Tipos de atuação do
poder econômico no processo eleitoral brasileiro – I
O poder econômico não opera somente em uma frente, mas em várias e, muitas
vezes, concomitantemente, para garantir os resultados desejados.
Iremos refletir, a partir desta edição, na atuação do poder econômico sobre os
eleitores, os candidatos e os partidos. Esses três conjuntos formam o tripé que
é a sustentação do processo eleitoral. Por essa razão, que são os alvos vitais
para a desvirtuação do processo eleitoral.
1- Sobre os eleitores, iremos nos basear na leitura de Friedrich Müller, Quem
é o povo? tradução de Peter Naumann, São Paulo, Max Limonard,
1998, passim.
Para inferir como o poder econômico opera sobre os eleitores, vejamos como
surgiu e se desenvolveu a participação popular, como os Estados Modernos
assimilaram e por quê o poder econômico interessou-se em manipular a vontade
dos eleitores.
a) Surgimento da
participação popular: Não custa nada lembrar que não temos como precisar a
época em que se originou, no seio da humanidade, a prática da eleição, pois, é
consabido que sociedades de períodos remotos da história as praticavam.
Naquele tempo, como a escrita ainda não tinha se desenvolvido, ensina Nelson de
Sousa Sampaio que “o voto era forçosamente oral, quase sempre sob a forma de
aplausos, ou aclamação. A desaprovação manifestava-se, geralmente por meio de
murmuração” (In Paraná Eleitoral, cit., p. 7. Ver Miguel
Chudyk Lylyk, no texto “El problema de la participación”. In La
justicia electoral en la consolidación democrática, compil. Rafael Dendia,
Op. cit., p. 93-5).
Essa prática eletiva foi se desenvolvendo no decorrer dos tempos. Em 1200 a.
C., os gregos começaram a dar maior intensidade ao processo de votação
coletiva, nascendo no meio deste povo o que hoje temos por democracia.
Para se falar em Democracia, torna-se inevitável falar-se dos gregos, pois
foram eles os idealizadores desse instituto.
Diz Manoel Gonçalves Ferreira Filho que “De fato foi Atenas a inspiradora das
lições que sobre a democracia escreveram os mestres helênicos e os grandes
pensadores antigos...”. E continua: “O supremo poder na democracia ateniense
era atribuído a todos os cidadãos. Nisso estava o ponto-chave para a
qualificação de Atenas como uma democracia. Todo cidadão ateniense tinha o
direito de participar, usando da palavra e votando, na assembléia onde se
tomavam as decisões políticas fundamentais.” – sic - (Curso de Direito
Constitucional). Tinha-se, neste momento histórico, umamicrodemocracia,
em que todos aqueles considerados cidadãos, participavam das decisões a serem
tomadas.
No entanto, é sabido que os gregos excluíam algumas classes de pessoas desta
participação política, como os estrangeiros, as mulheres e os escravos,
tornando assim, sua democracia, não tão verdadeira como, a priori,
historicamente aparentou. Mas, é inquestionável a afirmação de que eles foram
os pais deste sistema político.
O tempo passou, a noção de democracia criada pelos gregos se perenizou e foi
assimilada pelo mundo afora. Entretanto, o contingente populacional de todas as
sociedades foi crescendo a tal ponto de se tornar inviável a implantação desse
sistema entre os povos.
Encontramos em José da Cunha Nogueira, Manual prático de direito
eleitoral, Rio de Janeiro: Forense, 1987, p. 6, o seguinte trecho sobre
democracia: “A Democracia é a mais delicada forma de organização política e
também a mais difícil de realizar, pois pressupõe cultura política e
estabilidade econômico-social.”
É ainda em Ferreira Filho que obtemos a informação de que nas Idades Antiga e
Média, a democracia tornou-se viável e aconselhável apenas aos “Estados de
exíguo território e pequeníssima população”, pois foi ficando difícil a todos
os cidadãos debater livremente as ideias e tomar decisões votando todos juntos.
Agora as populações eram maiores. O instituto popular grego ficou quase em desuso
até o final do século XVIII, quando o Estado moderno surgiu, passando a
existir, agora, uma macrodemocraciaque começava a exigir outras
formas de participação popular.
Ainda, nas Idades Antiga e Média, existiram eleições indiretas no âmbito religioso,
para a escolha de Papas e de membros da cúpula da Igreja, e no âmbito secular,
para a escolha de membros de alguns conselhos e assembleias e eleição de
magistrados. Continuaremos na próxima edição.
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