O
endividamento dos estados X folha de
pagamento
Já venho debatendo em artigos anteriores a situação de
endividamento dos estados demonstrando que existe uma estreita relação com a
folha de pagamento. No artigo “ A
escadinha de pagamento da dívida pública pelos estados! ”, abordei que não
eram somente a crise econômica e dívida pública as únicas culpada pela crise
fiscal dos entes federados. Um estudo do Ministério da Fazenda, já apontava que
os maiores gastos dos Estados têm sido com a folha de pagamento dos servidores.
O mesmo estudo mostrou também que a folha de pagamento em todos os Estados e no
DF subiu, em média, 96,6% entre 2009 e 2015. Este crescimento das despesas com
funcionários públicos é que têm levado a deterioração das contas públicas de
alguns estados.
Um estudo feito também, pela empresa de Consultoria JC
Negócios, divulgado em julho de 2016 retratava a evolução das despesas com
pessoal e encargos sociais em percentual do PIB, entre Estados e a União no
período de 2009 a 2015. Veja o gráfico:
Despesas com pessoal e encargos sociais em percentual do PIB
(2009 a 2015)
Fonte: JC Negócios
Como vimos,
fica evidente que os estados aumentaram as despesas com pessoal em relação ao
governo federal. Com isso estados que estão hoje com finanças em frangalhos
viram os salários médios de seus servidores na ativa subirem bem acima da
variação dos ganhos no setor privado nos últimos anos. Estudo feito pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e que foi objeto de matéria do
jornal OGLOBO (10 abr 2017), mostrou que na média dos 26 estados e Distrito
Federal, o salário do funcionalismo (incluindo estatutários e militares)
aumentou 50% passando de R$ 3.600 para R$ 5.300 entre 2006 e 2015, sendo que no
mesmo período a renda média de todos os trabalhadores brasileiros cresceu bem
menos, 21%, passando de R$ 1.535 para R$ 1.866.
Ainda
de acordo com o estudo do Ipea, em alguns estados, os salários dos
servidores são muito superiores à média nacional paga ao funcionalismo estadual
e à média de todos os trabalhadores. No Amapá, por exemplo, o salário médio em
2015 era de R$ 8.800 e no Distrito Federal, de R$ 8.700. Em outros estados, é a
variação salarial que impressiona. No Tocantins, o aumento dos salários foi de
73,7% entre 2006 e 2015. Veja o gráfico com a variação dos salários frente a
2006 em termos percentuais:
VARIAÇÃO DOS SALÁRIOS FRENTE A 2006 EM %
Fonte: IBGE, estimativas de dados da Rais, da
Pnad e dos DRAAs (O GLOBO)
Ainda de
acordo com o estudo do Ipea, esses aumentos reais para os servidores ativos que
foram, por força da legislação, repassados aos inativos, são uma das principais
causas para o salto no déficit nas previdências estaduais. O rombo nos regimes
próprios dos estados aumentou 57% entre 2009 e 2015, chegando a R$ 77,4 bilhões
nas contas do Ipea.
Segundo Cláudio
Hamilton Matos dos Santos, Analista do Ipea um dos autores do estudo (...) a política salarial dos estados
deveria ser pensada levando em considerando os inativos. Não estou discutindo o
mérito dos aumentos, o problema é o repasse aos inativos. A Constituição
garante aos que entraram até 2003 o direito à paridade salarial. Praticamente
todos os inativos hoje se beneficiam dessa regra, conclui.
Muito embora, apesar do peso das
aposentadorias nas contas dos estados, os servidores foram excluídos do Projeto
de Emenda Constitucional - PEC 287/2017, que institui a Reforma da Previdência
pelo presidente Michel Temer
Outra
informação relevante também apontada no estudo do Ipea, é que o
número de servidores inativos sobe 38% e de ativos cai 4%. A bem da verdade O
número de servidores ativos não aumenta porque os estados, já estão com suas
folhas de pagamento estouradas — estudo recente da Firjan aponta que 13 deles
já gastam com pessoal acima do limite permitido pela Lei de Responsabilidade
Fiscal, que é de 60% da Receita Corrente Líquida — com isso não tem condições
de repor servidores. Isso faz que um grupo cada vez menor de servidores, os
ativos, tenham de bancar as aposentadorias de um grupo cada vez maior, dos
inativos. Atualmente, a Constituição prevê que apenas inativos que recebem
acima do teto do INSS (R$ 5.189,82) contribuam.
No caso do Amapá, a situação é inversa o número de servidores
ativos é bem maior. Entretanto, as despesas com pessoal Ativo, Inativo e
Pensionista vem crescendo significantemente a cada ano. Porém, o que chama
mesmo a atenção é o crescimento da despesa com os Inativos e Pensionistas. Em
2015, cresceu 37% em relação a 2014, enquanto que os servidores ativos tiveram
uma expansão de 10%. Analisando esta
série histórica, fica claro que as despesas com os inativos e pensionistas
tendem a aumentar em função do envelhecimento da população. O gráfico abaixo
demonstra esta tendência:
SITUAÇÃO FISCAL (RS MILHÕES)
Fonte: Programa de Ajuste Fiscal/STN - Amapá
Este
crescimento em 2015, das despesas com os servidores inativos e pensionistas que
foi de 37% em relação a 2014, trata-se de um sinal de advertência, mesmo sendo um
quantitativo diminuto por ser o Amapá um estado jovem. Porém, vamos ter clareza
de que está despesa nos próximos anos vai aumentar e com a informação agora
vindo a público (Portal G1 AP, de 11 abri 2017), através do relatório do
Tribunal de Contas do Amapá – TCE, depois de uma auditoria nas contas da Amapá
Previdência – AMAPREV, concluiu que a dívida do Governo do Amapá é de R$ 1
bilhão com o órgão de previdência estadual, por não haver repassado os valores
tanto no que se refere a parte patronal como a dos servidores no período de
2013 a 2015. Para Pedro Aurélio Tavares, Auditor do TCE/AP, “caso se mantenha este déficit e pelas projeções
que foram feitas em 2029 a AMPREV estará falida”. Considerando estas
projeções, o Amapá ainda terá pela frente um pouco mais que duas gestões para que
se evite está catástrofe.
Porém,
vale ressaltar que em 2013 o Amapá contraiu dois empréstimos que tiveram como “finalidade
do crédito” o pagamento de dívida da AMAPREV no valor de R$ 530 milhões, com
isso elevando a sua dívida pública.
Evidentemente,
que os cenários aqui retratados a partir das informações destacadas, exigem da
gestão pública estadual muito mais eficiência na aplicação dos recursos,
visando atender o real anseios não somente dos seus servidores, mas também os
anseios dos cidadãos que estão na ponta, e que no dia a dia dependem dos
serviços essenciais sobre os quais o poder público é responsável.
Adrimauro
Gemaque, Analista do IBGE e Articulista apresenta seus
pontos de vista em caráter pessoal (adrimaurosg@gmail.com)
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