Mistério! Na delação da
Odebrecht no Amapá
Os políticos citados, o ponto-chave da delação e o mistério da 'Múmia'
A delação de Alexandre
Barradas, ex-diretor da Odebrecht Ambiental, levantou a suspeita de que a
campanha do atual prefeito de Macapá, Clécio Luís (Rede), em 2012, tenha tido
caixa 2 - que se refere a recursos financeiros não contabilizados e não
declarados aos órgãos de fiscalização.
O político amapaense foi
citado na delação e tem o nome na lista do ministro relator da operação Lava
Jato, Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). Clécio Luís teria
sido financiado, conforme Barradas, com R$ 450 mil.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6gI8dB764oYpkm8z2seJar8rNRwG6rvayYAIwvGtMya2Qah1eJwM1QCjUm8e5Btot1A0eys9-Lp5W7vd1GTstAwHxLaL0-wT6KW7ZXGM5cEryHjHCV-5Etvm22L_CRUFy0x_jnKYVmp8/s320/randolfe-senado.jpg)
O senador Randolfe aparece
atualmente na condição de citado. Clécio Luís teve a denúncia remetida a outro
foro e tribunal.
Ambos negam qualquer
recebimento ilícito.
A
delação
O caminho da delação que leva
aos políticos amapaenses parte de um advogado de nome 'Rafael'. Ele teria, inicialmente,
organizado um encontro em Brasília entre Barradas e o senador Randolfe
Rodrigues.
![]() |
Alexandre Barrados |
"Conheci o advogado
'Rafael', num voo entre Goiânia e Brasília. Ele era de Goiânia. Conversamos,
aquele contato casual no aeroporto. Era momento da campanha de 2012. Ele tinha
empresa de consignados, advocacia, operações com Detrans. (...) [após esse
encontro] ele ligou, nos encontramos e ele perguntou se eu teria interesse em Macapá.
Disse que não tinha ação desenvolvida lá, eu havia conhecido a cidade há muito tempo
pela empresa. (...) ele falou que estava ajudando o senador Randolfe a eleger o
seu afilhado político, Clécio Luís, a prefeito de Macapá", falou Barradas.
O ex-diretor da Odebrecht conta
que achou estranho porque se tratava de um senador do Psol, "bastante
agressivo naquele tempo de CPIs, e bastante atuante", classificou. Segundo
o delator, 'Rafael' teria dito que Randolfe era agressivo, porém, progressista,
e o teria convidado para conversar com ele.
Barradas disse que achou
interessante quebrar as arestas junto a partidos de esquerda, e aceitou o
convite. Randolfe e o ex-diretor da Odebrecht se encontraram, segundo ele, no
gabinete do senador, em Brasília, onde teriam conversado sobre o Amapá, sem que
houvesse pedido financeiro, afirmou o delator.
"Randolfe foi muito
cortês, conversamos por cerca de 15 minutos, ele se mostrou aberto e disse que
tinha interesse para fazer revolução burguesa em Macapá, e sabia que precisava
de capital para isso, mas queria fazer isso de forma muito séria, mas precisaria
das grandes empresas do Brasil", falou Barradas, que disse ter apresentado
ao senador os programas sociais da Odebrecht, que poderiam ser implantados no
Amapá futuramente.
Segundo Barradas, a conversa
foi nesse sentido, não houve pedido de apoio à candidatura de Clécio Luís. O
delator disse também que após as eleições, não voltou a encontrar Randolfe,
apesar de ter tentado contato, para apresentar os programas sociais da
construtora, sobre os quais haviam conversado.
Na delação, Alexandre Barradas
disse acreditar numa relação entre o senador amapaense e o advogado 'Rafael',
já que o intermediário foi quem organizou a reunião entre os dois.
Segundo o senador, o delator
fala a favor dele, que não houve pedido de nenhuma contribuição. Randolfe disse
que em nenhum momento foi envolvido nas investigações da operação, e que sempre
atuou em defesa das investigações.
"O vídeo de Alexandre
Barradas é um depoimento em meu favor. No vídeo ele diz que esteve comigo por
15 minutos e eu nunca falei em dinheiro, nunca intermediei nenhum contato dessa
natureza e estão fazendo uma ilação de um jovem de 26 anos que na época deveria
ter 21 anos, como se fosse outro. Não sou citado na Lava Jato, não tem
inquérito contra mim e sou o primeiro a defender a Lava Jato no Congresso
Nacional. Não aceito ser misturado nessa lama fétida da política do Amapá e do
Brasil que a qualquer custo querem me meter", defendeu-se Randolfe.
Ponto-chave
da delação
No ponto-chave da delação,
Barradas conta que ao deixar o gabinete de Randolfe Rodrigues, o advogado
sugeriu uma ajuda ao senador para a campanha de Clécio Luís. O ex-diretor conta
que levou a sugestão ao seu superior, que autorizou o financiamento de R$ 450
mil para apoiar a candidatura do atual prefeito de Macapá.
A idéia, segundo Barradas, era
marcar espaço para o futuro, criar uma relação com o partido. "Doações têm
sempre objetivo, penetrar no ambiente, para o futuro", afirmou.
Segundo o delator, na semana
seguinte houve o pagamento do valor a Rafael, que daria providência para que o
dinheiro chegasse à campanha de Clécio.
A
'Múmia'
Numa tabela constante no
processo de investigação, o valor de R$ 450, as inicias supostamente de
Alexandre Barradas, a localização Macapá-Amapá ligam-se a um codinome 'Múmia'.
O delator não soube explicar a formação da tabela e nem os códigos constantes.
O
agradecimento
Depois das eleições, vencidas
por Clécio Luís, Barradas contou que procurou Rafael, e que ele marcou um
encontro entre o então candidato vencedor e o ex-diretor da Odebrecht. Num jantar
em Brasília, Clécio agradeceu o apoio da construtora, sem mencionar
valores.
"Ficou claro que ele [Clécio]
sabia de onde tinha vindo o recurso. Ele agradeceu", falou Barradas.
Na nota emitida pelo prefeito
de Macapá, no dia 12 de abril, após a divulgação da lista de Fachin, Clécio
Luís garante que "nunca teve contato com representantes da Odebrecht,
antes, durante ou depois de ter sido eleito prefeito. Ele completa dizendo que
não existe obra ou contrato com a empresa na capital".
As suspeitas serão apuradas.
Por ordem do ministro relator da Lava Jato Luiz Edson Fachin, os episódios que
envolvem o prefeito foram enviados para o Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª
Região, foro competente para julgá-lo. Caberá ao órgão analisar o pedido e
autorizar, ou não, o início das diligências. Randolfe figura somente como
citado na delação.
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