Base Nacional Comum Curricular
O que deve mudar no ensino em todo o país
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A Base Nacional Comum Curricular deve mudar o ensino básico em todo o país a partir de 2019 |
Reinaldo Coelho
No Brasil tudo que se
refere a educação é aplicado com o atraso e com o mínimo para atender uma
demanda sedenta do saber. Mais um programa que passou anos em discussão
infrutíferas e finalmente foi apresentado foi a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) com versão somente para o ensino infantil
e fundamental e
sem tratar do ensino médio. O documento em sua terceira versão passou pela
gestão de três ministra da Educação e estava previsto para junho de 2016,
finalmente no dia 6 deste mês foi apresentada.
A BNCC é considerada fundamental para reduzir
desigualdades na educação no Brasil. Países desenvolvidos já organizam o ensino
por meio de bases nacionais. O documento define a linhas gerais do que os
alunos das 190 mil escolas do país devem aprender a cada ano.
A base ainda precisa ser aprovada pelo Conselho
Nacional de Educação (CNE) e depois homologada pelo ministro da Educação. Mesmo
após essas etapas, ela só terá efeito na sala de aula quando estados e
municípios reelaborarem os seus currículos: serão eles que detalharão como será
abordado cada uma das metas ou cada um dos eixos da BNCC em sala de aula.
Veja os destaques da BNCC do ensino infantil e fundamental
1.
Ensino religioso foi
excluído da terceira versão; MEC alega respeitar lei que determina que tema
seja optativo e que é competência dos sistemas de ensino estadual e municipal
definir regulamentação.
2.
Conteúdo de história
passa a ser organizado segundo a cronologia dos fatos
3.
Língua inglesa será o
idioma a ser ensinado obrigatoriamente; versão anterior da BNCC deixava escolha
da língua a cargo das redes de ensino.
4.
Conceito de gênero não
é trabalhado no conteúdo; MEC diz que texto defende "respeito à
pluralidade"
5.
Texto aponta 10
competências que os alunos devem desenvolver ao longo desta fase da educação (veja
lista abaixo). Uma delas é "utilizar tecnologias digitais de
comunicação e informação de forma crítica, significativa, reflexiva e
ética".
6.
Toda criança deve estar
plenamente alfabetizada até o fim do segundo ano; na versão anterior, o prazo
era até o terceiro ano.
7.
Educação infantil ganha
parâmetros de quais são os "direitos de aprendizagem e
desenvolvimento" para bebês e crianças com menos de seis anos.
8.
Conteúdo do ensino
médio não é alvo do documento; ele será abordado em texto específico aguardado
para o segundo semestre.
O Brasil não tinha uma base comum, mas documentos
como as Diretrizes e Parâmetros Curriculares e normas federais já garantiam a
padronização na elaboração dos currículos. Agora, a BNCC será a referência
nacional obrigatória para que as escolas desenvolvam seus projetos pedagógicos.
A proposta preliminar foi feita por uma comissão
de 116 especialistas de 37 universidades de todas as partes do Brasil e gerou
polêmica por causa das lacunas deixadas em áreas como história e literatura. O documento
inicial tinha pouco mais de 300 páginas. Após contribuições online, a segunda
versão foi apresentada com 676 páginas e passou por audiências públicas. Agora
concluído e apresentado ao CNE, o documento final da BNCC tem 396 páginas.
AS 10 competências
A base determina que, ao longo da educação básica,
os estudantes devem desenvolver dez competências gerais, tanto cognitivas
quanto socioemocionais, que incluem o exercício da curiosidade intelectual, o
uso das tecnologias digitais de comunicação e a valorização da diversidade dos
indivíduos.
·
Valorizar e utilizar os
conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social e
cultural para entender e explicar a realidade (fatos, informações, fenômenos e
processos linguísticos, culturais, sociais, econômicos, científicos,
tecnológicos e naturais), colaborando para a construção de uma sociedade
solidária.
·
Exercitar a curiosidade
intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a
investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade,
para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver
problemas e inventar soluções com base nos conhecimentos das diferentes áreas.
·
Desenvolver o senso
estético para reconhecer, valorizar e fruir as diversas manifestações
artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também para participar de
práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
·
Utilizar conhecimentos
das linguagens verbal (oral e escrita) e/ ou verbo-visual (como Libras),
corporal, multimodal, artística, matemática, científica, tecnológica e digital
para expressar-se e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos
em diferentes contextos e, com eles, produzir sentidos que levem ao
entendimento mútuo.
·
Utilizar tecnologias digitais
de comunicação e informação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética
nas diversas práticas do cotidiano (incluindo as escolares) ao se comunicar,
acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos e resolver problemas.
·
Valorizar a diversidade
de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências
que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer
escolhas alinhadas ao seu projeto de vida pessoal, profissional e social, com
liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.
·
Argumentar com base em
fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender
ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos
humanos e a consciência socioambiental em âmbito local, regional e global, com
posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do
planeta.
·
Conhecer-se,
apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, reconhecendo suas emoções
e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas e com a
pressão do grupo.
·
Exercitar a empatia, o
diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e
promovendo o respeito ao outro, com acolhimento e valorização da diversidade de
indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e
potencialidades, sem preconceitos de origem, etnia, gênero, orientação sexual,
idade, habilidade/necessidade, convicção religiosa ou de qualquer outra
natureza, reconhecendo-se como parte de uma coletividade com a qual deve se
comprometer.
·
Agir pessoal e
coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e
determinação, tomando decisões, com base nos conhecimentos construídos na
escola, segundo princípios éticos democráticos, inclusivos, sustentáveis e
solidários.
“A Base tem o objetivo de entender que o país é
diverso e que escola deve estar aberta para atender todos, que seja inclusiva e
que aceite o diverso”, disse a secretária executiva do MEC, Maria Helena
Guimarães de Castro.
Bebês e crianças
pequenas
A BNCC também passou a adotar objetivos
específicos para três categorias da educação infantil: crianças de zero a 1 ano
e 6 meses; 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses; 4 anos a 5 anos e 11 meses.
A educação infantil, aliás, é a etapa que tem a
estrutura defendida como mais inovadora pelos redatores da versão final da
BNCC. Ela não obedece a divisões mais tradicionais por áreas de conhecimento e
componentes curriculares. Faz o cruzamento das áreas com os chamados “campos de
experiência”, que incorporam dimensões como o “brincar” e “explorar”,
consideradas indispensáveis à formação das crianças.
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