O RETORNO DA FEBRE AMARELA É PREVISÍVEL:
O AMAPÁ NÃO ESTÁ LIVRE.
JARBAS ATAÍDE, 06.02.2017.
O surto de Febre Amarela que acomete o Sudeste,
uma doença febril aguda, que estava controlada desde 1940, volta com a
discussão sobre as mudanças causadas pelo homem no meio ambiente e a
negligencia das autoridades com as medidas de controle e profilaxia. Uma das
causas atribuídas foi o desastre de Mariana(MG), em 2015.
A comparação do desastre de Mariana
(MG), quando a barragem de rejeitos da Empresa San Marcus (Vale do Rio Doce)
rompeu e causou a contaminação do Rio Doce, com o desequilíbrio ecológico das
construções das hidroelétricas no Rio Araguarí-AP, causando a alteração e
destruição brusca do ecossistema aquático fluvial, nos faz pensar que estamos
sujeitos a várias epidemias.
No desastre de Mariana as consequências
se estenderam ao Espirito Santo e Sul de Minas Gerais. No entanto, é justamente
nessa área, considerada livre do risco de arboviroses (causadas por vírus
diversos), que está surgindo o surto epidêmico de Febre Amarela Urbana (FAU),
onde o vetor transmissor é o mesmo da Dengue, Zika e Chikungunya: o mosquito Aedes aegypti.
A
Febre Amarela (FA) possui dois ciclos e modos de transmissão. No ambiente da
floresta o mosquito vetor (Haemagogus
janthinomys) transmite o vírus para primatas sadios, onde o homem não está
presente (macaco infectado → mosquito silvestre → macaco sadio). No ciclo
urbano, o homem infectado é picado pelo mosquito Aedes aegypti que transmite
o vírus para o homem sadio. Assim como Dengue, que acontecia apenas no interior
das florestas, com os desmatamentos da mata, o ciclo urbano da FAU pode surgir
no Amapá, já que estamos em área endêmica da doença.
A
Febre Amarela Silvestre (FAS) sempre existiu nas áreas equatoriais da África e
das Américas. O potencial retorno da FAU, como esta acontecendo em MG, decorre
da interferência do homem no ambiente, com a construção de barragens,
hidroelétricas e grandes projetos que provocam grande impacto ambiental e
alteram a cadeia alimentar da área. No Amapá a grande mortandade de peixes do
Rio Araguari reduziu as espécies controladoras que se alimentam das larvas dos mosquitos
transmissores, além da ampliação dos criadouros favorecidos pelas barragens.
Como
vemos, além do Amapá estar em área endêmica do inseto transmissor da FA, ainda
temos perto de nós as condições favoráveis para que o vírus comesse a circular
nas cidades mais próximas desses empreendimentos hidroelétricos, no caso
Ferreira Gomes, Porto Grande, Cutias e Macapá.
Os últimos números do Ministério da Saúde, do mês
de fevereiro, já computam 59 mortes por FA e 138 óbitos ainda a serem
investigados. Dos 857 casos notificados no Brasil, 774 foram registrados em MG.
Confirmado 20 casos no E. Santo e 6 suspeitos na BA e três em Tocantins. Há
relato da doença em 71 municípios mineiros.
“Mudanças bruscas no ambiente provocam
impacto na saúde dos animais, incluído macacos”. “Eles se tornaram mais susceptíveis
à doença, incluindo a FA, afirmou Marcia Charme, bióloga da FIOCRUZ”. As arboviroses estão nos envolvendo continuamente,
basta que penetremos no ambiente em que são transmitidas.
As florestas, como a Amazônica, “ainda
nos reservam inúmeras surpresas. E o
desmatamento em velocidade crescente fará com que estas surpresas possam vir bem mais cedo do
que imaginamos. Hoje, dos 534 vírus catalogados que habitam o organismo dos
insetos , 134 causam doença no homem”. (Ujuvari, SC,2004). Os seres vivos,
vegetações, insetos e animais vertebrados proliferam durante as chuvas
tropicais. Os ovos dos insetos, vetores de doenças, eclodem ao toque da água, o
que acontece de modo incontrolável na imensidão da floresta Amazônica. (
Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, 2010).
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