O uso indiscriminado de tecnologias
Olá!!!
É muito bom tê-los aqui no Fala Fono!!, nosso espaço semanal
para falar de Fonoaudiologia, de comunicação, de desenvolvimento, de gente!!
Hoje falaremos sobre um assunto que tem deixado preocupados,
os profissionais que lidam com crianças: o uso indiscriminado de tecnologias
(celulares e tablets) por nossos pequenos.
Até pouco tempo atrás, na clínica fonoaudiológica, nos casos
em que a queixa era atraso de linguagem, descobríamos que a grande vilã era a
TV, usada por muitas vezes como uma “babá” para entreter as crianças. Devo
admitir, com uma certa nostalgia, que tenho saudade desse tempo! Acontecia
assim, as crianças apresentavam um atraso simples de linguagem, entre uma
orientação e outra, os pais (grande parte!) eram conscientizados da importância
de ter um tempo com o filho, de se sentar no chão, compartilhar uma história,
recortar uma revista, brincar de “faz de conta”. Então, a TV já não era mais
tão interessante como antes, porque no fundo, ter um momento com os pais e
compartilhar uma brincadeira é muuuuito mais legal e rico!! Pronto, criança
evoluindo, família satisfeita, Fono feliz! Tudo bem, não eram todos os casos,
alguns conduziam a diagnósticos diferentes, com prognósticos não tão
favoráveis, mas com a maioria era assim, criança com atraso de linguagem devido
à falta de estímulos.
Agora não é mais a TV, a grande vilã. Os celulares e tablets
são muito mais interessantes que ela, oferecem inúmeras opções de jogos e
atividades com cores e sons diferentes! Pior, a briga ficou desigual, se antes
a TV entretinha a criança, hoje, os celulares entretém a todos! Nós, adultos,
também estamos encantados pela tecnologia e tudo o que ela nos oferece, e como
ainda estamos no processo de aprender a lidar com a tecnologia, estamos tendo
dificuldades em mediar seu uso por nossos pequenos.
A cada dia, as crianças tem acesso mais cedo às tecnologias,
e assim, deixam de vivenciar experiências importantes para seu desenvolvimento.
Se pensarmos no funcionamento do nosso cérebro, podemos ter uma ideia de como é
prejudicial esse tempo dedicado à tecnologias, principalmente na primeira
infância.
Para ilustrar, vamos imaginar o cérebro de um bebezinho, nasce
ávido por conhecimento, programado para aprender em uma velocidade incrível, no
entanto, esse conhecimento é internalizado por meio de experiências sensoriais
que o bebê vivenciar em seu dia-a-dia. As experiências que forem ofertadas ao
bebê, reforçam a importância das conexões neurais, que serão ampliadas para
determinado aprendizado, como a linguagem, por exemplo. Em contrapartida, se o
bebê não é estimulado, o cérebro entende que aquelas conexões neurais não tem
função, e as substitui por outras que possam ser funcionais. Esse processo é
conhecido como poda neuronal. Nosso cérebro, literalmente, se desfaz do que não
é “utilizado”.
Quanto mais tempo dedicado às tecnologias, menos tempo
vivenciando experiências sensoriais concretas, como tocar, cheirar, subir,
passar embaixo, balbuciar, falar. Com as podas neuronais, haverá menos reforço
cerebral para o aprendizados dessas demandas, que são próprias dessa fase,
ocasionando atraso no desenvolvimento da linguagem, atraso no desenvolvimento
cognitivo, prejuízo na interação social, nas relações sociais, ou seja, no
aprendizado como um todo.
Cabe a nós, enquanto pais, mediarmos esse uso. É utópico, que
essa geração nascida no advento da tecnologia, não a utilize, mas que, ao menos
seja um uso mediado por nós de forma equilibrada.
Preocupado com o acesso de crianças às tecnologias, que está
acontecendo cada vez mais precocemente, a Sociedade Brasileira de Pediatria,
lançou, no segundo semestre de 2016, uma Cartilha de Orientações a pais,
educadores e profissionais. O documento atende uma demanda crescente, e, entre
outros pontos importantes, sugere que “o tempo de uso diário ou a duração
total/dia do uso de tecnologia digital deve ser limitado e proporcional às
idades e às etapas do desenvolvimento cerebral-mental-cognitivo-psicossocial
das crianças e adolescentes” alertando para a importância das vivências de
experiências sensoriais concretas para um desenvolvimento global adequado. Vale
muito a pena a leitura na íntegra!!
Bom, por ser tão amplo e complexo, com certeza esse assunto
retornará aqui no Fala Fono!! Por enquanto, deixo como sugestão de leitura, uma
entrevista com a Fonoaudióloga Dra. Maria Lúcia Novaes Menezes, em que ela fala
sobre o aumento de casos com queixa de atraso no desenvolvimento da linguagem
decorrente do uso excessivo de tecnologias, algumas vezes até associado ao
autismo “Não é autismo, é ipad!” (disponível no endereço http://autismoerealidade.org/noticias/nao-e-autismo-e-ipad/).
Ah, não poderia encerrar esse nosso bate-papo sem dar a vocês
uma notícia maravilhosa para a Fonoaudiologia do Estado do Amapá! Terça-feira,
dia 19 de abril, foi aprovado o Projeto de Lei de autoria do Deputado Estadual
Antônio Furlan, que institui o Dia Estadual da Voz, o mesmo será comemorado no
dia 16 de Abril, dia em que já se comemora o Dia Mundial da Voz! Muito
importante para a Fonoaudiologia do estado, e consequentemente para a
população, que contará com ações organizadas e de conscientização sobre
cuidados com a voz!!!
No próximo “Fala Fono!! falaremos sobre APRAXIA DE FALA NA
INFÂNCIA!!
Até lá!!
Fala Fono!!
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