O
Dilema da Medicina entre a técnica e a arte
Participando
da inauguração de mais um Laboratório de Análises Clínicas em Macapá, o Amaral
Costa, na terça feira passada (27.06), onde o Diretor Científico, Dr. David
Bichara, enfatizou o pioneirismo e os avanços na rapidez na realização dos
exames, citando a obtenção rápida e eficiente no diagnóstico, veio a mente a
dicotomia e o dilema da Medicina entre a arte e a tecnologia.
A
técnica exagerada concorre para o afastamento do médico de uma aproximação maior
com o paciente. Os últimos avanços nas técnicas diagnósticas levaram a relação
médico-paciente a um alto grau de deterioração, culminando com certa falta de
sintonia entre “a alta tecnologia e o método clínico”. Esse é um assunto que
abordei em crônicas e poesia, como a de minha autoria: “ Medicina : profissão, vocação e carisma”, de muitos anos atrás.
Enquanto
a iniciativa privada acredita na potencialidade e nas demandas do Estado,
fazendo investimento na área tecnológica da Medicina, o poder público em todas
as esferas cada vez mais se afasta de suas prerrogativas e responsabilidades.
Os hospitais públicos não oferecem um mínimo de rapidez e eficiência nos exames
e procedimentos, levando dias e até meses para sair resultados.
Concorre
para o agravamento dessa situação a sobrecarga de trabalho e a infraestrutura
defasada das unidades, cujos profissionais já não fazem um exame clínico mais
apurado, esperando nos exames a sua última esperança num diagnóstico mais
rápido e eficiente para reduzir o tempo no hospital. Mas nem sempre é isso que
acontece.
A
revista “Medicina” do CFM (revista de humanidades médicas), de agosto de 2014,
aborda com propriedade esse tema do impacto das tecnologias. O professor e
vice-presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, Cesar Kubiak, diz: “
não é bom nem o apego ao tradicional, como fizeram os médicos que temiam o uso
dos raios X, em 1895, nem o aprisionamento ao último avanço tecnológico”.
O
sistema público por suas carências e falta de investimento nas últimas décadas,
maculado por gestões fraudulentas e corruptas, tornou o simples e o essencial
como algo complexo. O Médico, nesse contexto, entorpeceu seu raciocínio clínico
e teve seu trabalho limitado e complicado pela falta de materiais simples e
banais, colocando em cheque sua capacidade técnica.
“O
método clínico, que inclui anamnese, exame físico, solicitação de exames,
esclarecimentos, orientações, foi se tornando complementar, com os médicos se
tornando “oficiais maiores” da ciência e gerentes de biotecnologia”, comenta
Kubiak. Resultou em utilidade uma enormidade de informações e exames, e o
médico não conhece seu paciente.
Uma
simples consulta médica, em que se conhecia o paciente, seus temores, suas
dúvidas, sua história familiar, social e até econômica, esta sendo
negligenciado não pelos médicos, mas pelos gestores, que dificultam o acesso,
reduzem as oportunidades e não investem nos exames complementares mais
rotineiros, que cobrem mais de 80% das patologias. Da mesma forma, tecnologias essências já consagradas como Raio x,
Mamografia, USG, também são consideradas raras em muitas localidades. Colocar
médicos dependentes desses exames nesses locais, sem esse aparato, é contribuir
para sua ineficiência.
Influenciados
pela propaganda e pelo marketing, os pobres leigos e desinformados ficam
pensando que a boa medicina é aquela que emprega exames sofisticados e técnicas
ultramodernas para tratar da doença.
Nesse meio termo, entre o profissional e o cidadão doente, está o Estado
inoperante que não oferece o básico, o essencial e muito menos a técnica
sofisticada.
A
discussão está lançada. O dilema precisa ser sanado e resolvido. O medico
ficando com mãos atadas por falta de equipamentos, materiais simples e
condições de trabalho e o cidadão cobrando do médico algo que antes oferecia e
que agora
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