Como uma festividade religiosa incrementou o
crescimento de uma das primeiras cidades criadas no Estado do Amapá
Janderson Cantanhedo
Janderson Cantanhedo
Nem bem o sol raiou, o arauto já percorria as ruas de bloquete
da bucólica cidade de Mazagão Velho (distante 63 quilômetros de Macapá) convidando
a população para o círio que logo mais iria percorrer as principais ruas do
município, como parte da rica programação religiosa e cultural da Festa de São
Tiago.
As cinquenta mil pessoas que compareceram à histórica
cidade puderam ver de perto um dos mais ricos teatros encenados a céu aberto do
país. Toda essa tradição, que completou 240 anos, remonta ao século 18,
explicando a expansão portuguesa no “novo continente” e o surgimento de um dos
primeiros municípios do Amapá.
A valorização da população e da Vila de Mazagão Velho
vem de longa data. Pensando em resgatar as origens do povo amapaense e fazer da
vila rota de turismo, o governador Waldez Góes investiu em pesquisas arqueológicas,
recuperação da cidade e infraestrutura, com pavimentação com bloquetes, para
deixar o local ainda mais agradável. E tudo isso hoje é uma realidade.
O trecho de 27 quilômetros da Rodovia AP-010, que liga
o município de Mazagão à Vila de Mazagão Velho está totalmente pavimentado e
sinalizado. O serviço faz parte do Plano Rodoviário Estadual, e custou mais de
R$ 50,7 milhões. A empresa CR Almeida, responsável pela obra, levou pouco mais
de um ano para concluir as etapas de drenagem, terraplanagem, asfalto e
sinalização.
A obra foi pensada de forma estratégica para o
desenvolvimento econômico, social e turístico da região com a festividade de
São Tiago. "A pavimentação também valoriza a cultura em Mazagão. Ela foi
planejada há dez anos pelo nosso governo, mas não foi dado o prosseguimento aos
trabalhos na gestão passada. Ela é importante para interligar o município aos
centros urbanos ", citou Waldez.
No sentido estratégico, a rodovia é uma via dorsal que
permite uma nova conexão com o trecho sul da BR-156. No município, também foram
executadas obras de mobilidade urbana no valor de R$ 17 milhões. Ao todo, foram
14 quilômetros de asfalto na área urbana e mais 11 quilômetros de pavimentação
com bloquetes não somente no município, mas também nos distritos do Carvão e
Maracá.
Integração
Com o município pavimentado e a rodovia toda asfaltada
e sinalizada, era hora de concluir a Ponte da Integração, para aposentar de vez
as balsas que faziam a travessia de pedestres e veículos no Rio Matapi. Esse
sonho se tornou realidade em dezembro de 2016, fruto do empenho político do
governador Waldez.
Na região, o comércio que antes era tímido, logo foi aquecido
com a inauguração da ponte. Além de aquecer as vendas e movimentar a economia
no comércio local, a estrutura trouxe desenvolvimento e uma maior variedade de
produtos nas prateleiras. Novidades que podem ser conferidas no Comercial
Ceará. A funcionária Nilda Pereira, conta que antes os caminhões das
distribuidoras não faziam entrega em Mazagão, então, eles tinham que vim até
Macapá fazer as compras, e aí só levavam o básico. Hoje as prateleiras possuem
variedade de produtos, oferecendo aos clientes mais opções.
No turismo, a ponte promoveu o município de Mazagão com
foco na Festa de São Tiago, maior evento religioso do município e um dos mais
importantes no calendário cultural amapaense.
Mas, há também quem vá para o município aos fins de
semana, seja para contemplar a beleza que a Ponte proporciona, como também
visitar os diversos balneários que oferecem ambientes agradáveis e uma
comidinha regional de dar água na boca.
Um passeio por Mazagão Novo e Mazagão Velho também é
inesquecível, cidades que oferecem história, pessoas acolhedoras e outras
especificidades regionais.
No setor primário, a Ponte se tornou rota de
escoamento da produção agrícola na região do município de Mazagão, onde vivem
171 produtores da agricultura familiar, em 26 comunidades.
A base da produção consiste no plantio da mandioca e
derivados, milho, abóbora e polpa de frutas, entre outros. Em 2016,
aproximadamente 135 toneladas de alimentos foram produzidas na região e
escoadas para outras áreas do estado.
A Ponte também beneficia o setor industrial da região.
No eixo metropolitano, estão localizadas 70 empresas que atuam neste segmento,
além de garantir mais segurança e agilidade no transporte das mercadorias para
a capital e outras regiões do Amapá.
Além do acesso principal, a obra também possui seis
alças viárias que garantirão acesso direto para os empreendimentos localizados
às margens do Rio Matapi.
Tradição
Com toda a estrutura pronta, foi a vez do amapaense
atender ao chamado para ver de perto a secular festa mazaganense, que sempre
atraiu um grande público, mas este ano teve todas as expectativas superadas. O
motivo do sucesso de público foi creditado à inauguração da Ponte da Integração
e à total pavimentação da rodovia que leva até a vila, na zona rural de
Mazagão.
O feriado estadual de 25 de julho, Dia de São Tiago,
marcou o ponto áureo dos 13 dias de programações culturais e religiosas, em Mazagão
Velho.
Ainda antes da batalha houve vários acontecimentos
encenados que antecederam a luta: a Entrega dos Presentes e o Baile de
Máscaras, que acontecem um dia antes. Poucas horas antes do combate, há a
celebração da missa campal e o círio, que este ano reuniram mais de dez mil
pessoas.
Teatro a céu aberto
As encenações iniciaram-se por volta de meio-dia. O
primeiro episódio é a passagem do Bobo Velho, espião mouro enviado ao acampamento
cristão, que na história é descoberto e expulso a pedradas. Mas, na peça
teatral de Mazagão Velho, só vale jogar bagaço de laranja.
Por outro lado, os cristãos enviam o Atalaia, um
oficial cristão que tinha a missão de espionar e roubar a bandeira inimiga. Mas
ele teve um destino diferente do Bobo Velho: acabou morto e decapitado pelo
exército mouro, mas ainda conseguiu arremessar o estandarte do inimigo para os
cristãos. A cena da morte do Atalaia é uma das mais importantes da encenação.
Após a passagem do Bobo Velho e a morte do Atalaia,
começa então a encenação de vários episódios, o acordo não cumprido dos
cristãos de trocar o corpo de seu oficial abatido pela bandeira moura dá início
a uma série de intensas lutas armadas. Foi quando São Tiago apareceu e, junto
com o companheiro São Jorge, pediu a Deus para tornar o dia mais longo e ajudar
o povo de Cristo a vencer sucessivas batalhas.
Emoção
A última cena é uma das mais emocionantes: os dois
santos com as espadas cruzadas simbolizam a vitória. E assim se encerra mais
uma edição da mais tradicional manifestação cultural do Amapá. Tradição de
quase dois séculos e meio.
Para o público, a encenação é sempre linda e causa uma
grande emoção mesmo para quem já acompanha há bastante tempo. A aposentada Dalci
Cunha, 69, assiste a interpretação da luta há mais de dez anos, mas afirma que
cada ano é diferente.
“Eu adoro acompanhar essa festa. Venho de Macapá só
para ver a batalha e, hoje, está muito mais organizada. A cidade está mais
bonita e tenho certeza que o espetáculo ainda mais emocionante”, enfatizou.
“Não imaginava que era uma festa tão linda e com tanta
riqueza cultural e religiosa. Ainda estou me perguntando como isso realmente
acontece em uma pequena cidade do interior do Amapá”. Essa foi a impressão da
professora Suane Rodrigues, que, pela primeira vez, participou da festa.
Para que tudo ocorresse conforme o planejado, toda a
estrutura do Governo do Amapá esteve envolvida na festa.
Serviços
Os empreendedores aproveitaram o grande fluxo de
pessoas para faturar. Espaços de venda de alimentos, bebidas, artesanato,
bijuterias, roupas e acessórios atenderam o público presente no município. O
artesão Orivaldo Brito disse estar satisfeito. O motivo foi a venda de peças em
madeira utilizadas para comer caranguejo, chamadas de “toc-toc”. Desde o início
dos festejos, ele vendeu mais de 20 peças.
A praça de alimentação foi outro ambiente bastante
frequentado. No total, 27 vendedores de comidas típicas, salgados, bebidas,
doces e outros produtos ofereceram aos visitantes a diversidade culinária da
nossa região. Uma grande tenda foi montada para abrigar este público em
barracas padronizadas.
Os colaboradores da Agência de Fomento do Amapá (Afap)
realizaram uma ação de recolhimento do lixo e separação de todo o material
reciclável usado pelos fiéis durante a peregrinação. Na área da saúde, 25
profissionais deram suporte em plantões de 24 horas na Unidade Básica de Saúde
(UBS) de Mazagão Velho e na Unidade Mista de Saúde (UMS) na sede do município
Mazagão. No total, foram contabilizados mais de 450 atendimentos durante a
festividade, sendo que nenhum foi grave.
Avaliação
Para a equipe de governo, a organização da festa para
o próximo ano deve começar ainda em 2017, visando o grande fluxo de visitantes
este ano e o crescente público nos anos seguintes. “A Festa de São Tiago é um
dos principais eventos do calendário cultural do Amapá. Com toda a estrutura
pronta, a tendência é que esse público cresça a cada ano. E precisamos estar
preparados para isso”, concluiu o secretário Alcyr Matos, das Cidades.
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