“Lembro
bem que quando construíram o hospital por volta de 1947, o pessoal comentava:
para que um hospital tão grande para tão pouca gente? E é esse mesmo hospital
que temos até hoje para atender não só a capital, mas todo o Estado.” - Maria
de Nazaré Prado Ribeiro (Viúva).
Inspetor Waldelor da Silva
Ribeiro - * 1928 - +1989 “in memoriam”
Hoje estaremos prestando uma
justa homenagem “in memoriam” ao pioneiro Waldelor de Silva Ribeiro, que era
inspetor da Guarda Territorial do então Território Federal do Amapá, e pai do
jornalista Édi Prado. O texto abaixo foi escrito pelo jornalista a pedido do
ilustre radialista João Lazaro, proprietário do blog
https://porta-retrato-ap.blogspot.com.br/
Waldelor de Silva Ribeiro
nasceu no dia 24 de junho de 1928, na localidade de São Miguel dos Macacos,
Afuá, município do Pará. Filho de Joaquina da Silva Ribeiro e Abel José
Ribeiro. Era uma espécie de faz tudo. Na época os meninos eram iniciados desde
cedo a aprender várias funções e ofícios, entre elas a de desenhista e pintor
de barcos.
Chegou ao Amapá no dia 23 de
novembro de 1949. O Território estava começando a se erguer. O primeiro
trabalho de Waldelor foi como pintor na Fortaleza de São José, enquanto
preparavam a documentação para entrar na Guarda Territorial, no tempo de Janary
Nunes, primeiro governador e desbravador. Morava lá mesmo na Fortaleza,
enquanto aprontava um barraco no Beco da Mucura, ao lado do centenário
monumento.
família Inspetor Waldelor da Silva Ribeiro sua viuva Maria de Nazaré Prado Ribeiro |
Ele prometera que no máximo em
um ano, levaria a mulher, Maria de Nazaré Prado Ribeiro, a mãe, já viúva e mais
dois irmãos para Macapá. E nas horas
vagas “abria letras” para pintar os nomes das embarcações.
Além de pintor e desenhista,
Waldelor possuía várias habilidades como carpinteiro, eletricista, barbeiro e
por ter uma caligrafia invejável, era chamado para redigir documentos oficiais,
cartazes, avisos e outros serviços burocráticos.
Em pouco tempo ingressou nas
fileiras da Guarda Territorial. E com o dinheiro ganho com os “biscates”,
cumpriu a promessa de levar bem antes a família para Macapá em 05 de março de
1950.
Meu pai, Waldelor Ribeiro, sobrinhos e meu filho, Felipe Gouvea, |
Com o desenvolvimento e a
chegada de veículos foi criada a Divisão de Trânsito (Ditran) e ele foi
indicado para fazer parte deste seleto grupo, responsável pela emissão da
Carteira de Motorista, fiscalização do trânsito na cidade e nos interiores dos
então cinco municípios: Macapá, Mazagão, Amapá, Calçoene e Oiapoque.
“Ser aprovado para tirar a
carteira nessa época, precisava ter domínio de dirigir nas vias, estradas e ter
amplo conhecimento de mecânica e das leis de trânsito”, relembram os motoristas
pioneiros.
“Os inspetores Waldelor, Queiroga, Dário Silva, o Peixeiro e outros
pioneiros, eram osso duro de roer e nessa época não havia corrupção e ai
daquele que tentasse. Era preso e ficava mais de ano sem o direito de fazer o
teste para tirar a habilitação”, contam os antigos motoristas.
Aposentou-se em 1984 e
faleceu, vítima de erro médico em 28 de novembro de 1989. O nome de Waldelor da
Silva Ribeiro está numa extensa lista de ex-Guardas Territoriais à espera para
serem homenageados com nome de uma via na cidade ou outro monumento. “Um homem íntegro. Nunca se envolveu em
escândalo. Viveu para a família e criou nove dos 10 filhos, porque um deles
morreu prematuramente, com menos de um ano de idade. Chegou a concluir o então
2º grau e formou quatro filhos com curso superior. O Edevaldo de Jesus Prado
Ribeiro, bacharel em direito e delegado de polícia; Elisabeth Maria Prado,
professora; Édi Prado, jornalista e Elinete das Dores Prado Ribeiro, secretária
executiva”, relembra a esposa, Maria de Nazaré Prado Ribeiro.
“A primeira casa ficava na
baixada da Mucura” (apelido de uma mulher, que mandava no pedaço, bem ao lado
da Fortaleza, que depois ficou conhecida como Elesbão. Era onde se abrigavam os
primeiros moradores vindos das Ilhas do Pará) “Lá funcionava um matadouro de
porco, mas eram também abatidos gado, caça e funcionava como atracadouro de
pescado”, relembra.
“Depois o prefeito mandou
ajeitar a área e nós tivemos que mudar para o Laguinho, que estava começando
com a chegada dos negros, que moravam na Favela e nas Praças Barão do Rio
Branco e Veiga Cabral. Por isso chamado de bairro moreno da cidade”, narra D.
Nazaré.
“O Delô (como era chamado
carinhosamente pela esposa), construiu ele mesmo a própria casa e mudamos para
a Rua Gal Rondon, 618, em 1955, onde moro até hoje. Eu já tinha o Edilson José,
Edvaldo de Jesus, Elisabete Maria e o Edevonildo Nazaré Prado Ribeiro, (o Édi Prado), ainda no colo. Depois vieram o
Ednelson (falecido), Edival, Elinete, Waldelor Filho, o Luizinho (também
falecido), Edna e Edinaldo Prado Ribeiro. O salário não era tanto, mas dava
para manter a família. A vida dos meninos se resumia à escola, igreja,
brincadeiras. Mas era tudo controlado. Não havia drogas, miseráveis, bandidagem
e a Guarda Territorial era respeitada. Havia hora para sair e chegar em casa.
Os filhos obedeciam aos pais. ”
Como era e como está - com 90 anos - católica
fervorosa, D. Nazaré acompanhou a construção da primeira capela de São Benedito
e lembra da paz que reinava na cidade. “Meus meninos, com outros da vizinhança,
jogavam bola na frente de casa. Carro quase não havia. O movimento começou com
a construção da hidrelétrica do Paredão. Eram tratores, máquinas pesadas e
caminhões que passavam diariamente levando equipamentos”, relata.
“A cidade cresceu de forma
desordenada. Não levaram a sério o planejamento. Cada prefeito, embora nomeado
pelo governador, fazia o que dava na telha. E hoje vivemos o drama em
decorrência disso,” vem recordando D. Nazaré Prado Ribeiro. Lembra ainda que “a
educação e a saúde eram prioridades do governo. Todo menino tinha que estar em
sala de aula e o governo dava uniforme, bota, material didático e os
professores eram exigentes,”.
“Lembro bem que quando
construíram o hospital por volta de 1947, o pessoal comentava: para que um
hospital tão grande para tão pouca gente? E é esse mesmo hospital que temos até
hoje para atender não só a capital, mas todo o Estado. ”
Waldelor era um dos inspetores
responsáveis para habilitar os motoristas e conceder Carteira Nacional de
Habilitação (CNH). Um produtor de hortaliças, gado, porco, galinhas e patos,
além de fornecedor de frutas para atender ao Mercado Central, passava
diariamente em frente à casa dele como trajeto de ida e volta. Um dia o dito
cidadão, se envolveu num acidente e foi constatado que não tinha a CNH. Ficou
impedido de dirigir enquanto não tirasse a carteira. E faltando uma semana para
realizar os testes, ele parou em frente à casa do inspetor e deixou uma carrada
contendo frutas, legumes, galinha, pato, porco. Um abastecimento para mais de
mês. Foi colocando tudo no pátio da casa e buzinou para anunciar o grande
presente. Como Waldelor não atendia ao chamado pela buzina, decidiu bater
palmas. E com um sorriso maior que o caminhão, disse que era um presente.
Desconfiado, Waldelor lembrou que aquele homem passava todos os dias pela
frente da casa dele e nunca havia se dado ao trabalho de um "bom dia"
e agora trazia presentes, às vésperas do teste para motorista?
E deu o prazo de cinco minutos
para o mesmo colocar tudo de volta no caminhão sob pena de receber ordem de
prisão. O vendedor tentou argumentar e Waldelor disse que agora só tinha quatro
minutos. Numa ação relâmpago, o citado senhor limpou o pátio.
De quebra foi advertido que
ficaria suspenso para realizar os testes durante um ano.
Era assim que funcionava o
serviço público. E Waldelor da Silva Ribeiro dizia que um homem sem moral e sem
caráter não honrava as calças que vestia.
Texto do jornalista Édi Prado
– filho do biografado – com depoimentos de antigos motoristas da cidade e da
viúva de Waldelor, professora Maria de Nazaré Prado Ribeiro, que, com idade avançada,
ainda mora em Macapá. Como já foi escrito há algum tempo, o mesmo foi
atualizado e adaptado ao blog, com a devida anuência do autor.
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