domingo, 30 de julho de 2017

ESPECIAL

Festa de São Tiago: a tradição secular que gerou desenvolvimento municipal



Como uma festividade religiosa incrementou o crescimento de uma das primeiras cidades criadas no Estado do Amapá




Janderson Cantanhedo


Nem bem o sol raiou, o arauto já percorria as ruas de bloquete da bucólica cidade de Mazagão Velho (distante 63 quilômetros de Macapá) convidando a população para o círio que logo mais iria percorrer as principais ruas do município, como parte da rica programação religiosa e cultural da Festa de São Tiago.
As cinquenta mil pessoas que compareceram à histórica cidade puderam ver de perto um dos mais ricos teatros encenados a céu aberto do país. Toda essa tradição, que completou 240 anos, remonta ao século 18, explicando a expansão portuguesa no “novo continente” e o surgimento de um dos primeiros municípios do Amapá.

A valorização da população e da Vila de Mazagão Velho vem de longa data. Pensando em resgatar as origens do povo amapaense e fazer da vila rota de turismo, o governador Waldez Góes investiu em pesquisas arqueológicas, recuperação da cidade e infraestrutura, com pavimentação com bloquetes, para deixar o local ainda mais agradável. E tudo isso hoje é uma realidade.
O trecho de 27 quilômetros da Rodovia AP-010, que liga o município de Mazagão à Vila de Mazagão Velho está totalmente pavimentado e sinalizado. O serviço faz parte do Plano Rodoviário Estadual, e custou mais de R$ 50,7 milhões. A empresa CR Almeida, responsável pela obra, levou pouco mais de um ano para concluir as etapas de drenagem, terraplanagem, asfalto e sinalização.
A obra foi pensada de forma estratégica para o desenvolvimento econômico, social e turístico da região com a festividade de São Tiago. "A pavimentação também valoriza a cultura em Mazagão. Ela foi planejada há dez anos pelo nosso governo, mas não foi dado o prosseguimento aos trabalhos na gestão passada. Ela é importante para interligar o município aos centros urbanos ", citou Waldez.
No sentido estratégico, a rodovia é uma via dorsal que permite uma nova conexão com o trecho sul da BR-156. No município, também foram executadas obras de mobilidade urbana no valor de R$ 17 milhões. Ao todo, foram 14 quilômetros de asfalto na área urbana e mais 11 quilômetros de pavimentação com bloquetes não somente no município, mas também nos distritos do Carvão e Maracá.

Integração

Com o município pavimentado e a rodovia toda asfaltada e sinalizada, era hora de concluir a Ponte da Integração, para aposentar de vez as balsas que faziam a travessia de pedestres e veículos no Rio Matapi. Esse sonho se tornou realidade em dezembro de 2016, fruto do empenho político do governador Waldez.
Na região, o comércio que antes era tímido, logo foi aquecido com a inauguração da ponte. Além de aquecer as vendas e movimentar a economia no comércio local, a estrutura trouxe desenvolvimento e uma maior variedade de produtos nas prateleiras. Novidades que podem ser conferidas no Comercial Ceará. A funcionária Nilda Pereira, conta que antes os caminhões das distribuidoras não faziam entrega em Mazagão, então, eles tinham que vim até Macapá fazer as compras, e aí só levavam o básico. Hoje as prateleiras possuem variedade de produtos, oferecendo aos clientes mais opções.
No turismo, a ponte promoveu o município de Mazagão com foco na Festa de São Tiago, maior evento religioso do município e um dos mais importantes no calendário cultural amapaense.
Mas, há também quem vá para o município aos fins de semana, seja para contemplar a beleza que a Ponte proporciona, como também visitar os diversos balneários que oferecem ambientes agradáveis e uma comidinha regional de dar água na boca.
Um passeio por Mazagão Novo e Mazagão Velho também é inesquecível, cidades que oferecem história, pessoas acolhedoras e outras especificidades regionais.
No setor primário, a Ponte se tornou rota de escoamento da produção agrícola na região do município de Mazagão, onde vivem 171 produtores da agricultura familiar, em 26 comunidades.
A base da produção consiste no plantio da mandioca e derivados, milho, abóbora e polpa de frutas, entre outros. Em 2016, aproximadamente 135 toneladas de alimentos foram produzidas na região e escoadas para outras áreas do estado.
A Ponte também beneficia o setor industrial da região. No eixo metropolitano, estão localizadas 70 empresas que atuam neste segmento, além de garantir mais segurança e agilidade no transporte das mercadorias para a capital e outras regiões do Amapá.
Além do acesso principal, a obra também possui seis alças viárias que garantirão acesso direto para os empreendimentos localizados às margens do Rio Matapi.

Tradição
Com toda a estrutura pronta, foi a vez do amapaense atender ao chamado para ver de perto a secular festa mazaganense, que sempre atraiu um grande público, mas este ano teve todas as expectativas superadas. O motivo do sucesso de público foi creditado à inauguração da Ponte da Integração e à total pavimentação da rodovia que leva até a vila, na zona rural de Mazagão.
O feriado estadual de 25 de julho, Dia de São Tiago, marcou o ponto áureo dos 13 dias de programações culturais e religiosas, em Mazagão Velho.
Ainda antes da batalha houve vários acontecimentos encenados que antecederam a luta: a Entrega dos Presentes e o Baile de Máscaras, que acontecem um dia antes. Poucas horas antes do combate, há a celebração da missa campal e o círio, que este ano reuniram mais de dez mil pessoas.

Teatro a céu aberto
As encenações iniciaram-se por volta de meio-dia. O primeiro episódio é a passagem do Bobo Velho, espião mouro enviado ao acampamento cristão, que na história é descoberto e expulso a pedradas. Mas, na peça teatral de Mazagão Velho, só vale jogar bagaço de laranja.
Por outro lado, os cristãos enviam o Atalaia, um oficial cristão que tinha a missão de espionar e roubar a bandeira inimiga. Mas ele teve um destino diferente do Bobo Velho: acabou morto e decapitado pelo exército mouro, mas ainda conseguiu arremessar o estandarte do inimigo para os cristãos. A cena da morte do Atalaia é uma das mais importantes da encenação.
Após a passagem do Bobo Velho e a morte do Atalaia, começa então a encenação de vários episódios, o acordo não cumprido dos cristãos de trocar o corpo de seu oficial abatido pela bandeira moura dá início a uma série de intensas lutas armadas. Foi quando São Tiago apareceu e, junto com o companheiro São Jorge, pediu a Deus para tornar o dia mais longo e ajudar o povo de Cristo a vencer sucessivas batalhas.

Emoção
A última cena é uma das mais emocionantes: os dois santos com as espadas cruzadas simbolizam a vitória. E assim se encerra mais uma edição da mais tradicional manifestação cultural do Amapá. Tradição de quase dois séculos e meio.
Para o público, a encenação é sempre linda e causa uma grande emoção mesmo para quem já acompanha há bastante tempo. A aposentada Dalci Cunha, 69, assiste a interpretação da luta há mais de dez anos, mas afirma que cada ano é diferente.
“Eu adoro acompanhar essa festa. Venho de Macapá só para ver a batalha e, hoje, está muito mais organizada. A cidade está mais bonita e tenho certeza que o espetáculo ainda mais emocionante”, enfatizou.
“Não imaginava que era uma festa tão linda e com tanta riqueza cultural e religiosa. Ainda estou me perguntando como isso realmente acontece em uma pequena cidade do interior do Amapá”. Essa foi a impressão da professora Suane Rodrigues, que, pela primeira vez, participou da festa.
Para que tudo ocorresse conforme o planejado, toda a estrutura do Governo do Amapá esteve envolvida na festa.

Serviços
Os empreendedores aproveitaram o grande fluxo de pessoas para faturar. Espaços de venda de alimentos, bebidas, artesanato, bijuterias, roupas e acessórios atenderam o público presente no município. O artesão Orivaldo Brito disse estar satisfeito. O motivo foi a venda de peças em madeira utilizadas para comer caranguejo, chamadas de “toc-toc”. Desde o início dos festejos, ele vendeu mais de 20 peças.
A praça de alimentação foi outro ambiente bastante frequentado. No total, 27 vendedores de comidas típicas, salgados, bebidas, doces e outros produtos ofereceram aos visitantes a diversidade culinária da nossa região. Uma grande tenda foi montada para abrigar este público em barracas padronizadas.
Os colaboradores da Agência de Fomento do Amapá (Afap) realizaram uma ação de recolhimento do lixo e separação de todo o material reciclável usado pelos fiéis durante a peregrinação. Na área da saúde, 25 profissionais deram suporte em plantões de 24 horas na Unidade Básica de Saúde (UBS) de Mazagão Velho e na Unidade Mista de Saúde (UMS) na sede do município Mazagão. No total, foram contabilizados mais de 450 atendimentos durante a festividade, sendo que nenhum foi grave.

Avaliação

Para a equipe de governo, a organização da festa para o próximo ano deve começar ainda em 2017, visando o grande fluxo de visitantes este ano e o crescente público nos anos seguintes. “A Festa de São Tiago é um dos principais eventos do calendário cultural do Amapá. Com toda a estrutura pronta, a tendência é que esse público cresça a cada ano. E precisamos estar preparados para isso”, concluiu o secretário Alcyr Matos, das Cidades.

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