sexta-feira, 30 de junho de 2017

SAÚDE EM FOCO

O Dilema da Medicina entre a técnica e a arte

Participando da inauguração de mais um Laboratório de Análises Clínicas em Macapá, o Amaral Costa, na terça feira passada (27.06), onde o Diretor Científico, Dr. David Bichara, enfatizou o pioneirismo e os avanços na rapidez na realização dos exames, citando a obtenção rápida e eficiente no diagnóstico, veio a mente a dicotomia e o dilema da Medicina entre a arte e a tecnologia.
A técnica exagerada concorre para o afastamento do médico de uma aproximação maior com o paciente. Os últimos avanços nas técnicas diagnósticas levaram a relação médico-paciente a um alto grau de deterioração, culminando com certa falta de sintonia entre “a alta tecnologia e o método clínico”. Esse é um assunto que abordei em crônicas e poesia, como a de minha autoria: “ Medicina : profissão, vocação e carisma”, de muitos anos atrás.
Enquanto a iniciativa privada acredita na potencialidade e nas demandas do Estado, fazendo investimento na área tecnológica da Medicina, o poder público em todas as esferas cada vez mais se afasta de suas prerrogativas e responsabilidades. Os hospitais públicos não oferecem um mínimo de rapidez e eficiência nos exames e procedimentos, levando dias e até meses para sair resultados.
Concorre para o agravamento dessa situação a sobrecarga de trabalho e a infraestrutura defasada das unidades, cujos profissionais já não fazem um exame clínico mais apurado, esperando nos exames a sua última esperança num diagnóstico mais rápido e eficiente para reduzir o tempo no hospital. Mas nem sempre é isso que acontece.
A revista “Medicina” do CFM (revista de humanidades médicas), de agosto de 2014, aborda com propriedade esse tema do impacto das tecnologias. O professor e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, Cesar Kubiak, diz: “ não é bom nem o apego ao tradicional, como fizeram os médicos que temiam o uso dos raios X, em 1895, nem o aprisionamento ao último avanço tecnológico”.
O sistema público por suas carências e falta de investimento nas últimas décadas, maculado por gestões fraudulentas e corruptas, tornou o simples e o essencial como algo complexo. O Médico, nesse contexto, entorpeceu seu raciocínio clínico e teve seu trabalho limitado e complicado pela falta de materiais simples e banais, colocando em cheque sua capacidade técnica.
“O método clínico, que inclui anamnese, exame físico, solicitação de exames, esclarecimentos, orientações, foi se tornando complementar, com os médicos se tornando “oficiais maiores” da ciência e gerentes de biotecnologia”, comenta Kubiak. Resultou em utilidade uma enormidade de informações e exames, e o médico não conhece seu paciente.
Uma simples consulta médica, em que se conhecia o paciente, seus temores, suas dúvidas, sua história familiar, social e até econômica, esta sendo negligenciado não pelos médicos, mas pelos gestores, que dificultam o acesso, reduzem as oportunidades e não investem nos exames complementares mais rotineiros, que cobrem mais de 80% das patologias. Da mesma forma, tecnologias  essências já consagradas como Raio x, Mamografia, USG, também são consideradas raras em muitas localidades. Colocar médicos dependentes desses exames nesses locais, sem esse aparato, é contribuir para sua ineficiência. 
Influenciados pela propaganda e pelo marketing, os pobres leigos e desinformados ficam pensando que a boa medicina é aquela que emprega exames sofisticados e técnicas ultramodernas  para tratar da doença. Nesse meio termo, entre o profissional e o cidadão doente, está o Estado inoperante que não oferece o básico, o essencial e muito menos a técnica sofisticada.
A discussão está lançada. O dilema precisa ser sanado e resolvido. O medico ficando com mãos atadas por falta de equipamentos, materiais simples e condições de trabalho e o cidadão cobrando do médico algo que antes oferecia e que agora 

    

  

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