopping, enquanto caçámos pelas lojas uma cortina de banheiro e algumas diversões. Os bichos no aquário seduzem Laura. Resolvemos perguntar às autoridades competentes como é que faz para se descolar um peixinho. 

Vamos entrando no estabelecimento e, bem perto da porta, nos deparamos com uma gaiola cheinha de periquitinhos. Digo a Laura que podem ser calopsitas, só pelo prazer de dizer a palavra "calopsita". Mas a moça do caixa confirma: periquitos. E afinal nem sei o que é uma calopsita, mas Laura não se importa. Está muito focada na fauna do pet shop.

Na gaiola há quatro passarinhos desses. Dois  azuis, cor: céu, outro branco-lilás, e o último branco-anil, um par em tons pastéis. Vemos também um cachorrinho numa gaiola. E os peixinhos estão custando quinze reais cada. A unidade do periquito, vinte e um.

Saímos do pet shop um pouco pensativas. Afinal, os bichos todos naquela gaiola... Pergunto a Laura o que ela faria se, num universo diferente, de repente, um dia, um senhor peixe viesse, a capturasse enquanto ela dormia, levasse para o fundo do mar e ali a vendesse por alguns trocados em moeda de peixe. A conversa evolui até Laura concluir que, sim, neste mundo daqui, ela deseja bastante comprar os peixinhos capturados. Mas que certamente libertaria eles e os lançaria de volta todos ao mar!

Assim, vamos caminhando. Já escurece, a tarde é ainda quente, vamos encontrando poodles pelo caminho, brincando de adivinhar o nome deles, pensando também agora em peixes e periquitinhos. Mais um dia se encerra na capital. 


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